EUA: júri inocenta jovem que matou duas pessoas a tiros em protesto
Veredicto do julgamento de Kyle Rittenhouse, que alega legítima defesa, dividiu opiniões de cidadãos e políticos americanos
Internacional|Do R7
Um júri dos Estados Unidos absolveu o jovem americano Kyle Rittenhouse, nesta sexta-feira (19), da acusação de homicídio pela morte a tiros de dois homens, em um julgamento que destacou divisões sobre o direito às armas e provocou um debate feroz sobre os limites da autodefesa no país.
O júri considerou Rittenhouse, de 18 anos, inocente de todas as acusações: dois indiciamentos por homicídio, um por tentativa de homicídio de um terceiro homem e dois por pôr em risco a segurança durante protestos por justiça racial que foram marcados por atos de vandalismo em 25 de agosto de 2020, em Kenosha, no Wisconsin.
Rittenhouse chorou após o veredicto e desabou no chão antes de ser ajudado a voltar para sua cadeira.
Em meio a uma pesada presença de forças da segurança, várias dezenas de manifestantes ocuparam as escadas do lado de fora do tribunal após a leitura do veredicto, alguns carregando cartazes em apoio a Rittenhouse e outros expressando desapontamento.
"Estamos todos muito felizes com o fato de que Kyle pode viver sua vida como um homem livre e inocente, mas em toda esta situação não há vencedores, há duas pessoas que perderam a vida, e isso não será esquecido", disse David Hancock, porta-voz da família Rittenhouse, à Reuters.
Rittenhouse alvejou e matou Joseph Rosenbaum, de 36 anos, e Anthony Huber, de 26 anos, e disparou outra bala que arrancou um pedaço do braço de Gaige Grosskreutz, de 28 anos. Rittenhouse alegou autodefesa.
O veredicto foi celebrado pelos defensores do direito às armas, mas criticado por muitos do campo político de esquerda.
"Não faz sentido que nosso sistema de Justiça permita que um vigilante armado... saia livre", disse a bancada negra do Congresso em um comunicado.
Para chegar ao veredicto, após mais de três dias de deliberações, o júri ouviu narrativas conflitantes da defesa e da acusação, que ofereceram retratos muito diferentes das ações do adolescente na noite das mortes.
A defesa argumentou que Rittenhouse tinha sido repetidamente atacado e atirou com medo de perder a própria vida. Advogados disseram que ele é um adolescente de espírito cívico que estava em Kenosha para proteger a propriedade privada, após várias noites de agitação na cidade, depois que a polícia atirou em um homem negro chamado Jacob Blake, que ficou paralisado da cintura para baixo.
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A acusação retratou Rittenhouse como um jovem imprudente que provocou os encontros violentos e não mostrou remorso pelos homens que matou com um fuzil AR-15.
Transmitido ao vivo pela TV a cabo diariamente, o julgamento se desenrolou durante um período de polarização social e política nos Estados Unidos. O direito às armas é valorizado por muitos americanos e está consagrado na Constituição, apesar de o país enfrentar um alto índice de violência armada.
Rittenhouse, que em depoimento disse não ter tido escolha a não ser abrir fogo para se proteger, é visto como herói por alguns conservadores que defendem amplo direito às armas e consideram os disparos dele justificados. Muitos na esquerda veem Rittenhouse como a personificação de uma cultura de armas fora de controle no país.