Como a dark web invade seu email, rouba sua conta bancária e ainda pede resgate
Internet oculta é povoada por pedófilos, traficantes e neonazistas, mas também por dissidentes de regimes totalitários
Tecnologia e Ciência|Do R7
A prisão de criminosos que agiam na dark web, na última semana, nos Estados Unidos e no Brasil, lança alguma luz sobre a parte oculta da internet, um vasto mercado de armas, pedofilia, drogas e hacking de computadores, mas também um paraíso para opositores de sistemas totalitários.
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É possível navegar na dark web?
Nascida dos movimentos libertários, essa rede paralela tem como principal objetivo o anonimato. Seus sites e fóruns não são rastreados por mecanismos como Google ou Bing.
Na dark web não há mecanismos de pesquisa públicos. Você não pode digitar uma palavra aleatória para encontrar um nome.
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A estrutura conta com 110 mil portais ativos, número que se multiplicou nos últimos cinco anos. Por outro lado, a internet aberta, a web clara, registra 1,6 bilhão de sites.
"Mas estamos assistindo a uma massificação, pois há cinco anos eram apenas 10 mil sites ativos", explica Nicolas Hernández, chefe da Aleph Networks, empresa francesa que desenvolveu um dos poucos buscadores do mundo que funcionam no "dark teia”.
Aumento da pornografia infantil
A expansão da dark web se deve principalmente à pornografia infantil, sites que se dedicam à ela representam entre um terço e dois terços do total, estima Hernández.
“Também existem muitos sites de venda de drogas, que são muito ativos. Para venda de armas, havia uma dezena de sites há três anos, hoje são mais de 200”, explica.
Dados roubados também são um mercado significativo.
A Aleph Networks registra atualmente mais de 1,4 milhão de números de cartões ativos, bilhões de emails, com senha, e 12 milhões de carteiras bitcoin roubadas à venda.
Também é possível obter acesso a contas e programas do Facebook, ou do Twitter, para hackear contas do Gmail.
Máfia cibernética
A dark web hospeda um ambiente estruturado de organizações cibercriminosas.
Sites que vendem dados básicos para emails de phishing (fraude online) são oferecidos aos usuários, que os compram para invadir sistemas.
Também existem softwares de hacking prontos para uso, que são vendidos ou cedidos a troco de uma porcentagem dos lucros.
Na rede existem ainda ofertas de emprego, recrutamento de hackers freelancers e plataformas que postam pedidos de resgate, após violações de dados, e que divulgam uma parte da informação como um "teste".
Se a vítima não paga, os dados são colocados à venda.
As transações são pagas em criptomoedas ou, mais simples ainda, por meio de contas roubadas do PayPal.
Neonazistas e detratores dos Jogos Olímpicos
"Quanto mais o Estado pressiona, mais atores entram na dark web. Como no caso da pornografia infantil ou do Estado Islâmico" , explica Victor Raffour, CEO da Aleph Networks.
“Isso é o que está acontecendo atualmente com os ultraviolentos movimentos neonazistas de língua francesa, que se comunicam pela dark web. Vemos fóruns e comunidades que estão sendo tecidas”, comenta.
A dark web é ponto de encontro dos “hacktivistas”, ativistas que defendem ações violentas e ataques cibernéticos.
“Observamos discussões sobre planos de ataque aos Jogos Olímpicos de Paris, que atraem todo tipo de 'hacktivistas'. Falam de ataques a câmeras, roubo de dados de provedores. Estão se articulando”, afirma Hernández.
Ataque efêmero
A prisão de 288 narcotraficantes que agiam pela internet, feitas na terça-feira pela Interpol e pela Europol, provocou a queda de uma grande plataforma, o Monopoly Market.
“Mas seria necessário saber se são eles os administradores de sistema. Isso pode não interromper a atividade porque, em geral, os fundadores se protegem. É difícil reivindicar a vitória, principalmente se a plataforma for russa”, sustenta Hernández.
"Em quatro meses, as plataformas são reconstruídas. A dark web foi projetada para o anonimato. Se eles não cometem erros, é muito difícil identificá-los. Os Estados precisam estar cientes do que está nessa web oculta e lidar com isso, porque essa área está mais perigosa", diz ele.
No entanto, a dark web também é um espaço de liberdade. Denunciantes, dissidentes, jornalistas e todos aqueles que fogem da repressão de alguns Estados estão lá, protegidos pelo anonimato.