Logo R7.com
Logo do PlayPlus
R7 Brasília

Do palmito ao fruto: projeto do PR incentiva uso do açaí juçara para conservar a mata atlântica

Iniciativa incentiva economia criativa com açaí para conservar o bioma ameaçado e gera renda para famílias locais

Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília

Gustavo Najar (de azul) compartilhou história dos sorvetes Içara

Presente em 17 estados brasileiros, a Mata Atlântica abriga cerca de 5.000 espécies de fauna e 20 mil de plantas e arbustos. Apesar de sua riqueza, é o bioma mais devastado do país, tendo perdido cerca de 70% da vegetação original. No Paraná, um projeto busca reduzir esses impactos, ensinando a comunidade local a usar o açaí juçara — diferente do uso comum do palmito da juçara, que exige a derrubada da planta.

À frente da iniciativa está Raphael Serafim da Luz, vice-presidente do Instituto Juçara, que atua no litoral paranaense. “O projeto começou em 2011, com um grupo de egressos do curso de agroecologia da UFPR. Agora, em 2023, formalizamos o Instituto Juçara de Agroecologia”, explica Raphael.

Leia mais

Raphael destaca que, ao longo dos anos, o grupo trabalhou para aprofundar o conhecimento sobre a juçara e mudar a relação da população com a planta. “Aqui no litoral, o consumo dos frutos, o açaí, ainda é pouco difundido. A preferência pelo palmito contribui para que a juçara seja considerada uma espécie em extinção”, lamenta.

Para estimular o consumo do açaí, o Instituto Juçara promove a Festa da Juçara, evento que incentiva a economia criativa ao reunir feirantes de várias regiões para vender seus produtos. “Também distribuímos o açaí gratuitamente para que mais pessoas possam experimentar e conhecer o fruto”, explica Raphael.


O Instituto Juçara também oferece cursos, em parceria com a empresa Portos do Paraná. No início do ano, membros da comunidade local aprenderam técnicas para extrair e utilizar o fruto, além de prepararem diversas receitas culinárias.

Curso é ministrado em várias ilhas do litoral do Paraná Claudio Neves/Portos do Paraná - arquivo

“A proposta do curso é ensinar a despolpa do açaí. Levamos o conhecimento para as comunidades e orientamos desde crianças até idosos sobre o uso do fruto da juçara. Mostramos as técnicas dos catadores que sobem nas palmeiras para colher o açaí, além dos processos de lavagem, esterilização, despolpagem e preparo de receitas”, detalha Raphael.


Nas oficinas, o grupo ensina como transformar o açaí juçara em pães, geleias, sorvetes artesanais e até molhos salgados. O Instituto também atua junto a comunidades indígenas.

“Levamos sementes e realizamos o plantio com as crianças. Uma das aldeias, inclusive, batizou uma área reflorestada como Trilha da Juçara. Durante a Festa da Juçara, fazemos questão de convidar essas comunidades para comercializar seus artesanatos”, conta Raphael.


Expandindo o sabor do açaí juçara

Os sócios Gustavo Najar, 35 anos, e Gabriel Souza, 34, também trabalham para popularizar o açaí juçara. Eles fundaram a empresa Içara, que produz sorvete artesanal feito com o fruto da juçara.

“O Içara nasceu no litoral do Paraná para valorizar a palmeira juçara de forma sustentável, sem precisar cortar o palmito. Em 2021, eu e Gabriel começamos esse projeto para transformar o fruto da juçara — parecido com o açaí da Amazônia, mas da Mata Atlântica — em um sorbet saudável de juçara com banana, feito na hora”, conta Najar.

Ele explica que o projeto nasceu da experiência dos dois na agroecologia e da busca por soluções econômicas que respeitassem o meio ambiente. “Ao usar o fruto em vez do palmito, conseguimos preservar a palmeira, gerar renda para a comunidade e ainda apoiar o reflorestamento, porque reaproveitamos as sementes para plantios e agroflorestas”, detalha.

Najar conta que a ideia do projeto nasceu da experiência deles na agroecologia e da busca por alternativas econômicas que respeitam o meio ambiente. “Ao usar o fruto em vez do palmito, mantemos a palmeira viva, geramos renda para a comunidade e ajudamos no reflorestamento, porque reaproveitamos as sementes para novos plantios e agroflorestas”, explica.

O maior desafio, segundo ele, é construir uma cadeia justa de produção e venda, que valorize os agricultores familiares e garanta a qualidade do sorbet. “Ainda existe uma mudança cultural acontecendo: muita gente vê a palmeira só como fonte de palmito, mas isso está mudando. Cada vez mais comunidades reconhecem o fruto como fonte de alimento e renda, sem precisar destruir a floresta”, celebra.

Bioeconomia - Mata Atlântica Luce Costa/Arte R7

Ele define a bioeconomia como o uso “inteligente e regenerativo dos recursos naturais, promovendo o desenvolvimento econômico com responsabilidade ambiental”.

Geleias artesanais e tradição familiar

Rosa Lucia da Silva, 67 anos, segue outro caminho com o açaí juçara. Moradora de Morretes (PR), ela conduz o projeto Tia Dirce Produtos Orgânicos. “Acredito que nosso açaí pode ser muito mais explorado. Não precisamos cortar nenhum pé de juçara; basta usar os frutos para ajudar a economia do litoral e de muitas pessoas”, afirma.

Para Rosa, o principal desafio é a falta de informação e divulgação sobre o açaí juçara. Ela usa o fruto principalmente para preparar geleia.

“Nunca tinha visto geleia de juçara, mas pensei: o açaí é tão gostoso, acho que dá para fazer uma geleia boa”, lembra. Após dois testes, ela encontrou a receita ideal. “Foi um desafio trabalhar com as frutas da Mata Atlântica. Gosto de usar ingredientes locais, muitos deles típicos do próprio bioma”, explica.

Além das geleias, Rosa produz compotas e doces, mantendo um legado familiar. “Meus pais deixaram esse trabalho. Sou professora aposentada e, após a aposentadoria, decidi continuar com esse legado”, conta.

Ela relata que seus pais, também moradores de Morretes, já praticavam agroecologia antes mesmo do termo existir. “Na década de 1970, eles já tinham abandonado o uso de qualquer produto sintético”, recorda.

Conheça outras histórias da série Bioeconomia Em Cada Bioma Brasileiro.

Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.