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Imagem de integração alemã pela seleção era 'conto de fadas'

Aposentadoria de Özil em meio a acusações de racismo mostra que integração de turcos à sociedade ainda é parcial, diz professor

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Foto com Erdogan causou dores de cabeça para Özil, que não joga mais pela Alemanha
Foto com Erdogan causou dores de cabeça para Özil, que não joga mais pela Alemanha Foto com Erdogan causou dores de cabeça para Özil, que não joga mais pela Alemanha

No último domingo, o meia Mesut Özil anunciou sua aposentadoria da seleção da Alemanha. Camisa 10 da equipe, eliminada na primeira fase da Copa da Rússia, ele alegou ser vítima de racismo por sua origem turca após uma foto sua com o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, desencadear uma onda de críticas.

Para o alemão Kai Michael Kenkel, professor de relações internacionais da PUC-RJ, o caso mostra que a imagem de uma sociedade alemã integrada e multicultural que se refletia em uma seleção com jogadores filhos de imigrantes, começou a ser desfeita.

"Se isso acontece com Özil, um jogador que tem dinheiro, sucesso e está em um dos maiores clubes do mundo, imagine como é para os mais de 3 milhões de turcos que vivem na Alemanha e não são milionários?", questiona Kenkel. "Talvez essa imagem de integração que a federação de futebol alemã tentou tanto criar não passe de um conto de fadas."

Questões históricas

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Segundo o professor, as primeiras levas de imigrantes de várias nacionalidades começaram a chegar à Alemanha nas décadas de 1950 e 60. Conforme o país começou a se recuperar da Segunda Guerra, milhões de trabalhadores foram convidados a ir para o país trabalhar em funções que os alemães não estavam mais dispostos a aceitar. 

"Primeiro foram italianos, portugueses, franceses, depois iugoslavos e finalmente os turcos. A ideia era que eles viessem, trabalhassem e voltassem para seus países. Não ocorreu a ninguém que eles eram seres humanos e iriam querer trazer suas famílias, construir vidas e ficar", afirma Kenkel.

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O grande entrave para a integração dos turcos é que a maioria deles é muçulmana, enquanto os originários de outros países europeus eram católicos e protestantes.

Legislação 

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A própria legislação alemã era desfavorável aos imigrantes. Até poucos anos atrás, filhos de imigrantes que nasciam na Alemanha não tinham direito à nacionalidade do país, apenas à de origem.

"Com isso, descendentes de segunda ou terceira geração nasciam na Alemanha, cresciam e estudavam lá, mas não eram considerados alemães. Não tinham nem a chance de solicitar isso", conta o professor.

Segundo ele, isso é reflexo do passado da Alemanha. Como o país não tem um histórico colonialista, ao contrário da França, Inglaterra, Portugal, entre outros, não há um fluxo de imigrantes ao longo dos séculos. "O próprio conceito de dupla nacionalidade é muito estranho aos alemães", diz.

Imagem da seleção

O sucesso da seleção da Alemanha, com um time repleto de descendentes de imigrantes, a partir da Copa de 2010 e principalmente com o título em 2014, supostamente ajudaria em uma virada para uma sociedade mais inclusiva.

"Sempre foi importante ver jogadores com raízes de fora. Mas o problema é que o presidente da federação alemã (Reinhard Grindel), que quando era político sempre teve um discurso de não aceitar o multiculturalismo, decidiu levantar essa questão do Erdogan no caso de Özil", relata Kenkel.

Em maio, Özil apareceu junto com outro jogador de origem turca da Alemanha, Ilkay Gündogan, ao lado do presidente turco Tayyip Erdogan. Devido ao histórico autoritário do político, os dois foram condenados publicamente. 

Özil disse apenas que se encontrou com ele em respeito às origens turcas de sua família e ao cargo de presidente da Turquia.

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