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R7 Brasília

Lideranças pedem que Lula se retrate por fala que comparou Israel ao nazismo

Para eles, declaração do presidente foi inadequada e causa extrema indignação por relativizar o Holocausto; 'não é aceitável'

Brasília|Do R7, em Brasília

Lula foi criticado por fala sobre Israel
Lula foi criticado por fala sobre Israel Marcelo Camargo/Agência Brasil

Lideranças políticas do Brasil condenaram a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparando a ação militar israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto e pedem que o petista se retrate. A declaração do líder brasileiro já foi criticada pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pelo presidente do país, Isaac Herzog, e por diversas entidades. Na Câmara, um grupo de deputados anunciou que vai protocolar um pedido de impeachment alegando que a fala configura crime de responsabilidade.

A declaração de Lula foi feita em entrevista coletiva neste domingo (18), depois da participação do presidente na 37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, em Adis Adeba, capital da Etiópia. "O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler decidiu matar os judeus", disse.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, afirmou que uma retratação ao povo judeu é “o mínimo que se espera” do presidente. Em uma rede social, ele postou que não é aceitável cercear o direito de Israel de se defender neste conflito, que se reacendeu por um “ataque covarde do Hamas, uma célula terrorista”. O governador disse que relativizar o Holocausto é querer reescrever um dos capítulos mais terríveis da história mundial.

“Causa extrema indignação a desastrosa fala do presidente Lula, ao comparar o conflito na Faixa de Gaza ao Holocausto nazista. Trata-se de um desrespeito absoluto ao povo de Israel e mostra o quanto Lula está desconectado com a realidade do país e do mundo”, publicou em uma rede social.


Caiado prosseguiu afirmando ser preciso atuar pela paz e não acirrar ainda mais os ânimos na região e que o Brasil tem uma guerra sendo vencida pelas facções e pelo narcotráfico, “que traz medo, intranquilidade e causa graves prejuízos à economia”. “Passa da hora de Lula começar a olhar para dentro do Brasil.”

O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), classificou a declaração de Lula como “inadequada”. "Independentemente da consequência diplomática, isso obviamente vai depender do posicionamento da embaixada, do próprio embaixador de reafirmar ou não essas posições do presidente, fato é que uma declaração que se mostrou inadequada. Mais uma", declarou o deputado.


Deputado diz que fala de Lula foi 'inadequada'
Deputado diz que fala de Lula foi 'inadequada' Reprodução / Record TV

"Esperamos que no próximo pronunciamento Lula conserte esse equívoco", disse. O parlamentar afirmou que há consequências "já relevantes" da fala do presidente. Barbosa citou "repulsa" do povo israelense. "É uma fala desconexa com a realidade nossa e obviamente também não é o pensamento do parlamento."

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) chamou de vergonhosa a fala do presidente. "Comparar o Holocausto à reação militar de Israel aos ataques terroristas que sofreu é vergonhoso. O Holocausto é incomparável e não pode ser naturalizado nunca. Em nome dos brasileiros, pedimos desculpas ao mundo e a todos os judeus", disse.


Por meio de nota, o Palácio do Planalto afirmou que o presidente Lula condenou desde o dia 7 de outubro os atos terroristas do Hamas. "O fez diversas vezes. E se opõe a uma reação desproporcional e ao sofrimento de mulheres e crianças na Faixa de Gaza", completa o texto.

Declaração é alvo de críticas

O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) afirma que Lula demonstra que não sabe o que foi o Holocausto. "Ofende o povo judeu e mancha, mais uma vez, a imagem do Brasil no exterior." Para o senador Izalci Lucas (PSBD-DF), o presidente deveria "buscar a paz" em vez de dar declarações assim.

"Lula mais uma vez envergonha o Brasil e ataca Israel e o povo judeu, comparando a sua legítima defesa contra os terroristas do Hamas ao genocídio promovido por Hitler contra os judeus. É repugnante", declarou também o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ).

O deputado federal cabo Gilberto (PL-PB) chamou as falas do presidente de "momento de insanidade". "Lula compara o governo de Israel a Hitler, que promoveu a morte de milhões de judeus em câmaras de gás."

O presidente do Partido Novo, Eduardo Ribeiro, reforçou que o posicionamento de Lula trará prejuízos ao Brasil no cenário internacional. "A fala surreal de Lula comparando Israel a Hitler vai rodar o mundo ocidental e afundar de vez a imagem do Brasil."

Pedido de impeachment

Um grupo de deputados federais anunciou neste domingo que vai protocolar um pedido de impeachment contra o presidente Lula em virtude da declaração feita durante evento em Adis Abeba, na Etiópia, comparando a ação militar israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto. Segundo a deputada Carla Zambelli (PL-SP), a fala configura crime de responsabilidade.

