Mensagens mostram que ex-chefe da PRF ordenou 'policiamento direcionado' a eleitores de Lula
Conversas obtidas pela PF mostram que subordinados de Silvinei Vasques teriam criticado a atuação dele por esse motivo
Brasília|Plínio Aguiar e Gabriela Coelho, do R7, em Brasília
Mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) mostram que o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques teria ordenado um "policiamento direcionado" contra eleitores do então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições de 2022. O policial foi preso nesta quarta-feira (9), em Florianópolis, por suspeita de uso da máquina pública para interferir no pleito eleitoral.
Em 29 de outubro, mensagens trocadas entre o policial rodoviário federal Adiel Pereira Alcântara, então coordenador de Análise de Inteligência da PRF, e Paulo César Botti Alves Júnior, subordinado a ele, mostram que o próprio Alcântara criticou a conduta de Vasques. Ele afirma que o ex-diretor-geral teria falado "muita m..." nas reuniões de gestão, notadamente determinando o "policiamento direcionado" das equipes da corporação nas blitze realizadas no segundo turno das eleições e "corroborando com os elementos de prova que indicam as ações policiais visando dificultar ou mesmo impedir eleitores de votar".
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Conversas de WhatsApp de 12 de outubro no celular de Alcântara com o policial rodoviário federal Luís Carlos Reischak Júnior, então diretor de Inteligência da PRF, indicam a orientação de uma ação ostensiva para o dia 30 do mesmo mês. "Chamando atenção um trecho no qual mencionam abordagens de ônibus que levam passageiros de São Paulo para o Nordeste", diz um trecho do documento da PF.
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"Perfeito, chefe. Acho que é bom e assim, acho que a gente tem que levar em consideração também essa decisão recente do [ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto] Barroso que liberou o transporte gratuito de eleitores no dia 30. Porque vai ser difícil caracterizar o transporte clandestino de eleitor, né", respondeu Alcântara.
À Record TV, a defesa de Silvinei disse, em referência ao mapeamento dos eleitores de Lula, que ele não pode ser responsabilizado por atos que tenham sido cometidos por outros. A defesa do ex-diretor da PRF disse ainda que "as operações no segundo turno foram coordenadas pelo Ministério da Justiça".
A decisão de Barroso mencionada liberou municípios de todo o país de fornecer transporte gratuito no dia 30, quando ocorreu o segundo turno das eleições.
Segundo a PF, cerca de 30 minutos depois, Reischak disse que iria acompanhar Vasques em uma reunião com o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres. A corporação confirmou que, no mesmo dia, houve uma reunião do Conselho Superior da PRF com a participação de diretores, superintendentes e coordenadores-gerais, na qual foi proibido o uso de celulares.
Além disso, a corporação citou um ofício despachado por Vasques no qual consta que "houve inicialmente a emissão de um único plano de trabalho, que englobaria as operações do 1º e 2º turno, caso houvesse". Depois, o próprio diretor-geral informou que houve uma nova versão do documento, com a previsão de fiscalização de transporte de passageiros, que não havia sido incluída na primeira. "Havendo, portanto, diferença de procedimentos entre o primeiro e segundo turno das eleições", afirma a PF.
Bloqueio nas estradas e prisão
Em 30 de outubro de 2022, policiais rodoviários federais realizaram blitze em diversas rodovias do Nordeste. Naquele dia, a corporação alegou que tentava evitar possíveis crimes eleitorais.
Os bloqueios foram feitos mesmo depois de o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, ter decidido, na véspera do segundo turno, a proibição de qualquer tipo de operação relacionada ao transporte público, gratuito ou não, de eleitores.
Silvinei Vasques
Silvinei Vasques foi exonerado do cargo de diretor-geral da PRF em dezembro e já era réu por improbidade administrativa devido à operação.
Ele foi preso nesta quarta-feira (9), em Florianópolis, por suspeita de uso da máquina pública para interferir nas eleições de 2022, e foi encaminhado à Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Ele deve ser ouvido na manhã de quinta-feira (10) e, em seguida, transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, na capital federal.
Vasques tem 48 anos, nasceu em Ivaiporã, no Paraná, e faz parte dos quadros da PRF desde 1995. Ele exerceu diversos cargos de chefia, como o de superintendente da corporação em Santa Catarina e no Rio de Janeiro.