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Enfermeiras suecas criticam preconceito contra médicos estrangeiros no Brasil

Alguns sites pedem que médicos cubanos sejam trocados pelas enfermeiras suecas

Internacional|Wellington Calasans, especial para o R7, em Estocolmo

Enfermeiras em Estocolmo, Ulla (esq.) e Christina (dir.) criticam preconceito e sexismo de brasileiros
Enfermeiras em Estocolmo, Ulla (esq.) e Christina (dir.) criticam preconceito e sexismo de brasileiros

A crítica ao programa Mais Médicos, do governo federal, ganhou um tom de “brincadeira” na internet. Alguns sites estão reproduzindo um cartaz pedindo para que os médicos cubanos sejam substituídos por enfermeiras suecas. Em entrevista ao R7, duas enfermeiras que trabalham em Estocolmo, capital da Suécia, disseram que esses apelos mostram o preconceito e sexismo desses brasileiros.

Quando os primeiros médicos cubanos chegaram ao Brasil, em agosto passado, um grupo de doutores brasileiros vaiou e xingou os colegas estrangeiros no aeroporto de Fortaleza. Uma das principais polêmicas daquela semana ocorreu quando uma jornalista potiguar usou o Facebook para dizer que as doutoras tinham “cara de empregada doméstica”. Até a presidente Dilma Rousseff entrou na briga para defender as cubanas.

Para a enfermeira Ulla Innala, subchefe da maternidade do Hospital Huddinge, que pertence ao renomado Karolinska Institute, em Estocolmo, é incompreensível a agressividade contra os cubanos.

— Trabalhei pouco com médicos cubanos, mas eles têm uma formação de grande nível.


Ulla é obstetra, já trabalhou em Moçambique, Angola e Cabo Verde, visitou o Brasil algumas vezes e, por isso, fala português fluentemente. Segundo ela, a rejeição aos estrangeiros esconde interesses comerciais.

— Não entendo por que os brasileiros receberam mal os cubanos! Talvez porque o sistema de saúde [brasileiro] seja muito mais privatizado [se comparado com o da Suécia], e eles [os médicos brasileiros] tenham medo de perder “clientes”.


A enfermeira diz que a instituição onde trabalha na Suécia ficaria parada caso não houvesse médicos estrangeiros.

— Temos muitos profissionais de diferentes nacionalidades e todos são importantes. Sem os imigrantes, o hospital parava.


Suécia também dificulta trabalho de estrangeiros

Na Suécia dos últimos anos, a atuação de imigrantes em qualquer área que exija especialização tem sido cada vez mais dificultada pelo atual governo, de orientação conservadora. Ainda assim, não é difícil testemunhar o atendimento a um paciente estrangeiro, realizado por enfermeiro e médico também estrangeiros.

A enfermeira Christina Larsson, com especialização em saúde pública, trabalhou muitos anos em Moçambique, inclusive com médicos cubanos. Para ela, “a ética profissional deve ser aplicada onde quer que trabalhemos”.

— Desrespeitar um médico apenas pela sua nacionalidade é uma prática reprovável.

Ao ver um dos sites com a “brincadeira” sobre as enfermeiras suecas, Christina perdeu o humor.

— A visão sexista sobre as enfermeiras suecas sempre é desrespeitosa. Não importa se quem a pratica são os brasileiros ou profissionais de outras nacionalidades.

Sobre os mesmos cartazes, a enfermeira Ulla Innala minimiza a polêmica e acredita que seja “falta de informação [dos brasileiros] sobre as enfermeiras suecas”.

Uma enfermeira sueca tem, no mínimo, dois anos de formação e mais um ano de especialização. O salário inicial é de pouco mais de R$ 6.800 (25 mil coroas suecas), para uma carga horária de 40 horas semanais.

Após cinco anos desempenhando as atividades, os salários podem chegar a R$ 13,8 mil (40 mil coroas suecas) e, quando ocupam cargos de chefia, ultrapassam os R$ 15 mil.

Ulla e Chistina dizem não acreditar no “amor à profissão”, mas concordam que, para ser uma boa enfermeira, é preciso gostar de trabalhar com pessoas e ser dedicada ao que faz.

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