Parece, mas não é! Sindicatos pressionam governo para mudança na legislação trabalhista
Líderes empresariais acreditam que o problema está nas leis aprovadas na Era Vargas
Heródoto Barbeiro|Do R7 e Heródoto Barbeiro
Sindicato é sinônimo de greve. As organizações sindicais no Brasil se fortalecem. Há uma evidente confrontação entre os empresários e os operários, principalmente no setor industrial. A organização dos trabalhadores é mais densa, com o desenvolvimento de setores que usam mão de obra intensiva.
Um deles é o automobilístico. Representantes do empresariado pressionam o Congresso para mudanças na legislação trabalhista, que classificam de ultrapassada, pois não responde aos novos meios de produção em larga escala que se espalham pelo mundo. Mesmo nos países onde o movimento sindical é mais forte, como na Europa, as novas leis aprovadas derrubam alguns direitos trabalhistas que vêm do século passado.
Em vez de confrontos, muitos deles violentos, com repressão policial e morte, os novos tempos sugerem uma negociação em que tanto empresas como empregados possam sobreviver na economia capitalista. Essa, por sua vez, se desenvolve com a aplicação de recursos no mercado financeiro e a exportação de capitais para onde serão mais bem remunerados. Em outras palavras, darão mais lucro.
No Brasil, a maior parte das leis trabalhistas é herdeira do período da ditadura de Vargas. Os direitos básicos são assegurados pelo Estado. Os sindicatos são manipulados para que não ultrapassem a linha de reivindicação que o empresariado considera prejudicial para os seus negócios. O mercado consumidor está em crescimento, com o processo de ajuntamento da população brasileira nos centros urbanos. Especialmente no Sudeste, que sedia novas indústrias de bens de capital e de consumo.
O governo segue os passos do movimento sindical, que assume atitude mais aguerrida em busca de melhores condições de trabalho e salário. O objetivo é que todos os trabalhadores tenham a carteira de trabalho assinada e recolhidos os encargos sociais, como o da Previdência Social. Contudo, o governo faz vista grossa às reivindicações, e os sindicatos são percebidos pela população como um braço complementar do Estado. Desenvolvem ações, como assistência médica, jurídica, odontológica, e mantêm as colônias de férias, principalmente no litoral. Uma forma de garantir aos operários férias e passeios que sua condição econômica não consegue arcar. Ao lado da luta política e reivindicatória, há uma ação assistencialista.
Um dos entraves, segundo lideranças empresariais, é o que consideram a velha legislação getulista. Um deles é a estabilidade no emprego, que o empregado adquire ao completar dez anos de trabalho em uma mesma empresa. O trabalhador só pode ser demitido por justa causa e receber de indenização um mês para cada ano trabalhado.
É uma pedra no sapato das indústrias, que querem o direito de demitir e contratar de acordo com o resultado de suas contas. Muitos perdem o emprego quando chegam próximo aos dez anos, ainda que a Justiça do Trabalho, também herança do getulismo, reconheça estabilidade a quem tem mais de nove anos de emprego na mesma empresa.
O governo anuncia uma mudança na regra. Consegue aprovar, por decurso de prazo no Congresso, a lei que institui o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, o FGTS. Os sindicatos são contra, mas estão enfraquecidos. A lei diz que a adesão ao Fundo de Garantia é voluntária, mas, na prática, se o admitido não concordasse, não seria contratado.
Cada mês, a empresa é obrigada a depositar 8% do salário de cada trabalhador em uma conta na Caixa Econômica. Esse pecúlio só pode ser usado em casos excepcionais, como demissão, aposentadoria, doença grave etc. Os volumes arrecadados são destinados a obras de saneamento, habitação e infraestrutura. Em 1965, a estabilidade dá lugar à rotatividade de mão de obra.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.