"Não se pode comparar o incomparável. Nada se compara à maior tragédia da humanidade, que foi o Holocausto e que vitimou 6 milhões de judeus, além de diversas minorias. É injustificável, leviana e absurda a afirmação do presidente da República. É uma afronta aos judeus, aos descendentes do horror do nazismo e algo que só fomenta o crescimento do antissemitismo no Brasil. O direito à liberdade de expressão não engloba a banalização ao Holocausto", disse a parlamentar.

Comunidade judaica

O presidente de Israel, Isaac Herzog, foi às redes sociais para dizer que condena veementemente a declaração na qual o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, compara a ação militar israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto. Herzog disse que há uma "distorção imoral da história" e apela "a todos os líderes mundiais para que se juntem a mim na condenação inequívoca de tais ações".

Antes, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já havia se manifestado, dizendo que convocaria o embaixador brasileiro no país para uma reprimenda. Ele voltou a criticar o presidente, dizendo que o líder brasileiro deveria se envergonhar do que disse.

"Hoje, o presidente do Brasil, ao comparar a guerra de Israel em Gaza, contra o Hamas, uma organização terrorista e genocida, ao Holocausto, o presidente Lula desonrou a memória de 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas e demonizou o povo judeu, como o antissemita mais virulento. Ele deveria ter vergonha de si mesmo."

Entidades e organizações também criticaram a declaração de Lula. A Conib (Confederação Israelita do Brasil) repudiou a fala. A instituição classificou a afirmação como "distorção perversa da realidade que ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes".

"Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu", diz a Conib.

A entidade criticou a posição do governo brasileiro em relação ao conflito. "Uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira", afirma o texto.

O presidente do Yad Vashem (o memorial do Holocausto em Jerusalém), Dani Dayan, também se posicionou. Segundo ele, a declaração de Lula é uma "escandalosa combinação de ódio e ignorância". Dayan disse que, segundo a definição da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), as falas do chefe do Executivo brasileiro são "clara expressão antissemita".

Dani Dayan disse ser triste Lula descer a um ponto tão baixo
Dani Dayan disse ser triste Lula descer a um ponto tão baixo Reprodução/ Haaretz

"Comparar um país que luta contra uma organização terrorista assassina com as ações dos nazis no Holocausto merece toda a condenação. É triste que o presidente do Brasil desça a um ponto tão baixo de extrema distorção do Holocausto", escreveu nas redes sociais.

Especialistas, políticos e entidades reagiram às declarações de Lula e afirmaram que as falas comprometem a imagem do Brasil no cenário internacional e demonstram desconhecimento histórico e visão anti-Israel.

Professora de relações internacionais e doutora em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo), Denilde Holzhacker avalia que a posição de Lula não reflete o que aconteceu na história. "É mais uma frase em que ele expõe uma visão anti-Israel, reforçando os argumentos de que há um fundo antissemita nas falas do próprio presidente Lula", afirma.

Para a especialista, a fala de Lula inviabiliza a proposta do Brasil de ser intermediário na busca da paz e deixa o país mais longe de ser parte de uma solução. "A declaração cria para o Brasil um distanciamento não só com Israel, mas também com outros países e com a comunidade judaica brasileira."

O diplomata e doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas Paulo Roberto de Almeida ressalta que "as alusões ao Holocausto hitlerista são absolutamente equivocadas e inaceitáveis do ponto de vista histórico e diplomático". "Apenas diminuem a credibilidade de Lula como interlocutor responsável em face dessa tragédia. Elas [as declarações] apenas revelam seu despreparo para tratar desse assunto", acrescenta.

O Instituto Brasil-Israel afirmou que a fala de Lula é um erro grosseiro que inflama tensões e mina a credibilidade do governo brasileiro como um interlocutor pela paz. “O genocídio nazista foi um plano de exterminar, em escala industrial, toda a presença judaica na Europa, sob uma ideologia de superioridade racial e antissemitismo. Não há paralelo histórico a ser feito com a guerra em reação aos ataques do Hamas, por mais revoltantes e dolorosas que sejam as mortes de dezenas de milhares de palestinos, entre eles mulheres e crianças, além dos cerca de 1.200 mortos israelenses e as centenas de civis que permanecem sequestrados em Gaza”, diz o texto.

Segundo a entidade, a posição de Lula banaliza o Holocausto e fomenta o antissemitismo. “Ganha contornos ainda mais absurdos em um desrespeito flagrante à presença em Israel hoje de milhares de sobreviventes da barbárie nazista e seus descendentes”, afirma a nota.

“O Brasil firmou compromissos internacionais para a preservação da memória do Holocausto e defendeu historicamente a luta contra sua banalização. Essa deve continuar a ser a posição brasileira.”

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