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Transtorno bipolar é doença mental que mais causa mortes por suicídio

Dado é da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP); doença alterna períodos de euforia com depressão profunda e afeta 6 milhões de brasileiros

Saúde|Gabriela Lisbôa, do R7

Diagnóstico pode levar até 10 anos porque critérios são subjetivos
Diagnóstico pode levar até 10 anos porque critérios são subjetivos

Ter oscilações de humor é normal. Qualquer pessoa pode, um dia, acordar com o pé esquerdo, se sentindo irritada, capaz de explodir com a mínima coisa que não saia como planejado. O contrário também pode acontecer. A mesma pessoa pode, um dia, acordar extremamente feliz, eufórica, e, por isso, tomar decisões precipitadas.

O problema é quando esses dois quadros se revezam de forma constante, com oscilações de humor radicais, sem explicações aparentes.

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o transtorno bipolar afeta mais de 2% da população, algo entre 4 e 6 milhões de pessoas.

O transtorno bipolar é a doença mental que mais causa mortes por suicídio, segundo a ABP. Cerca de 15% dos pacientes tiram a própria vida.


O psiquiatra José Alberto Del Porto, professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, explica que essas oscilações constantes são a principal característica do transtorno bipolar, o que é diferente de um simples mau humor.

“A doença bipolar é cíclica, tem que ter um impacto sobre a funcionalidade da pessoa. Além disso, tem que ter a característica da recorrência, coisa que simplesmente um mau humor não explica, é algo mais grave. Você tem que atentar para o fato de que na doença bipolar existem fases de exaltação do humor, ainda que breves, 4 ou 5 dias, e períodos de depressão que duram mais. Se isso ocorre de forma consecutiva ao longo do tempo você tem que pensar em um quadro bipolar”.


Essa exaltação de humor também é chamada de período de mania. São dias nos quais a pessoa fica extremamente eufórica, com autoestima inflada, senso de grandiosidade. Também são comuns sintomas como redução da necessidade de sono, agitação motora, envolvimento com atividades de risco. Neste período, a pessoa bipolar também pode ficar mais falante, ao mesmo tempo que tem dificuldade de concluir os pensamentos.

“O paciente fica mais falante que o normal, ele tem o que se chama de pressão de ideias, pressão para falar, os pensamentos meio que se acotovelam. Ao mesmo tempo tem a fuga de ideias, um pensamento emenda com outro e com outro e com outros, o paciente pode falar sobre vários assuntos com nexos apenas circunstanciais entre o assunto A e o assunto B”, explica Del Porto.


Suicídio é risco durante episódios depressivos

Esses episódios de euforia se intercalam com momentos de depressão. Esses períodos costumam ser mais longos do que a euforia e podem durar meses. Os sintomas mais comuns são sono excessivo, tristeza profunda, apatia, fadiga, ganho de peso, baixa autoestima e episódios de delírio.

"Delírios são crenças falsas, arraigadas, irremovíveis pela argumentação. Por exemplo, um delírio tipicamente depressivo é o delírio de ruína, a pessoa julga estar com câncer, ou julga estar na pobreza, ou julga ser um pecador”, explica.

O psiquiatra faz um alerta: durante esses episódios depressivos, as tentativas de suicídio entre pacientes que não estão em tratamento são comuns. Ele destaca os números de um estudo desenvolvido no Canadá que aponta que o risco de suicídio entre pacientes bipolares é até 40 vezes maior.

Diagnóstico é um desafio

O diagnóstico é um dos grandes desafios dos profissionais que trabalham com transtorno bipolar. Não existe um exame que determine ou confirme a presença da doença. Isso é feito por critérios de exclusão.

São avaliadas questões como histórico familiar de suicídio, sintomas depressivos antes dos 25 anos, episódios atuais ou passados de depressão, episódios de alteração do humor. Também deve ser levada em conta a pessoa que não responde ao tratamento com antidepressivos.

Por serem critérios subjetivos, a busca pelo diagnóstico pode levar até 10 anos. A detecção precoce é fundamental para que se evite a progressão da doença.

Em média, a doença começa a se manifestar por volta dos 21 anos, mas os primeiros sintomas podem ocorrer até os 15 anos, que são alterações de humor e episódios de depressão.

“Quando a depressão se apresenta precocemente, na adolescência, nós temos que ficar atentos para a possibilidade de que se trate de um quadro bipolar, normalmente o primeiro quadro concreto de depressão acontece na adolescência e vem antes do primeiro sintoma de mania”, explica Del Porto.

O psiquiatra destaca a importância de se diferenciar a depressão bipolar da depressão unipolar, aquela depressão na qual o paciente não tem episódios de euforia, apenas episódios depressivos.

“Geralmente, a taxa de conversão de um paciente com depressão unipolar para bipolar é de 30%”.

De acordo com Del Porto, a depressão unipolar costuma ser tratada com antidepressivos, mas este tipo de medicamento pode potencializar os sintomas da depressão bipolar.

A depressão bipolar não tem cura, mas os sintomas podem ser controlados.

Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, existem quatro alternativas psicofarmacológicas que podem ser combinadas entre si, de acordo com a avaliação médica. São anticonvulsivantes, antipsicóticos típicos e atípicos e a eletroconvulsoterapia.

Nesta terça-feira (12), foi anunciada a chegada no Brasil de uma nova substância que pode ser usada para o tratamento da depressão bipolar, a lurasidona. Trata-se de um antipsicótico atípico que também pode ser usado para o tratamento da esquizofrenia em adultos.

A substância foi aprovada pela Anvisa no mês de outubro de 2017 e começa a ser vendida neste mês de junho.

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