DPU está sem chefe desde janeiro, e servidores pressionam o governo por nomeação
Nome escolhido para ficar no cargo até 2024 foi barrado pela gestão do presidente Lula; defensores reclamam de desprestígio
Brasília|Augusto Fernandes, do R7, em Brasília
O governo federal tem adiado, desde janeiro, a definição de um nome para ocupar o cargo de defensor público-geral federal, o posto mais alto da Defensoria Pública da União (DPU).
A demora em indicar quem vai chefiar a instituição tem gerado desconforto entre os servidores do órgão, que cobram do Executivo uma solução rápida, para evitar prejuízos aos serviços fornecidos pela instituição.
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No fim de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nomeou Daniel Macedo, o então defensor público-geral federal, para um novo mandato de dois anos, mas a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) interferiu no processo e inviabilizou a recondução dele ao cargo.
Macedo tinha sido o mais votado de uma lista tríplice formulada pela Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Federais (Anadef), ficando à frente de Igor Roque e Leonardo Magalhães. O presidente da República é obrigado a respeitar a lista no momento de indicar o comandante da DPU, ao contrário do que acontece, por exemplo, na Procuradoria-Geral da República (PGR).
De todo modo, o nome de Macedo não agradou à equipe de Lula, que decidiu impedir uma nova posse dele à frente da DPU. Essa postura do governo faz parte de um processo conduzido pela equipe do presidente para evitar a presença na administração pública de pessoas que tenham trabalhado ao longo do mandato de Bolsonaro. Foi por causa disso, por exemplo, que Carlos Melles renunciou ao cargo de diretor-presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em março.
Macedo tem declarado que, durante a gestão dele como defensor público-geral federal, sempre agiu com ética e de forma transparente, sem privilegiar ninguém. Ele recebeu uma votação expressiva na eleição da lista tríplice, com o apoio de 507 defensores públicos federais.
Exigência de explicações
Diante do vácuo na chefia da DPU, a Anadef enviou ofícios à Casa Civil e à Secretaria de Relações Institucionais em que exige explicações para a demora do governo em definir quem será o novo defensor público-geral federal, mas ainda não teve respostas.
Presidente da associação, Eduardo Kassuga reclama da postura do Executivo, que revela um desprestígio à instituição e prejudica a assistência jurídica gratuita a pessoas em situação de vulnerabilidade.
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Além disso, Kassuga diz que a falta de um defensor público-geral federal impede a DPU de ampliar a sua presença ao redor do país — hoje, a instituição atua em 28,7% do território nacional — e atrapalha projetos do órgão em prol da defesa dos direitos de comunidades tradicionais, desde o atendimento de migrantes e refugiados e do combate à violência contra a mulher até o trabalho escravo, entre outros.
Quanto mais tempo demorar%2C mais tempo vamos ficar sem executar um projeto de instituição que a gente pretende%2C de defensoria pública para todos. Sentimos uma desconsideração em relação ao que é o acesso à Justiça. Existe muita preocupação com direitos sociais que estão positivados em lei%2C mas sem Justiça esses direitos não são efetivados.
"Quando se deixa acéfala a instituição que tem a missão constitucional de garantir essa situação, acaba que não há verdadeiramente um cumprimento da norma constitucional", acrescenta Eduardo Kassuga.
Chefe interino
No momento, a DPU é comandada de forma interina por Fernando Mauro Junior. Na avaliação de Kassuga, o órgão precisa de um chefe titular para que os projetos da instituição sejam tocados de forma segura.
"O fato é que quem está à frente de forma interina não pode tomar nenhuma decisão que dite o rumo da DPU para os próximos anos. O governo vai ter de decidir entre três nomes. Se o interino toma uma decisão que porventura não venha a ser compatível com um dos nomes que pode vir a ser indicado defensor-geral, acaba comprometendo recursos humanos e materiais para uma direção que a pessoa indicada pelo governo não iria tomar. Isso é muito sensível. Isso vai impactar na definição da nossa política institucional", frisa o presidente da Anadef.