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Saiba por que o livro Minha Luta, de Hitler, não deve ser comercializado

Não se trata de defender a censura, mas apontar os limites permitidos nas relações humanas

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Cercas de arame farpado de campo de concentração
Cercas de arame farpado de campo de concentração Cercas de arame farpado de campo de concentração

Assim como não devem ser permitidos publicações de livros sobre pedofilia, relatos orgulhosos de defensores da escravidão, textos discriminatórios contra negros e teses que rebaixam as mulheres e os homossexuais, o livro Mein Kampf (Minha Luta), de Hitler, deve ficar longe das prateleiras de livrarias, bancas de jornais e afins.

Entidades como a Conib (Confederação Israelita do Brasil) e a Fisesp (Federação Israelita do Estado de São Paulo), no início deste mês, voltaram a se manifestar neste sentindo, enviando representação criminal junto ao procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Gianpaolo Poggio Smanio, contra a comercialização do livro. Elas se basearam na decisão da 33ª Vara Criminal da Comarca do Rio de Janeiro, que não permite a circulação da obra.

Se o nazismo já foi um peso enorme que parte da humanidade carregou, comercializar livros que o justifiquem, por maior valor histórico que pareçam ter, é apenas minimizar aquilo que foi corretamente chamado de banalização do mal pela escritora judia alemã (ela não gostava de ser chamada de filósofa) Hannah Arendt (1906-1975).

A venda do livro clandestino, no qual Hitler se expõe, como vítima, em uma sequência de pensamentos antissemitas e racistas, continuaria banalizando o mal, encoberto na defesa da liberdade de expressão.

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O alerta que Arendt destacava como primordial, para não se repetirem as atrocidades do nazismo, é cada um cuidar de sua "normalidade", de seu lado horrendo que, enfeitiçado por uma atmosfera política, pode transformar as pessoas em massas de manobra coniventes com o ódio e, dessa forma, elas serem cúmplices de sua disseminação.

A liberdade de expressão de um termina quando começa a liberdade do outro. É a dignidade humana que, na legislação, vale mais do que propagandear o que se pensa sobre tudo, inclusive de fazer apologia ao crime e ao extermínio de um povo. Não cabe resenha a este tipo de livro, base de toda a filosofia nazista.

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A não divulgação de tal pensamento, tão presente durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), está longe de ser repressão. Uma coisa é um governo ditatorial - típico do nazismo, aliás - censurar as ideias e a expressão da sociedade, algo inaceitável. Outra é impedir alguém de lançar impropérios racistas e discriminatórios que buscam retirar o direito de existência do outro.

A censura da opinião, em sua essência, é uma ruptura que oprime o nobre direito de se expressar. A não permissão, como nesse caso, vem com a reflexão, o bom senso e a explicação a respeito de algo que, pelo caráter humanista que permeia a legislação, é nocivo para a sociedade.

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A divulgação da referida obra, além do mais, não passa de uma perigosa publicidade para essas ideias psicóticas contra as minorias. Judeus e negros são os mais ofendidos no texto, de estilo grotesco e superficial.

Uma democracia só está amadurecida quando existe a consciência de que a liberdade de expressão não deve se acomodar à ideia infantil de que nada tem limites. De que adianta a liberdade de expressão se não houver civilização?

Para perceber isso, basta se colocar no lugar de quem foi vítima e conviver, democraticamente, em uma sociedade de empatia e compreensão. A famosa frase "Não faça para os outros o que não queres que te façam" diz tudo.

Editoras vendem versões clandestinas de livro de Hitler na internet e em bancas de jornais

O lado do carrasco nesta história não trará novidade para o público, em uma época em que familiares e vítimas das brutalidades do regime que matou milhões de judeus, russos, eslavos, ciganos, pessoas com deficiência, homossexuais, entre outros, ainda se ressentem da dor.

Livro de Hitler pode influenciar novas gerações de nazistas?

O relato deles, os campos de concentração ainda erguidos, os documentos sobre o período, neste momento, são suficientes para se saber o que aconteceu. Há dados, por exemplo, que comprovam que, entre os seis milhões de judeus mortos em uma perseguição brutal, a população judaica na Polônia foi praticamente exterminada.

A verdadeira tolerância está na aceitação de que há limites para tudo. Esta, na minha visão, é a melhor maneira de se respeitar, na prática, os direitos humanos.

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