Delegado pede prisão de mais um policial envolvido na morte de Eliza Samudio
Zezé deve ter prisão determinada pela Justiça de Contagem (MG) na próxima semana
Minas Gerais|Amaury Ribeiro Jr, repórter especial do R7
As investigações da Corregedoria da Polícia Civil e da Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte apontam a participação de integrantes de um grupo de extermínio no assassinato da ex-amante do goleiro Bruno Eliza Samudio ocorrido no dia 10 junho de 2010, no município de Vespasiano, região metropolitana de Belo Horizonte.
Camuflados como integrantes do extinto GRE (Grupo de Resposta Especial), os policiais pistoleiros teriam matado, de acordo com fontes do R7, cerca de 50 pessoas nos últimos dez anos. A maioria das vítimas era composta por jovens que praticavam furtos em Esmeraldas e outras cidades próximas à capital mineira. A polícia suspeita que as mortes eram encomendadas por comerciantes da região. A exemplo do que ocorreu no crime de Samudio, os corpos da maioria dessas vítimas nunca foram encontrados.
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O grupo de pistoleiros de aluguel seria chefiado pelo policial aposentado José Lauriano Dias, o Zezé, que deve ter sua prisão decretada a partir da semana que vem pela Justiça de Contagem. O pedido de prisão de Zezé foi solicitado pelo chefe do departamento de Homicídios de Belo Horizonte, delegado Wagner Pinto, que o indiciou pelo assassinato e ocultação de cadáver da ex-amante de Bruno. Zezé e o subinspetor Gilson Costa, outro suspeito de integrar o grupo de extermínio, começaram a ser investigados em março de 2013 após o julgamento que condenou Bruno e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, pelo assassinato, sequestro e ocultação do cadáver de Eliza Samudio.
Ligações telefônicas
A abertura de uma nova frente de investigação foi solicitada pelo Ministério Público, que, ao obter a quebra de sigilo na Justiça, detectou várias ligações entre Zezé, Gilson e Bola durante toda a semana em que a ex-amante de Bruno foi assassinada. Foram constatadas ainda dezenas de ligações dos mesmos policiais para o ex-assesssor de Bruno, Luis Henrique Romão, o Macarrão, condenado a 15 anos de prisão pelos mesmos crimes.
As quebras de sigilo mostram, por exemplo, que Zezé e Bola, após trocarem ligações, teriam se encontrado na Lagoa do Nado, em Belo Horizonte, no dia do assassinato. Apesar dos indícios, o subinspetor Gilson deixou de ser indiciado pela polícia pelo assassinato de Eliza. “Ele apresentou um álibi perfeito. Conseguiu provar, com várias testemunhas e documentos que, no dia do crime de Eliza, estava em missão em Ituiutaba (MG), onde investigava um sequestro”, justificou ao R7 Wagner Pinto.
Gilson, no entanto, não conseguiu se livrar de um inquérito administrativo aberto pela Corregedoria da Polícia, que acaba de responsabilizá-lo pelo assassinato, tortura e sumiço dos corpos dos jovens Paulo César Ferreira e Marildo Dias, ocorridos em 2008 num sítio em Esmeraldas, alugado por Bola para reuniões e treinamento do GRE. A Corregedoria concluiu que, além de Gilson Costa, participaram dos assassinatos o próprio Bola e outros dois policiais, reconhecidos por uma testemunha ocular dos assassinatos.
Na casa do sítio de Bola, os policiais da Corregedoria encontraram uma foto das vítimas com o sinal da cruz ao lado de amigos. “Como somente as vítimas tinham o sinal da cruz, fica muito claro que foi um crime de encomenda”, afirmou o delegado Wagner Pinto. Os corpos dos dois jovens nunca foram encontrados.
Pimentel pode assinar demissão
A Corregedoria solicitou a demissão de Gilson e dos outros dois policiais. O pedido está nas mãos do governador Fernando Pimentel (PT), que nos próximos dias deve assinar o pedido de expulsão dos membros do esquadrão. O processo criminal tramita no Fórum de Contagem (MG), que ainda não marcou a data do julgamento de Gilson e de seus colegas.
A revelação do envolvimento de Bola no assassinato da ex-amante está ajudando a polícia nos esclarecimentos de vários outros crimes, que teriam sido praticados pelo grupo de extermínio. Ao ver a imagem Bola na televisão, uma testemunha, por exemplo o reconheceu como o autor dos disparos que assassinou o vigilante Rogério Martins Novelo em maio de 2000 no bairro São Francisco em Contagem.
De acordo com a testemunha, Bola teria ficado de tocaia antes de disparar vários tiros no vigilante, que estava dentro de um carro estacionado em frente a uma loja de comércio onde trabalhava. “Ficou provado que o Bola não conhecia a vítima, o que deixa bem claro que foi um crime de encomenda”, concluiu o promotor Henry Wagner Vasconcelos, que denunciou o ex policial pelo assassinato.
Em novembro de 2012, Bola foi absolvido por 4 a 3 em julgamento que durou três dias. Em maio do ano passado, o Tribunal de Justiça decidiu marcar um novo julgamento, sem data prevista, ao acatar o pedido do promotor. Segundo Henry, os jurados teriam sido intimidados por um vídeo, que mostra Bola manipulando armas pesadas, apresentado pelos advogados de defesa durante o julgamento. Ao justificar seu voto, a relatora do processo, desembargadora Beatriz Pinheiro Chaves, disse que a absolvição não condiz com as provas apresentadas nos autos do processo.
Outra morte
O surgimento de novas testemunhas levou Bola também a se tornar réu num processo em que é acusado de assassinar o motorista Devanir Claudiano Alves, no dia 27 de julho de 2009, em Ribeirão das Neves. De acordo com a promotoria, Claudinei teria sido abordado por Bola na porta de casa. Antes de executá-lo com vários tiros, Bola teria pedido a identidade do motorista para ter certeza que mataria a pessoa certa. De acordo com Henry Wagner Vasconcelos, Bola teria sido contratado pelo comerciante Antônio Oswaldo Bicalho, réu no mesmo processo. O comerciante é acusado de ter encomendado o crime ao concluir que sua mulher tinha um caso amoroso com o motorista.
Bola teve papel secundário
Embora tenha sido protagonista na maioria dos crimes, se comparado a Zezé, Bola teve um papel secundário no assassinato da ex-amante de Bruno. A quebra de sigilo evidencia que ele teria sido contratado para tramar todo o assassinato.
As ligações de Bola com Zezé são confirmadas pelo próprio Bruno, que nega ter conhecido Bola. Em um trecho de entrevista concedida exclusivamente à Record, até então inédito, Bruno confirmou que conheceu Zezé em uma das festas que promovia em seu sítio no município de Esmeralda. “Eu conheci o Zezé porque ele patrocinava um grupo de pagode, os Neguinhos, que tocava nas minhas festas”, afirma Bruno.
Na mesma gravação, Bruno descreve a aparência física do suposto assassino que coincide com os traços físicos de Zezé. De acordo com Bruno, os traços foram descritos por seu primo, Jorge Rosa Sales, ao relatar os detalhes do crime. “O meu primo me disse que, ao chegar com Macarrão e Bola numa casa muita escura, encontraram um cara negro, alto e forte com um falha no dente, que teria cortado as mãos de Eliza e que foram jogadas aos cachorros”, disse Bruno.
Zezé é considerado peça-chave no desaparecimento de Eliza Samudio: