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O que se sabe sobre o sumiço de um jornalista saudita na Turquia

Se confirmada a possibilidade de Khashoggi ter sido morto no consulado saudita em Istambul, governo saudita corre o risco de perder aliados

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Policiais turcos em frente à casa do cônsul saudita
Policiais turcos em frente à casa do cônsul saudita

O desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi, de 59 anos, em Istambul, colocou a Arábia Saudita no centro de uma polêmica mundial. Desde o dia 2 outubro, após entrar no consulado saudita na cidade turca, ele não foi mais visto.

O caso ocorre justamente em um momento no qual a Arábia Saudita, sob o comando do príncipe herdeiro, Mohammad Bin Salman, 33 anos, no poder desde junho de 2017, buscava mostrar uma imagem mais aberta para o mundo.

Mas, se confirmada a forte possibilidade de Khashoggi, um opositor do governo, ter sido morto no consulado saudita em Istambul, onde entrou em busca de um documento, o governo saudita corre o risco de perder aliados.

E mostrar ao mundo que as aparentes mundanças não passam de um jogo de cena para esconder desmandos de um governo ainda extremamente autoritário.


Manifestações de jornalistas e ativistas exigem que o caso seja esclarecido e punição aos responsáveis. Conheça os detalhes sobre o misterioso sumiço do jornalista.

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O que o jornalista fazia em Istambul?


Khashoggi havia deixado a Arábia Saudita em 2017, também em junho, temendo ser preso pelo regime. Ele se exilou nos Estados Unidos, mas costumava ir a Istambul com sua noiva Hatice Cengiz, de origem turca, a mesma do jornalista.

Ele entrou no consulado saudita em Istambul, no último dia 2, para retirar um comprovante do seu divórcio e assim poder casar-se com Hatice, que o esperava do lado de fora. Não foi encontrado desde então.


Por que ele deixou a Arábia Saudita

Figura proeminente no país, Khashoggi, nascido em Medina, tinha opiniões contrárias ao regime saudita, do qual teve proximidade por muito tempo.

Muhammad Khashoggi, seu avô, turco, casou-se com uma saudita e exerceu a função de médico de Abdulaziz Al-Saud, o Ibn Saud, que fundou o Reino Saudita, uma monarquia islâmica, teocrática e de cunho familiar, em 1932.

Por que Khahashoggi poderia ser ameaça ao regime saudita

Ele era visto como um jornalista influente, tendo relações familiares com figuras polêmicas, como Adnan Khashoggi, comerciante de armas acusado de ser um importante elo no escândalo Irã-Contras (década de 80), de quem é sobrinho.

É também primo de Dodi Al-Fayed, empresário que namorava a princesa Diana, da Grã-Bretanha, e que morreu com ela em acidente de carro em 1997.

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Um tio de Khashoggi é o bilionário Mohamed Abdel Moneim Al-Fayed, egípcio, pai de Dodi e, até 2010, dono da rede de lojas Harrod´s, no Reino Unido.

Em 18 de setembro, segundo contou a agência Bloomberg, Khashoggi estreou sua coluna no The Washington Post, explicando no artigo o porquê de ter saído de seu país.

“Eu deixei minha casa, minha família e meu trabalho, e estou levantando minha voz. Fazer o contrário iria trair aqueles que definham na prisão. Eu posso falar quando tantos não podem. Quero que você saiba que a Arábia Saudita nem sempre foi como é agora. Nós sauditas merecemos algo melhor."

O que o regime poderia tentar esconder

Suas ligações, porém, não o impediram de ter opiniões contundentes a respeito do regime. A atual administração vem mostrando lentas aberturas, mas, por outro lado, deixou desconfianças por produzir uma onda de acusações (tidas muitas vezes como seletivas e arbitrárias) contra membros do governo, que foram demitidos e punidos severamente nos últimos meses.

Ele atuou em duas ocasiões como editor-chefe do jornal saudita Al-Watan, do qual foi demitido por causa de seu espírito crítico. Khashoggi escreveu artigos fortes criticando a participação da Arábia Saudita na guerra no Iêmen, iniciada em 2015.

O jornalista também parecia contrariado com a ambição militar do governo, que, nos últimos anos, disputa com o Irã o domínio da região, em um contexto que tem deixado todo o Golfo Pérsico em um clima de tensão.

Por que os Estados Unidos se envolveram no caso?

O fato de Khashoggi ter ido morar nos Estados Unidos e ter cidadania americana o vinculou definitivamente ao país.

Percebendo que poderia ter o mesmo destino de muitos prisioneiros, Khashoggi deixou o a Arábia Saudita em 2017 e se tornou colunista do The Washington Post.

Seu conhecimento da região é amplo, e ele se tornou uma espécie de consultor (não do governo) sobre temas ligados a terrorismo por ter conhecido e entrevistado Osama Bin Laden nos anos 80, para artigos sobre a invasão soviética no Afeganistão. 

Quais as repercussões de uma possível morte do jornalista?

Este momento de aproximação entre Estados Unidos e Arábia Saudita pode sofrer um baque, apesar de dificilmente ser interrompido.

Para os Estados Unidos não seria interessante, já que o governo saudita se tornou um importante comprador de armas, entre outros produtos.

Em 2016, por exemplo, foram vendidos, pelo governo americano ao saudita, US$ 1,15 bilhão (R$ 4,3 bilhões) em blindados, tanques, metralhadoras e munições.

O presidente Donald Trump se viu em uma situação delicada, já que um distanciamento com a Arábia Saudita neste momento favoreceria o Irã, que é visto como uma ameaça para Israel.

Neste sentido, ele abriu a possibilidade de que o jornalista tenha sido morto por um grupo de capangas. Mas, por outro lado, enviou o secretário de Estado, Mike Pompeo, a Riad, como uma demonstração de que deseja elucidar formalmente o caso.

Qual a posição da Turquia?

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan também tem buscado levar seu país ao protagonismo da região.

Neste sentido, a Arábia Saudita teria dado um passo em falso, caso tenha responsabilidade pela morte de Khashoggi, porque pode dar a oportunidade de os turcos, sempre em meio a um pêndulo na região, dividirem com o Irã a rivalidade com o país saudita.

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