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Jovem enfrenta as tradições e luta para acabar com o casamento infantil no Maláui

No Maláui, 50% das meninas se casam antes dos 18 anos

Internacional|Do R7*

Memory Banda durante a Assembleia Geral da ONU
Memory Banda durante a Assembleia Geral da ONU

O Maláui, país localizado no sudeste da África, tem uma das maiores taxas de casamento precoce. De acordo com dados da ONU (Organização das Nações Unidas), o país é o 7º na lista mundial, pois metade das malauianas se casam até os 18 anos. Além disso, segundo a Unicef, 12% destas mulheres já estavam casadas aos 15.

O número de noivas jovens, porém, pode ser ainda mais alto. O registro de recém-nascidos não é prioridade no país e a maioria das pessoas não tem certidão de nascimento, o que faz com que o casamento infantil seja difícil de rastrear.

Memory Banda, hoje com 18 anos, é uma das meninas que conseguiram fugir dessas estatísticas.

Quando ela tinha apenas 13 anos, sua irmã, então com 11, ficou grávida e se casou. “Eu fiquei muito impressionada com aquilo e comecei a analisar o que acontecia nas nossas tradições e costumes”, ela conta.


— Isso foi uma espécie de chamada que me despertou, saber que não apenas minha irmã tinha caído nessa armadilha mas centenas e centenas de meninas também.

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Memory, então, começou a discutir questões femininas na sua comunidade. Aos poucos, mais adolescentes foram se interessando pelo assunto e se uniram a ela. Em 2011, o grupo tomou contato com o movimento chamado Rede de Empoderamento de Meninas (Genet, na sigla em inglês), que desenvolve uma campanha para acabar com o casamento infantil no Maláui.

O programa foi fundado pela Let Girls Lead, organização com sede na Califórnia (EUA) que busca promover os direitos das mulheres e o acesso à educação e à saúde em vários países do mundo.


Além de conscientizar as adolescentes sobre os seus próprios direitos e maneiras de atrasar o matrimônio e a vida sexual, o programa também tem como objetivo transformá-las em líderes, para que elas mesmas possam ser agentes das mudanças que querem ver em suas comunidades. Para Memory, que já estava envolvida em questões femininas, “a organização chegou na hora certa”.

A jovem ajudou a organizar a mobilização de garotas em sua comunidade e a influenciar os líderes locais a perceber pelo que as meninas estavam passando. “Eu queria fazer uma diferença na vida de cada menina”, diz Memory.

Para a adolescente, o maior desafio que precisou enfrentar até agora foi o descaso dos governantes com as questões femininas. Pouco a pouco, porém, suas vozes foram sendo amplificadas não apenas no nível comunitário, mas também nos mais altos.

— Quando as nossas questões passam a ser discutidas no nível nacional, então eu sei que elas também se transformaram em preocupação nacional.

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Memory acredita que o primeiro passo para garantir que todas as meninas sejam protegidas é implementar uma lei que regule efetivamente o casamento. Em novembro deste ano, será apresentado no Parlamento do Maláui um projeto de lei em que a idade legal para se casar seja de 18 anos, e não mais 15.

A adolescente quer, no futuro, trabalhar em cargos públicos de seu país e tomar a frente de questões com as quais se preocupa.

— Eu acredito que, se eu me tornar uma líder, posso mudar as coisas ao meu redor. Quero concorrer a uma posição no Parlamento.

Em setembro deste ano, Memory participou da Assembleia Geral das Nações Unidas, uma viagem que foi organizada pela Let Girls Lead. No evento, ela levantou as questões sobre o casamento infantil. No vídeo a seguir, é possível ver um trecho de seu discurso:

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A Let Girls Lead também apoia histórias parecidas em vários outros países da África e da América Central. Conheça as adolescentes que lutam por seus direitos e revolucionam comunidades no interior da Guatemala.

Denise Dunning, fundadora da Let Girls Lead, define que o foco do projeto é permitir que garotas façam mudanças em suas próprias vidas, famílias e comunidades:

— Meninas não são vítimas. Meninas são líderes e podem ser importantes agentes de mudanças. Quando investimos em adolescentes, elas podem ir muito além do que poderíamos imaginar.

Em muitos dos países em que a Let Girls Lead atua, não é raro ver a mesma história repetida por várias gerações: aos 12 anos, a jovem deixou a escola e já está casada. Ao se permitir que adolescentes terminem os estudos e atrasem o matrimônio, é possível quebrar o círculo da pobreza e, a longo prazo, mudar esta realidade.

Criada em 2009, a organização estima já ter impactado na vida de cerca de 3 milhões de adolescentes em todo o mundo.

* por Maria Cortez, estagiária do R7

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