Ilustração do desenho Tintim promete agitar mercado de arte com valor de até R$ 17 milhões
Obra feita com tinta da china mostra herói belga amarrado a poste e um chefe nativo com um dedo acusador e machado na outra mão
Internacional|Do R7, com AFP
O desenho original do cartunista belga Hergé (Georges Rémi) para a primeira página de Tintim na América, datado de 1942, será leiloado em Paris em fevereiro e poderá estabelecer um novo recorde.
O desenho a tinta da China mostra o herói belga amarrado a um poste e ao seu lado um chefe nativo que aponta para ele um dedo acusador enquanto segura um machado na outra mão.
Tintim na América é o terceiro volume das aventuras do jovem repórter e, há 80 anos, o desenho ilustra a capa do livrinho, um dos mais populares de toda a série. Antes dessa edição, Tintim viveu aventuras na União Soviética e no Congo.
Agora, o desenho original da capa — exposto nesta semana em Bruxelas, na Bélgica — será leiloado pela casa especializada Artcurial.
Posta à venda por um colecionador belga anônimo, a peça tem um valor estimado "entre 2,2 milhões e 3,2 milhões de euros" (entre US$ 2,3 milhões e US$ 3,4 milhões ou entre R$ 11,7 milhões e R$ 17,3 milhões), segundo a Artcurial, empresa especializada em leilões de peças em desenho.
Em janeiro de 2021, um recorde mundial havia sido quebrado com o projeto de ilustração de Hergé (tinta da china, guache e aquarela) para a capa original de outra aventura de Tintim, O lótus azul, datada de 1936 e vendida pelo equivalente a US$ 3,4 milhões (R$ 17,3 milhões).
Em 2016, um prato da aventura “Pisámos na Lua” foi vendido por 1,55 milhão de euros (R$ 8,5 milhões).
Estilo refinado
"Estamos falando de desenhos que pertencem à história da arte", disse Vinciane de Traux, diretora da Artcurial para a Bélgica, Holanda e Luxemburgo. "Hergé é, junto com [René] Magritte, a figura mais importante da arte belga", disse ele.
Desta vez, a peça central da venda marcada para 10 de fevereiro em Paris "é maior em tamanho e mais impressionante em sua composição" do que as peças leiloadas anteriormente, acrescentou.
Segundo Traux, o desenho é um exemplo perfeito do estilo refinado de Hergé, marcado por uma linha limpa, que foi popularizada por um grupo de designers belgas da mesma geração. O desenho está "totalmente documentado, autenticado", disse Traux.
O leilão do desenho de O Lótus Azul em 2021 enfureceu Nick Rodwell, o empresário britânico que zela pelo legado de Hergé e administra a marca Tintim. Rodwell é o segundo marido de Fanny Vlamynck, viúva e responsável universal pelo legado do ilustrador.
O famoso desenho do dragão negro sobre fundo vermelho foi vendido por membros da família Casterman, que alegaram que seu pai, Jean-Paul, o havia recebido de presente do próprio Hergé durante um encontro em família na década de 1930.
Jean-Paul Casterman — que se tornaria diretor de uma famosa editora — teria guardado o desenho por décadas em uma gaveta.
Essa versão, porém, foi fortemente contestada por Rodwell, que criticou a família Casterman por não devolver o desenho.
As relações, enfim, acabaram se acertando. Para Traux, todas as partes ficaram satisfeitas por ver que “o mercado está disposto a apoiar a avaliação de Tintim e a importância de Hergé”.