Prefeitura de São Leopoldo (RS) desmente fake news de que dispensou Defesa Civil de SP
Rede de desinformação tem prejudicado os trabalhos de auxílio às vítimas da tragédia que atingiu 458 dos 497 municípios gaúchos
MonitoR7|Carlos Eduardo Bafutto, do R7, em Brasília
A Prefeitura de São Leopoldo (RS) desmentiu a falsa notícia de que teria “mandado embora as equipes de Defesa Civil de municípios de São Paulo” que foram ao Rio Grande do Sul auxiliar a força-tarefa nas enchentes. De acordo com a Superintendência de Comunicação do município gaúcho, é falso o vídeo que circula em grupos com a afirmação.
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O município esclareceu ainda que nenhuma equipe de órgãos de apoio, que se somaram aos esforços da força-tarefa nas enchentes, foi desprezada. No comunicado, a prefeitura agradece pelo apoio de todas as forças de segurança, pronto-emprego e voluntários “pelo trabalho e dedicação neste momento difícil pelo qual passa a comunidade leopoldense”.
A rede de desinformação tem prejudicado os trabalhos de auxílio às vítimas da tragédia que atingiu 458 dos 497 municípios gaúchos. O número de pessoas que morreram em decorrência das chuvas históricas no Rio Grande do Sul chegou a 151 nesta quinta-feira (16). Ainda há 104 desaparecidos e 806 feridos, segundo a Defesa Civil. Mais de 615 mil pessoas estão fora de casa desde o fim de abril, das quais 77,1 mil permanecem em abrigos.
Veja abaixo algumas das outras fake news disseminadas desde o início das enchentes no RS
• Cestas Básicas
É falso que o governo federal esteja “colocando embalagens com a logo do Ministério do Desenvolvimento Social nas cestas básicas doadas pela população”.
Imagens de cestas básicas adquiridas pelo MDS são divulgadas com a falsa informação de que seriam doações da população embaladas com a logo do Ministério do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome para promoção da imagem do governo. Isso é mentira. A pasta adquire cestas básicas e, essas sim, são identificadas com a marca do governo federal e um selo proibindo a venda delas, pois são gratuitas. As doações de alimentos e outros itens encaminhadas por particulares, empresas, instituições religiosas e ONGs não recebem o selo do governo.
• Doações de Portugal para o RS
É falsa a informação de que o “governo federal recusou doações vindas de Portugal para o Rio Grande do Sul”.
A comunidade brasileira em Portugal, bem como cidadãos portugueses, arrecadaram mais de 200 toneladas de doações para ajudar os gaúchos que atravessam este período de calamidade. A ABC (Agência Brasileira de Cooperação) e o Ministério de Portos e Aeroportos vêm articulando com a Força Aérea Portuguesa um plano para levar essas doações ao Rio Grande do Sul.
• Documentos fiscais de caminhões
Em 7 de maio, o Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária) decidiu pela dispensa da emissão de documento fiscal na operação e na prestação de serviço de transporte relativo à remessa de mercadorias doadas para assistência a vítimas de calamidade no RS. Para isso, o motorista deve apresentar uma declaração de conteúdo.
O material conduzido deve ser destinado ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul, à Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul, às prefeituras gaúchas e às entidades beneficentes sem fins lucrativos do Rio Grande do Sul.
O Rio Grande do Sul está autorizado a conceder isenção de ICMS incidente nas saídas decorrentes de venda para estabelecimentos contribuintes localizados nos municípios declarados em estado de calamidade pública.
• “300 corpos foram encontrados em Canoas”
A alegação de que “300 corpos foram encontrados em Canoas” é mentirosa. Também não é verdade que haja “mais de 2 mil mortos”. De acordo com o boletim da Defesa Civil divulgado na terça-feira (14), o número de pessoas mortas desde o início das chuvas que devastaram boa parte do Rio Grande do Sul chegou a 148 — um óbito a mais do que ontem —, segundo boletim da Defesa Civil atualizado ao meio-dia. Há também 124 desaparecidos e 806 feridos. Mais de 615 mil pessoas estão fora de casa, das quais 76,8 mil permaneciam em abrigos nesta terça-feira.
Reações
A disseminação de fake news tem gerado reações nos Poderes da República. Em 7 de maio, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, pediu a abertura de investigação de influenciadores digitais e contas em redes sociais que disseminam mentiras. Em ofício enviado ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, Pimenta enumera uma série de mentiras que vêm causando impacto na crise enfrentada pelos gaúchos.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que há pessoas agindo como “verdadeiros coaches do caos”. A fala ocorreu em meio à polêmica provocada pelo coach Pablo Marçal. que tem alegado inércia na atuação das Forças Armadas para prestar auxílio à população gaúcha. Padilha não citou Marçal ao falar sobre os “coaches do caos”, mas ressaltou os danos causados por informações falsas divulgadas pelas redes sociais.
A AGU (Advocacia-Geral da União) entrou com uma ação judicial com pedido de resposta para esclarecimento das postagens e ressaltou “que as publicações infringem os termos de uso da própria plataforma — que proíbe a publicação de conteúdo enganoso ou fora de contexto com potencial de causar confusão generalizada sobre questões públicas.”
A Polícia Federal abriu inquérito para apurar a disseminação de informações falsas relacionadas às enchentes no Rio Grande do Sul, por determinação de Lewandowski. A ministra Cármen Lúcia será a relatora do procedimento no STF (Supremo Tribunal Federal).
A decisão de abrir o inquérito veio depois que o comandante militar do Sul, o general Hertz Pires do Nascimento, destacou os impactos causados pelas fake news, em reunião de emergência com ministros em 9 de maio no Palácio do Planalto.
No dia seguinte (10), o governo Lula estabeleceu uma sala de situação para elaborar estratégias de combate às fake news relacionadas à catástrofe no RS. O primeiro encontro ocorreu na sede da Advocacia-Geral da União, em Brasília, e contou com a participação da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, do Ministério da Justiça e da Polícia Federal.