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Tragédia de Mariana: MP pede extinção da Fundação Renova

Em ação levada à Justiça, MP critica falta de resolução dos problemas, ingerência de mineradoras e altos salários de diretores

Minas Gerais|Lucas Pavanelli, do R7

Rompimento de barragem da Samarco em Mariana destruiu distrito de Bento Rodrigues
Rompimento de barragem da Samarco em Mariana destruiu distrito de Bento Rodrigues

O Ministério Público de Minas Gerais pediu à Justiça a extinção da Fundação Renova. A entidade foi criada em 2016 para gerenciar e executar as medidas de reparação após o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, a cerca de 110 km de Belo Horizonte. A entidade é financiada pela mineradora Samarco e suas controladoras, Vale e BHP Billiton. 

Em uma Ação Civil Pública encaminhada ao Judiciário, o MPMG cita problemas de governança na entidade, desvio de finalidade e ineficiência para embasar o pedido. Os promotores ainda pedem que uma junta interventora seja nomeada para o Conselho Curador para ser responsável pela transição. 

Veja: Governo de MG cogita revisar contrato da Fundação Renova

Na ação, o órgão pede que as mineradoras Samarco, Vale e BHP sejam condenadas à reparação dos danos materiais causados durante o processo. O MP cita o desio de finalidade, que seria a reparação dos danos causados em Mariana, e a frustração dos programas que foram acordados no Termo de Ajustamento de Conduta que criou a Fundação Renova. As empresas também devem pagar R$ 10 bilhões em danos morais.


A Fundação Renova teve, nesta semana, sua prestação de contas rejeitada pela quarta vez consecutiva. O MP apontou que, além de não sanar as irregularidades identificadas anteriormente, os salários de diretores da Fundação são exorbitantes. Uma das diretoras apontadas pelo MP, por exemplo, aparecia duas vezes na folha de pagamento e teve rendimento de mais de R$ 1 milhão no ano. 

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Ingerência


Dentre os pontos levantados pelo Ministério Público estão a falta de independência da Fundação Renova para levar adiante o processo de reparação dos danos. Isso porque, como a entidade é financiada pelas mineradoras responsáveis pelo rompimento da barragem, é comum que diretores das empresas também façam parte da cúpula da Renova. 

"É como se fosse autorizado que os acusados no processo penal e nos processos coletivos em geral pudessem decidir e gerir os direitos e as garantias fundamentais das suas próprias vítimas”, diz trecho da ação. 


Outro lado

Em nota, a Fundação Renova afirmou que vai contestar o pedido de intervenção e que suas contas são verificadas por auditorias externas independentes que garantem a transparência no acompanhamento e fiscalização dos investimentos.

Leia a nota da Fundação Renova na íntegra:

A Fundação Renova discorda das alegações feitas pelo Ministério Público de Minas Gerais relacionadas às contas da instituição e informa que irá contestar nas instâncias cabíveis o pedido de intervenção proposto em Ação Civil Pública nesta quarta-feira (24).

Além das prestações de contas realizadas anualmente, a Fundação também encaminha ao MPMG as respectivas aprovações de suas contas feitas pelo Conselho Curador, pelo Conselho Fiscal e pela empresa independente responsável pela auditoria das demonstrações financeiras, conforme prevê a Cláusula 53 do TTAC.

As contas da Fundação Renova são ainda verificadas por auditorias externas independentes, que garantem transparência no acompanhamento e fiscalização dos investimentos realizados e dos resultados alcançados. As contas da Fundação foram aprovadas por essas auditorias.

A respeito do questionamento do MP relacionado ao superávit da Fundação Renova em 2019, é importante esclarecer que é recomendável que instituições do terceiro setor trabalhem com superávit, indicador de que o trabalho está sendo realizado de forma qualificada e técnica. No caso da Fundação Renova, o valor relativo ao superávit é reaplicado nas ações de reparação do ano seguinte.

Sobre a remuneração de seus executivos, a Fundação Renova esclarece que adota uma política de mercado, com valores compatíveis com as responsabilidades assumidas. Importante esclarecer que os valores aportados pelas mantenedoras para o custeio da fundação (salários e custos administrativos) não comprometem e não são contabilizados nos valores destinados à reparação e compensação dos danos causados pelo rompimento de Fundão.

Cabe ressaltar que a Fundação Renova é responsável pela mobilização para a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, cujo escopo engloba 42 programas que se desdobram nos projetos que estão sendo implementados nos 670 quilômetros de área impactada ao longo do rio Doce e afluentes e em ações de longo prazo. Cerca de R$ 11,8 bilhões foram desembolsados pela Fundação Renova até o momento, tendo sido pagos R$ 3,26 bilhões em indenizações e auxílios financeiros para 320 mil pessoas até janeiro deste ano.

A indenizações ganharam novo impulso com o Sistema Indenizatório Simplificado, implementado pela Fundação Renova a partir de decisão da 12ª Vara Federal em ações apresentadas por Comissões de Atingidos dos municípios impactados. Ele tem possibilitado o pagamento de indenização a categorias com dificuldade de comprovação de danos. O primeiro pagamento por meio do sistema foi realizado em setembro. Até o início de fevereiro de 2021, mais de 5 mil pessoas foram pagas pelo Sistema Indenizatório Simplificado. O valor ultrapassou R$ 450 milhões.

Reparação

A Fundação Renova permanece dedicada ao trabalho de reparação dos danos provocados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), propósito para o qual foi criada.

As obras dos reassentamentos têm previsão de desembolso de R$ 1 bilhão para 2021, um aumento de 14% em relação ao ano anterior. O valor refere-se a todas as modalidades de reassentamento, englobando as construções dos novos distritos de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira, e, também, a modalidade de reassentamento Familiar e a reconstrução de residências em comunidades rurais. O avanço da infraestrutura, priorizado dentro do plano estratégico de prevenção contra a Covid-19, permitirá a aceleração da construção das residências das famílias atingidas. Assim, os reassentamentos coletivos ganham desenhos de cidades planejadas.

A questão do prazo de entrega dos reassentamentos está sendo discutida em um Ação Civil Pública (ACP) em curso na Comarca de Mariana, tendo sido submetido recurso para análise em segunda instância (TJMG), o qual ainda aguarda apreciação e julgamento. Nesse contexto, foram expostos os protocolos sanitários aplicáveis em razão da Covid-19, que obrigaram a Fundação a desmobilizar parte do efetivo e a trabalhar com equipes reduzidas, o que provocou a necessidade de reprogramação das atividades.

A água do rio Doce pode ser consumida após passar por tratamento convencional em sistemas municipais de abastecimento. Além disso, foram recuperados 113 afluentes, pequenos rios que alimentam o alto rio Doce. Cerca de 888 nascentes estão com o processo de recuperação iniciado. Até o momento, as ações de restauração florestal alcançam mais de 1.000 hectares em Minas Gerais e no Espírito Santo, uma área equivalente a 1.000 campos de futebol.

Na área de saneamento, 9 municípios iniciaram obras para tratamento de esgoto e resíduos sólidos com recursos repassados pela Fundação Renova. Estão previstos R$ 600 milhões para projetos nos 39 municípios impactados.

Em 2020, a Fundação iniciou um repasse de R$ 830 milhões aos governos de Minas Gerais e do Espírito Santo e prefeituras da bacia do rio Doce, para investimentos em infraestrutura, saúde e educação. Esses recursos promoverão a reestruturação de mais de 150 quilômetros de estradas, de cerca de 900 escolas em 39 municípios e do Hospital Regional de Governador Valadares (MG), além de possibilitar a implantação do Distrito Industrial de Rio Doce (MG).

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