Faz uma década que a Renault investe em produtos mais "populares" para o Brasil. No lugar da linha europeia dos anos 90, trouxe o Logan, carro da romena Dacia. O sedã deu origem ao hatch Sandero, atual campeão de vendas da montadora por aqui. O Duster também nasceu do projeto, e vem sendo fundamental nos negócios. Agora, a marca volta a oferecer um produto europeu, o SUV compacto Captur.
Só que o Captur produzido em São José dos Pinhais (PR) é diferente. O design até antecipa a reestilização do europeu, produzido em Valladolid, na Espanha. Mas para por aí. Poucas peças, como faróis e tampa traseira, são iguais. O brasileiro tem carroceria maior, porque nasce do Duster — e não do novo Clio, como na Europa. O desenvolvimento foi local e faz parte dos R$ 500 milhões investidos até 2019.
Tal como a minivan Scénic, o utilitário chega para ser o carro família com um toque de personalidade e sofisticação. O objetivo é competir com os SUVs posicionados acima do Duster, nicho onde as vendas só crescem — mesmo com a crise. A categoria é dominada desde 2015 pela dupla Honda HR-V e Jeep Renegade, primeiro e segundo colocados. Quase todos têm preços que variam de R$ 75 mil a R$ 100 mil.
O utilitário está a caminho das lojas em duas configurações. As entregas começam em março. A versão Zen usa o novíssimo 1.6 SCe flex (até 120 cv) acoplado ao câmbio manual de cinco marchas, enquanto a de topo Intense traz o veterano conjunto formado pelo motor 2.0 16V flex (até 148 cv) e o câmbio automático de quatro marchas. O plano é vender em maior volume o modelo mais caro, o único que experimentamos.
Primeira volta
Visto de perto, o Captur logo chama a atenção pelas dimensões. É o maior SUV compacto — tem a maior altura em relação ao solo, os maiores ângulos (ataque e saída) e a posição de dirigir mais alta. O estilo segue o padrão atual da marca, com linhas bojudas e faróis conectados à grade, que traz o losango da Renault destacado no meio. O capô com dois vincos em diagonal confere robustez ainda maior.
Ambas as versões calçam rodas de liga leve aro 17 com pneus de perfil médio (215/60) e com baixa resistência à rolagem, para ajudar no consumo. Na versão Intense, o conjunto tem acabamento diamantado, o que realça o design, um dos trunfos do novo SUV paranaense. Para atrair compradores, o Captur aposta na beleza de suas linhas, incomparavelmente mais modernas que as do irmão Duster.
Por dentro, o ponto forte é evidentemente o espaço, sobretudo no porta-malas, que comporta até 437 litros, mesmo volume declarado no líder Honda HR-V. Mas ao vivo, o Renault parece maior, talvez por causa do enorme vão que facilita o acesso. Para os passageiros, a cabine é agradável e confortável, com espaço para cinco ocupantes. Todos contam com apoios de cabeça e cintos de três pontos.
Apesar de toda a pompa estética, o Captur pode desapontar um pouco quem espera encontrar acabamento chique. Mesmo na versão mais cara o modelo abusa do plástico rígido por dentro. Algumas peças inclusive têm texturas e aspecto no padrão do Duster. Mas há coisas bacanas. O painel pode, por exemplo, ter acabamento em duas cores, e os bancos são confortáveis e largos, com formato em concha.
Outros pontos positivos do Captur são o isolamento acústico e o recheio. A cabine é uma das mais silenciosas da categoria, e a lista de equipamentos traz muito conteúdo desde a versão de entrada. O SUV sai de fábrica sempre com airbags frontais e laterais, freios com ABS, controles de estabilidade e de tração e assistente de saída em rampas. Tem ainda Isofix para cadeirinhas infantis e luzes diurnas em LEDs.
O conteúdo é farto também na parte de conforto. O modelo tem ar-condicionado, direção eletro-hidráulica, chave presencial com partida do motor por botão, trio elétrico, comando do som na coluna de direção, alarme, retrovisores rebatíveis e controle de cruzeiro com limitador de velocidade. De opcional, a versão Zen 1.6 tem apenas a central Media NAV com câmera de ré, e a pintura bicolor "Biton".
Mas mesmo com uma das melhores relações custo/benefício do nicho, o Captur tem suas falhas. A principal delas é a mecânica do modelo mais caro. Na prática, o SUV acelera bem e entrega um rodar agradável na cidade. A transmissão automática de quatro marchas faz trocas suaves e rápidas, quase imperceptíveis no trânsito urbano. Mas a tecnologia está ultrapassada, é incapaz de dar maior agilidade e reduzir o consumo.
