Justiça americana condena traficante colombiano Otoniel a 45 anos de prisão
Otoniel foi líder supremo do Clã do Golfo, uma organização terrorista, paramilitar e de narcotráfico, entre 2012 e 2021
Internacional|Do R7
A Justiça dos Estados Unidos condenou, nesta terça-feira (8), o traficante de drogas colombiano Dairo Antonio Úsuga David, conhecido como "Otoniel", a 45 anos de prisão por cada uma das três acusações de tráfico de drogas das quais se declarou culpado, embora sejam cumpridas simultaneamente.
A juíza Dora Irizarry, do Tribunal do Distrito Leste de Nova York, no Brooklyn, o sentenciou à pena solicitada pelo Ministério Público alegando que este é "sem dúvidas, um dos casos mais graves em termos de atividade de tráfico de drogas" já julgados pelo tribunal.
Aquele que foi líder supremo do Clã do Golfo (CDG) de 2012 a 2021, uma organização terrorista, paramilitar e de narcotráfico acusada de ser "um dos maiores distribuidores de cocaína do mundo", reconheceu, em janeiro, ter enviado 96,8 toneladas de cocaína para os Estados Unidos pela América Central e México. No entanto, a juíza "acredita" que a quantidade real é muito superior.
Após a sentença, o promotor-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, disse em uma nota que "o Departamento de Justiça encontrará e responsabilizará os líderes das letais organizações narcotraficantes que causam danos ao povo americano, sem importar onde elas se encontrem e sem importar quanto tempo leve".
De pouco valeu para Otoniel, de barba e visivelmente mais magro do que quando chegou extraditado a Nova York em 4 de maio de 2022, pedir "desculpas ao governo dos Estados Unidos, da Colômbia e às vítimas dos crimes" que cometeu e fazer um apelo a favor do fim do conflito armado e de uma paz negociada em seu país, para abrandar a juíza, que disse, olhando-o nos olhos: "Duvido que se eles não o tivessem parado, ele teria colocado um fim no que estava fazendo".
A condenação inclui pagar 216 milhões de dólares (pouco mais de 1 bilhão de reais) em indenização. Também terá que ficar cinco anos em liberdade vigiada.
A condenação de Otoniel, de 51 anos, põe fim a uma era de poderosos traficantes que lideraram o tráfico de cocaína da Colômbia, produtora de 90% da cocaína que chega aos Estados Unidos.
Antes dele, sentaram no mesmo banco da corte do Brooklyn traficantes como o mexicano Joaquin "Chapo" Guzmán, condenado à prisão perpétua, e Daniel Rendón Herrera, que foi chefe de Úsuga e fundador do CDG, sentenciado a 35 anos de prisão.
Além disso, está previsto que em fevereiro se inicie o julgamento do ex-presidente de Honduras Juan Orlando Hernández, também por tráfico de drogas.
Durante seu "brutal reinado" como líder supremo do CDG, conhecido também como "Los Urabeños", Otoniel recorreu à violência para proteger os membros do clã - que chegaram a ser aproximadamente 6 mil -, silenciar as eventuais testemunhas e atacar as forças de segurança com a ajuda de um "exército de sicários" que "sequestravam, torturavam e matavam os concorrentes e aqueles que consideravam traidores da organização e suas famílias", segundo a Justiça americana.
O promotor Francisco Navarro disse que Otoniel é sem dúvidas "o terrorista mais perigoso da Colômbia deste século" e tão perigoso quanto Pablo Escobar, uma das lendas colombianas do tráfico de drogas.
"O acusado", disse Navarro, "não começou com a violência, mas a assumiu e a expandiu", disse.
Já da prisão nos Estados Unidos, após sua extradição, o traficante mostrou seu poder ao iniciar uma represália sangrenta em 11 dos 32 departamentos da Colômbia, na qual morreram cinco pessoas, entre elas dois policiais e um soldado, em ataques a delegacias, bloqueios de estradas e sabotagem do sistema de transporte público.
Após anos fugindo da prisão, Otoniel foi preso em 23 de outubro de 2021 na província de Antioquia, perto da fronteira com o Panamá. Três diferentes tribunais nos Estados Unidos estavam em seu encalço desde 2009.
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Quase analfabeto, o colombiano começou sua vida no crime como membro das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), uma organização paramilitar que os Estados Unidos incluíram na lista de organizações terroristas em 2001.
Segundo o DEA, a agência antidrogas americana, o CDG colaborou com os cartéis mexicanos de Sinaloa e Jalisco Nova Geração para introduzir a droga nos Estados Unidos.
A Justiça colombiana também o acusa de homicídio, terrorismo, recrutamento de menores, sequestro e crimes sexuais, entre outros delitos que cometeu quando foi guerrilheiro e paramilitar, antes de se converter no traficante mais procurado da Colômbia.
Nascido em uma família de agricultores do noroeste da Colômbia, Úsuga é acusado de abusar de meninas e adolescentes em suas áreas de influência.
Sua irmã Nini Johana Úsuga, conhecida como "La Negra", também foi extraditada para os Estados Unidos para responder por crimes de tráfico de drogas.