Lula se reúne com presidente do Banco Central pela 1ª vez desde que assumiu o mandato
Roberto Campos Neto esperou por, pelo menos, uma hora para se encontrar com o presidente da República nesta quarta-feira (27)
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, e Renata Varandas, da Record TV, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu pela primeira vez neste ano com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta quarta-feira (27), no Palácio do Planalto, em Brasília. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também participou do encontro. Em 269 dias, o chefe da autoridade monetária foi alvo de críticas do petista, principalmente em relação à manutenção da Selic, a taxa básica de juros do país, em nível alto.
O movimento da reunião partiu de Campos Neto, que pediu durante um almoço na quinta-feira (21), ao ministro da Fazenda que fizesse a ponte com Lula. A avaliação é que o momento seria oportuno, uma vez que a taxa básica de juros caiu pela segunda vez consecutiva, o que teria deixado a temperatura mais amena no Palácio do Planalto.
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A agenda estava marcada para 17h30. No horário, porém, Lula ainda estava em reunião com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e a bancada de deputados federais gaúchos. Na sequência, o petista compareceu a um evento, previsto para 16h30, que atrasou, e só depois foi para a audiência. Campos Neto esperou por, pelo menos, uma hora até que o chefe do Executivo o recebesse. O encontro durou cerca de uma hora e 20 minutos.
Desde que tomou posse, Lula e Campos Neto nunca estiveram frente a frente, apesar da insistência do presidente do Banco Central. Quando se reuniram, no fim de dezembro, durante a transição entre os governos, o clima do encontro foi ruim, e, desde então, o presidente da República passou a culpar publicamente o chefe da autoridade monetária pela alta taxa de juros no país.
Lula chegou a chamar Campos Neto de “este cidadão”, “tinhoso” e “teimoso”. No início deste mês, o petista chegou a insinuar que o chefe do Banco Central mantém diálogos com Jair Bolsonaro (PL). “É importante vocês saberem que ele não foi indicado por nós, foi indicado pelo governo anterior. Este cidadão, se conversa com alguém, não é comigo. Deve conversar com quem o indicou”, disse o presidente.
Por diversas vezes, coube ao ministro da Fazenda o papel de bombeiro. O encontro vem em um momento em que uma parcela dos aliados de Lula reduziu o tom das críticas a Campos Neto e ao BC, justamente por conta do início do ciclo de redução da taxa de juros. De todo modo, a reunião representa ao menos um gesto de aproximação entre eles. No entorno do petista, a audiência é vista como modo de selar uma convivência mais adequada, ainda que sem uma pacificação definitiva.
No entanto, nomes influentes no entorno de Lula, como a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, seguem com falas duras. Na semana passada, após o Comitê de Política Monetária se decidir de forma unânime pela queda dos juros básicos em 0,5 ponto percentual, para 12,75%, a petista reclamou de um processo de redução feito “a conta-gotas”.
Horas antes do encontro entre Lula e Campos Neto, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) acusou o chefe do Banco Central de levar viés ideológico para a instituição e falou em um alinhamento dele com o ex-presidente. Os questionamentos foram feitos pelo petista durante a Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.