O que está por trás da viagem da filha de Kim Jong-un com o pai à China

A filha do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, identificada como Kim Ju-ae, acompanhou o pai na viagem à China para o desfile militar chinês, realizado na quarta-feira (3), que marcou os 80 anos da rendição formal do Japão na Segunda Guerra Mundial.

Essa foi a primeira vez que a jovem, de cerca de 13 anos, foi vista em público em uma viagem ao exterior. A visita marcou um momento histórico, em que Kim se reuniu com os presidentes Xi Jinping, da China, e Vladimir Putin, da Rússia.

A ida de Kim Ju-ae à China ao lado do pai intensificou especulações de que ela pode ser a próxima sucessora do regime norte-coreano, de acordo com analistas ouvidos pela imprensa ocidental.

“Este é um grande evento internacional e a primeira vez que se sabe que ela visitou um país estrangeiro, então temos que ver isso como uma indicação de que ela é uma das candidatas mais fortes para suceder seu pai, embora isso ainda não tenha sido decidido”, afirmou Ahn Yinhay, professora de relações internacionais na Universidade da Coreia, em Seul, à emissora alemã Deutsche Welle.

Kim Ju-ae, cuja identidade foi confirmada pela inteligência sul-coreana como a filha de Kim Jong-un e da ex-cantora Ri Sol-ju, teve sua primeira imagem divulgada em novembro de 2022.

Na ocasião, a imprensa estatal norte-coreana publicou uma foto dela ao lado do pai, inspecionando um míssil balístico antes de um teste. A aparição foi interpretada como uma tentativa de retratar Kim Jong-un como um líder familiar, mas também alimentou especulações sobre o papel da jovem no futuro do país.

Em agosto, a Agência Nacional de Inteligência da Coreia do Sul informou a parlamentares que considera Kim Ju-ae a candidata mais provável à sucessão. Foi a primeira vez que o órgão reconheceu formalmente o potencial dela como herdeira.

Apesar de Kim Jong-un, de 40 anos, não apresentar problemas de saúde confirmados, o aumento das aparições públicas da filha sugere que o regime já prepara o terreno para a sucessão.

Gestos de lealdade e ruptura com tradições

A presença de Ju-ae em eventos estratégicos, como testes de mísseis, paradas militares e visitas a instalações de defesa, tem chamado atenção.

Em um desfile militar em 2023, que marcou o 75º aniversário da fundação da Coreia do Norte, o marechal Pak Jong Chon, um dos oficiais mais poderosos do exército, foi visto ajoelhando-se diante dela.

“Pak representa o exército norte-coreano e basicamente prometeu publicamente sua lealdade a Ju Ae”, explicou Ahn Chan-il, pesquisador e desertor que dirige o Instituto Mundial de Estudos da Coreia do Norte, à agência de notícias France-Presse (AFP).

A imprensa estatal norte-coreana já a descreveu como “uma grande pessoa de orientação” e “filha respeitada”, termos honoríficos geralmente reservados aos líderes mais altos do regime, segundo a agência.

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