Protestos na China: regime comunista enfrenta crise inédita
Governo de Xi Jinping vê esgotamento da política de 'Covid zero' e crescimento de manifestações pró-democracia pelo país
Internacional|Marco Antonio Araujo, do R7 e Marcio Zebini
Já há alguns dias, o jornalismo internacional vem noticiando um crescendo de atos públicos, com a participação de milhares de pessoas, questionando o regime de "socialismo com características chinesas" de Xi Jinping.
Sobre essa inquestionável onda de levantes e manifestações, não há como afirmar com certeza a que se destina, além de ser prontamente reprimida pelas forças policiais.
Indiscutível, é que algo inédito está em gestação na China — e que o aparato repressor desse Estado totalitário está se preparando para efetuar, a cada dia, mais prisões e, caso necessário, fazer uso de mais violência contra os insurgentes.
Imagens e vídeos mostraram estudantes de universidades de grandes centros chineses (como Nanquim e Pequim) segurando folhas de papel em branco. É um protesto silencioso, uma tática usada, em parte, para fugir da censura ou prisão. Essas folhas em branco não mostram nada, mas dizem muito. O recado está dado.
Desse caldo de insatisfação, certamente faz parte o esgotamento da política de "Covid zero" praticada pela China, o único país relevante no mundo que ainda adota o fechamento radical de bairros e províncias inteiras.
A população está exausta, irritada, com essa insistência do governo em promover lockdowns. Na prática, o cidadão chinês percebe que esse sacrifício jogou a sociedade em uma evidente crise econômica.
Cidades que respondem por 21% do PIB chinês estão isoladas, estimou um relatório da consultoria Nomura divulgado há uma semana. A expectativa é que o número suba para 30% em breve. É grave.
A onda de protestos ganhou força depois que um incêndio matou dez moradores em Xinjiang. Muitos acreditam que as restrições impostas pela política de "Covid zero" dificultaram o esforço de resgate.
Xi Jinping enfrenta um paradoxo: embora tenha saído vencedor do recente Congresso do Partido Comunista Chinês, é sem precedentes a oposição política que tem de enfrentar.
De forma igualmente inédita, pessoas assumiram riscos imensos e foram às ruas e exibiram faixas em que pedem a renúncia do presidente e ditador. São movimentos pró-democracia espontâneos, imprevisíveis e sem volta.
Desde que Mao Tsé-tung liderou a revolução e chegou ao poder, em 1949, esse é um dos momentos mais delicados. Será o início da derrocada do regime comunista na China? O futuro é uma folha de papel em branco.