Jovem fica quase cega por causa do diabetes: “Poderia pensar que minha vida tinha acabado, mas não desisti”
Luciana, 31 anos, descobriu diabetes aos 10 anos e desenvolveu edema macular diabético
Saúde|Vanessa Sulina, do R7
“Acordei de manhã e estava tudo embaçado”. Foi assim que Luciana Cristina Magini Martines, 31 anos de idade, de Votorantim, interior de São Paulo, descobriu que estava com EDM (edema macular diabético), há dez anos. A doença é a principal causa de cegueira em jovens adultos e meia-idade nos países desenvolvidos, e é uma das consequências do diabetes descontrolado.
— Ao acordar sem enxergar, fui diretamente para a emergência do hospital e, então, o médico pediu pra eu marcar uma consulta com o oftalmo. Então, no dia seguinte, descobri que sofria com EDM. Estava acostumada a ficar com a visão turva às vezes [ um dos sintomas do diabetes descontrolado]. E melhorava quando eu colocava óculos. Mas daquela vez não tinha óculos que melhorasse. O médico então me disse que se eu não mudasse meus hábitos, eu ficaria cega. Tinha glicemia descontrolada. Fui uma adolescente rebelde, se me mandavam não comer, eu comia [risos].
Luciana recebeu o diagnóstico de diabetes do tipo 1 aos 10 anos de idade. Desde então, levava uma vida tranquila, apesar de ter que lidar com algumas restrições que a doença impunha. Porém, após a EDM, ela enfrentou momentos difíceis. Cerca de 4% das pessoas com diabetes são afetadas pela doença.
— Apesar de iniciar um tratamento, ele não foi tão efetivo. Eu estava perdendo a visão. Não enxergava os degraus, não conseguia mais usar salto, fazer minha própria maquiagem. Na época, eu estudava medicina e acabei parando, porque tinha dias que não enxergava o microscópio, não dava nem para fazer as provas. O dia a dia muda completamente. Virei uma deficiente visual.
Diabetes: má alimentação e estilo de vida são vilões da doença
Sintomas da EDM
O EDM é uma das complicações do diabetes causado pelo aumento de açúcar no sangue, provocando alteração nos vasos sanguíneos de todo o corpo, incluindo vasos do olho, especificamente da parte posterior do olho chamada de retina e sua porção central (mácula).
No edema macular diabético existe um vazamento de fluído dentro da mácula, região central da retina que dá nitidez e foco às imagens. A presença desse fluído causa a perda severa de visão e pode levar à perda da visão central.
Os principais sintomas são manchas na visão, distorção de imagens, fotofobia, diminuição de contrastes e visão de cores, além de alterações no campo da visão, conforme explicou Sergio Pimentel, chefe do serviço de retina do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Tratamentos
Atualmente, há três tipos de tratamento para a doença: com corticoide, laser ou com uso de medicamentos antiangiogênicos, esse último o mais moderno e que dá bons resultados.
“Fiquei livre das injeções diárias de insulina”, diz jovem escritor com diabetes
Na época em que descobriu a doença e começou o tratamento, Luciana conta que tomava injeção intraocular a cada um mês e meio em ambos os olhos.
— Mas o tratamento não era tão efetivo. Ficava um mês e meio enxergando e, depois, meu olho embaçada de novo. Cheguei a ter apenas 5% da visão no olho direito. Nessa época, eu pensei: “Pronto, agora vou ficar cega”.
Há dois anos, ela começou a utilizar medicamento (antiogiogênico) diferente e está praticamente recuperada.
— Meu olho esquerdo está estabilizado. Estou há 10 meses sem tomar injeções. Já no direito eu sigo em tratamento, porém, tomo injeção a cada seis meses.
De acordo com o oftalmologista Arnaldo Furman Bordon, diretor do setor de Saúde Ocular da Sociedade Brasileira de Diabetes, sem o tratamento adequado, a doença pode resultar em perda total da visão, o que pode impactar nas atividades diárias do paciente.
— O diagnóstico precoce do EDM faz com que, em alguns casos, o paciente possa recuperar a visão. Resultado: a pessoa pode retomar suas atividades e voltar a ter produtividade.
Animada com a recuperação e por ter voltado a enxergar, a jovem agora se prepara para prestar vestibular e voltar à faculdade de medicina.
— Quando fiquei quase cega, poderia pensar que minha vida tinha acabado, mas eu não desisti. Sou briguenta. Brigo pelas coisas.