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Alta na projeção da inflação demonstra cenário de incertezas com política fiscal de Lula

Boletim Focus aponta expectativa da inflação em 5,48% em 2023; para especialistas, índice revela desconfiança do mercado 

Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília

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Em meio às incertezas quanto à política fiscal do novo governo, o mercado financeiro elevou as projeções da inflação para este ano. Pelo novo Boletim Focus, do Banco Central, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficaria em 5,48%, neste ano, sendo a sexta alta consecutiva na avaliação para 2023. Para especialistas, os índices revelam que as medidas econômicas anunciadas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não são suficientes para tranquilizar o mercado. 

A nova estimativa foi divulgada nesta segunda-feira (23) e traz uma previsão da inflação para este ano acima do teto da meta, que é de 3,25%, conforme definição do Conselho Monetário Nacional (CMN). A meta prevê uma tolerância de 1,5 ponto percentual para cima, sugerindo um limite superior de 4,75%, superior aos 5,48% projetados. 

Os números acima dos valores estipulados pelo CMN também se repetem na projeção para 2024. Enquanto a meta é de 3% — mas com intervalo de 1,5 ponto percentual —, o mercado estima inflação em 3,84%. Para 2025 e 2026, as previsões estão em 3,5% e 3,47%, respectivamente.

O economista César Bergo, professor de Mercado Financeiro da UnB, aponta que o novo levantamento revela o humor do mercado diante de um cenário de incertezas. "Não só a questão de perspectiva das contas públicas com um déficit na casa dos R$ 230 bilhões. O mercado enxerga que as medidas apontadas pelo governo não são suficientes para arrefecer o ânimo da inflação". 

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No último dia 12, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um pacote de medidas com objetivo de reduzir o déficit primário. As medidas passam desde uma tentativa em resolver conflitos tributários — com incentivo à denúncias ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e renegociação de dívidas com pequenas empresas e pessoas físicas — até aproveitamento de créditos do ICMS e revisão de desonerações de impostos, com foco no PIS/Cofins em cima de combustíveis.

"A pressão com relação aos impostos que podem retomar, a forte inflação sobre os alimentos, tudo isso impacta para esse cenário. São necessárias medidas. Hoje há muito discurso, mas, na prática, ainda não estão acontecendo os efeitos necessários para mudar a perspectiva de mercado", aponta Bergo. 

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Na avaliação do economista e analista de inflação André Braz, da FGV, a volatilidade deste ano está na política fiscal. "Mesmo com Haddad divulgando a estratégia para mitigar o impacto das despesas nas contas públicas, é necessário que ela seja factível de ser cumprida. Nesse ambiente temos, ainda, uma incerteza que ameaça a questão do câmbio", explica Braz, completando que o monitoramento das contas determina o grau de volatilidade da moeda. 

O novo governo estima conseguir reduzir o déficit das contas públicas para cerca de 1% do PIB, ficando entre R$ 90 e R$ 100 bilhões. A expectativa para a cotação do dólar está em R$ 5,28 para o final de 2023, de acordo com o Boletim Focus. 

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Braz destaca a necessidade de uma valorização cambial, que impacta diretamente na inflação. No setor alimentício, por exemplo, o Brasil é grande exportador e uma moeda desvalorizada barateia os produtos. "A gente pode aumentar a exportação, que é um desafio a mais para a inflação. À medida em que se exporta mais, o mercado brasileiro fica desabastecido e isso força o aumento de preço", explica. Ele ainda cita o impacto da moeda no preço dos combustíveis, já que o barril de petróleo segue a política de preço internacional. 

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Nesta quarta-feira (24), a Petrobras anunciou aumento de preço nas refinarias, o que irá refletir no preço das bombas. "Temos várias implicações para os combustíveis que, ficando mais caro, reflete na pressão inflacionária", completa Braz.

Para reverter esse quadro de projeções de alta inflacionária, o economista ressalta a necessidade de sentir que as medidas anunciadas pelo governo surtiram efeito. "Há muito o que mostrar. À medida em que os resultados forem aparecendo e, se eles forem positivos, isso pode ser mitigado ao longo dos próximos meses", pondera Braz. 

Em carta enviada ao Ministério da Fazenda justificando o descumprimento das metas de inflação estabelecidas pelo CMN, o Banco Central afirmou que os índices só ficarão dentro da meta a partir de 2024. 

Para o economista José Luis Oreiro, da UnB, seria necessário realizar uma flexibilização da meta de inflação por parte do CMN. "É uma estratégia realista. Para cumprir a meta de 3,5%, teria que jogar a Selic para 17%, o que é impossível". Uma meta capaz de ser cumprida " sem ter que produzir doses adicionais de elevação da Selic" seria de 4%, levando em consideração o intervalo percentual de 1,5 ponto.

O Banco Central definiu a Selic, taxa básica de juros, em 13,75% ao ano para cumprir com a meta. Essa é a maior taxa desde janeiro de 2017. O mercado financeiro prevê, no entanto, que a taxa fique em 12,5% ao fim do ano e siga caindo em 2024, em 9,5%.

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