"Miserê", diz procurador que reclama de salário de R$ 24 mil
Leonardo Azeredo dos Santos pede ao chefe do Ministério Público que "use a criatividade" para aumentar salários; ouça gravação da reunião
Minas Gerais|Lucas Pavanelli, do R7
Um procurador de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais desabafou em uma reunião interna do órgão sobre o que ele chama de "baixos salários" dos membros do MP no Estado.
Durante a 5ª sessão extraordinária da Câmara de Procuradores, realizada no dia 12 de agosto, e que discutia o Orçamento do órgão para o próximo ano, o procurador Leonardo Azeredo dos Santos pediu para falar e reclamou dos salários de R$ 24 mil, diz que está diminuindo o gasto de R$ 20 mil mensais de cartão de crédito, e pediu ao Procurador-Geral de Justiça que utilizasse da sua "criatividade" para melhorar a situação financeira da categoria.
"Dentro da administração, não há nenhuma perspectiva, nenhum sonho da administração de incrementar qualquer tipo de vantagem que aumente a nossa remuneração? Ou plantão, ou qualquer coisa que aumente a remuneração?", cobrou o procurador, dirigindo a palavra ao Procurador-Geral de Justiça de Minas Gerais, Antônio Sérgio Tonet, que estava presente na reunião que discutia, justamente, o orçamento do órgão para o ano que vem.
O procurador segue com o desabafo, que dura mais de cinco minutos.
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— Como é que o cara vai viver com R$ 24 mil? O que é que nós vamos fazer para melhorar a nossa remuneração? Ou nós vamos ficar quietos? Eu não sei se eu vou
receber a mais, se vai ter algum recálculo dos atrasados que vai salvar a minha pele. Eu, de qualquer modo já estou baixando meu padrão de vida bruscamente."
O procurador também diz que acumulou patrimônio ao longo de 28 anos de carreira e que precisa mantê-lo. Ele cita os gastos de condomínio e IPTU, que dão R$ 4,5 mil mensais. "Eu, infelizmente, não tenho origem humilde. Eu não sou acostumado com tanta limitação. Talvez seja até mal visto", diz.
Ainda durante a reunião interna do MP, o procurador de Justiça Leonardo Azeredo dos Santos continua a cobrança por uma solução "criativa" de Tonet para aumentar a remuneração da categoria e chama de "miserê" o salário de R$ 24 mil.
Salários congelados
"Eu quero saber se nós vamos continuar, ano que vem, nessa situação, ou se vossa Excelência já planeja alguma coisa, dentro da sua criatividade para melhorar nossa situação. Ou se nós vamos ficar nesse miserê aí. E ainda sob ameaça de não termos aumento. De o Supremo aumentar nosso salário e nós não podermos receber. Quem é que vai querer ser promotor? Nós não vamos ter aumento mais. Porque o Estado vai dizer que nós não vamos ter aumento. Quem vai querer ser promotor? Para que concurso? Não vai ter mais concurso nenhum".
Nesta fala, o procurador se refere a uma negociação do Governo de Minas Gerais com a União que pode impactar no congelamento de salários dos servidores públicos no ano que vem. O Regime de Recuperação Fiscal, que a gestão do governador Romeu Zema (Novo) pretende aprovar também impactaria o MPMG, que ficaria impossibilitado de receber aumento durante os próximos anos.
Corte de gastos
Ainda durante o seu desabafo, o procurador de Justiça do MP de Minas diz que está fazendo sua parte para economizar e viver com os R$ 24 mil de salário.
"Estou deixando de gastar R$ 20 mil de cartão de crédito e estou gastando R$ 8 (mil) pra poder viver com meus R$ 24 mil. Agora, eu e vários outros estamos vivendo a base de cromprimidos, de antidepressivo", diz.
— Vamos virar pedinte, quase? Alguém vai chegar: que exagero o seu. Você não sabe o que é pedinte. Mas será que estou pedindo muito para um cargo que eu ocupo? Será que estou pedindo muito? Será que o meu cargo não merece uma remuneração que eu possa pagar o colégio dos meus filhos, por exemplo?
Eu só tenho um, mas e quem tem três? Vai viver com R$ 20 e poucos mil reais?"
Ouça o áudio do procurador Leonardo Azeredo dos Santos:
Outro lado
A reportagem procurou o MP para que pudesse comentar sobre as declarações do procurador Leonardo Azeredo dos Santos. Segundo o MP, a declaração foi de cunho pessoal, mas ressaltou que "não há nenhum projeto em andamento sobre a adoção de benefícios pecuniários para a carreira de membros (procuradores e promotores de Justiça) ou de servidores, em vista da grave crise financeira vivenciada pelo estado e da necessidade de observação da Lei de Responsabilidade Fiscal para gastos com pessoal".
O órgão ainda ressaltou que vem tomando "medidas de austeridade" para aumentar a eficiência administrativa e reduzir os gastos, principalmente com pessoal. "Esse conjunto de medidas tem se mostrado eficiente para manter o Ministério Público dentro do limite legal de 2% da Receita Corrente Líquida", diz o MP em nota.