No primeiro contato com o SUV, aceleramos a versão Intense 2.0 pelo centro de São Paulo, e por trechos rodoviários no entorno da capital. O percurso não permitiu avaliar, por exemplo, o consumo de combustível. Nos poucos trechos em que pudemos acelerar, ficou a impressão de falta de maior agilidade nas acelerações e retomadas. Com este conjunto mecânico, o Captur anda bem, mas poderia ser melhor, sem dúvida.
Senti falta do ajuste de profundidade para o volante, algo que é padrão nos concorrentes. Encontrar a melhor posição de dirigir acaba sendo um pouco mais difícil. Também achei a posição dos bancos muito elevada, característica que deve atrair as mulheres. Mesmo ajustado na posição mais baixa, o motorista fica razoavelmente mais alto que o painel, o que acaba por melhorar a visibilidade.
Em conteúdo, o modelo fica devendo freio de estacionamento elétrico, alerta de ponto cego e start/stop, que desliga o motor em paradas curtas para economizar — os novos Logan e Sandero 1.6 SCe já trazem. Em vez disso, recebeu o modo Eco (até 2% de redução) e o sistema ESM, que recupera a energia gerada nas frenagens para alimentar o alternador, evitando que o componente "roube" potência do motor.
Na parte de entretenimento, o Captur mantém a central Media NAV, presente em toda a linha nacional. O equipamento recebeu ajustes, mas não traz grande evolução. Há porta USB, Bluetooth, GPS nativo e um treinador virtual que dá dicas de como dirigir de forma econômica. A tela de 7 polegadas é sensível ao toque e a navegação é das mais simples. Falta só as plataformas Apple CarPlay e Google Android Auto.
Neste primeiro contato, o Captur mostrou mais virtudes que equívocos. É o modelo que faltava na linha Renault. Algumas heranças do Duster podem desagradar, mas o conjunto é sólido, tem ótimo equilíbrio dinâmico e um design cheio de estilo. O custo/benefício e o espaço interno são os trunfos, e o erro é a mecânica da versão Intense. Mas, em agosto chega o câmbio CVT no motor 1.6 SCe.
Aí o SUV promete subir de nível.
FICHA TÉCNICA
Renault Captur Intense 2.0 flex AT4
Motor: 2.0 16V, comando simples, flex
Potência: 143 cv (G) e 148 cv (E) a 5.750 rpm
Torque: 20,2 kgfm (G) e 20,9 kgfm (E) a 4.000 rpm
Transmissão: Automática sequencial, quatro marchas
Direção: Assistência eletro-hidráulica; tração dianteira (4x2)
Suspensão: Dianteira independente McPherson, traseira por eixo de torção
Pneus e rodas: 215/60 R17
Freios: Discos ventilados na frente, tambores atrás
Peso: 1.352 kg
Dimensões: 4,33 metros (comprimento); 1,81 m (largura); 1,62 m (altura); 2,67 m (entre-eixos)
Capacidade do tanque de combustível: 50 litros
Capacidade do porta-malas: 337 litros
Preço completo: R$ 91.390
Aceleração 0-100 km/h — 11,1 segundos (E), 12 segundos (G)
Velocidade máxima — 179 km/h (E), 174 km/h (G)
Consumo urbano — 6,2 km/l (E); 8,8 km/l (G)
Consumo rodoviário — 7,3 km/l (E); 10,8 km/l (G)
PREÇOS E CONTEÚDOS
Renault Captur Zen 1.6 flex MT5 — R$ 78.900
Principais equipamentos: quatro airbags (frontais e laterais dianteiros), controle eletrônico de estabilidade (ESP), controle de tração (ASR), assistente de partida em rampas (HSA), freios com ABS, Isofix, direção eletro-hidráulica, volante com regulagem da altura, ar-condicionado, rodas de liga leve de 17 polegadas, vidros elétricos, alarme, chave-cartão presencial, comando de áudio e celular na coluna de direção, assento do condutor com regulagem de altura, luzes diurnas em LED, retrovisores rebatíveis, piloto automático com e limitador de velocidade.
Opcionais: Pintura Biton (R$ 1.400), central multimídia Media NAV + câmera de ré (R$ 1.990)
Renault Captur Intense 2.0 flex AT4 —R$ 89.490
Principais equipamentos: Pacote Zen + rodas aro 17 diamantadas, apoio de braço central, central Media NAV com câmera de ré, ar-condicionado automático, sensores de chuva e de luz, e farol de neblina com função Cornering Light (ilumina nas curvas).
Opcionais: Pintura Biton (R$ 1.400), forração em couro (R$ 1.500)