ONU expulsa Irã da Comissão de Mulheres em resposta à repressão
Membros do Comitê Econômico e Social aprovaram a medida com 29 votos a favor, oito contra e 16 abstenções
Internacional|Do R7
O Irã foi expulso nesta quarta-feira (14) da Comissão sobre a Situação das Mulheres da ONU, o principal organismo sobre gênero da organização, em resposta à repressão aos protestos desencadeados pela morte de uma jovem presa por usar o véu de forma inadequada.
Os membros do Comitê Econômico e Social das Nações Unidas aprovaram a medida, proposta pelos Estados Unidos, por 29 votos a favor, oito contra e 16 abstenções.
O Irã, que havia entrado neste ano na Comissão sobre a Situação das Mulheres com um mandato de quatro anos, ficará assim excluído desse fórum, formado por 45 países.
"A Comissão é o principal órgão da ONU para promover a igualdade de gênero e empoderar as mulheres. Não pode fazer seu importante trabalho se for minada por dentro. A presença do Irã neste momento é uma mancha feia na credibilidade da Comissão", disse a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, ao apresentar a resolução.
Os Estados Unidos já haviam anunciado no início de novembro a intenção de buscar a expulsão do Irã, e a iniciativa recebeu amplo apoio entre os países da União Europeia e outros aliados, como a Austrália, o Canadá e Israel.
Países latino-americanos que estão entre os 54 membros do Comitê Econômico e Social, como a Argentina, o Chile, a Colômbia, a Guatemala, o Panamá e o Peru, também votaram a favor, enquanto o México se absteve.
Outros países, pelo contrário, criticaram muito a iniciativa, como a Rússia, a China, a Nicarágua e a Bielorrússia, que votaram contra a proposta e acusaram Washington de agir por motivos políticos e usar dois pesos e duas medidas.
Durante a reunião desta quarta-feira, a Rússia solicitou que, antes da decisão, o Conselho Econômico e Social requeresse um parecer jurídico sobre a legalidade da medida. O pedido foi rejeitado em votação porque Moscou não o apresentou por escrito com pelo menos 24 horas de antecedência, conforme estabelecem as normas.
O embaixador iraniano na ONU, Amir Saeid Jalil Iravani, descreveu a decisão de expulsar o país da Comissão como "ilegal" e denunciou a falta de precedente a uma medida semelhante.
Além disso, Iravani declarou que a decisão é baseada em "denúncias sem fundamento e argumentos fabricados" e enfatizou que é resultado exclusivamente da "hostilidade" dos EUA em relação ao governo iraniano.
Em um comunicado, a Human Rights Watch considerou a expulsão do Irã como um passo à frente para que Teerã preste contas "por seu longo histórico de discriminação e crueldade contra mulheres e meninas".
No entanto, a ONG pediu à comunidade internacional uma pressão real sobre o governo iraniano para "acabar com sua campanha de violência" e que persiga os responsáveis por violações dos direitos humanos.
As revoltas no Irã começaram com a morte, em setembro, de Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos, presa pela Polícia da Moralidade por não ter usado o véu corretamente. Mas os protestos evoluíram, e agora os manifestantes pedem o fim da república islâmica fundada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini em 1979.
Durante as manifestações, pelo menos 2.000 pessoas foram acusadas de vários crimes e 11 delas, condenadas à morte.
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Até agora, o Irã enforcou dois prisioneiros de 23 anos por envolvimento nos protestos — um deles nesta semana, em uma execução pública na cidade de Mashad, onde ele foi pendurado no mastro mais alto de um guindaste.
Organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, denunciaram os julgamentos como "farsas", além de tê-los descrito como "injustos" e representações de "uma vingança".
Nos quase três meses de manifestações, mais de 400 pessoas morreram e pelo menos 15 mil foram detidas, segundo a ONG Iran Human Rights. A forte repressão policial tem provocado duras condenações internacionais e sanções dos países ocidentais.