Enem 2023: entenda como as mulheres são 61,3% dos inscritos, mesmo com caminho mais difícil
Apesar de elas buscarem mais a educação superior, os homens ainda têm as melhores notas no exame e os cargos mais altos
Educação|Vivian Masutti, do R7
Evasão escolar provocada por fatores familiares, gravidez precoce, filhos e violência doméstica estão entre os fatores superados pelas mulheres que desejam seguir em frente com os estudos e conquistar uma chance no ensino superior.
Mas, apesar de percorrerem um caminho mais difícil que o dos homens brancos, elas são maioria — representam 61,3% dos inscritos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)deste ano, ou 2,4 milhões de alunas que tentam uma oportunidade na universidade.
A razão para esse número é determinação: uma vez que elas superam os primeiros desafios, desejam seguir cada vez mais em frente, uma tendência que vem sendo notada há alguns anos.
“A mulher sofre muito mais para permanecer na escola, mas, quando permanece, ela tem essa postura de valorização do estudo. A mulher valoriza muito o estudo, por causa do número alto de evasão dos estudos, da família, dos filhos e também da violência contra ela. E, ao permanecer, ela leva a educação com muito mais afinco”, afirma Gilberto Alvarez, diretor do Cursinho da Poli e presidente da Fundação PoliSaber.
Segundo ele, hoje há 69% de mulheres matriculadas no cursinho, o que representa uma tendência de crescimento nos últimos anos.
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Priscila Naves, coordenadora pedagógica do cursinho Aprova Total, lembra que a entrada das mulheres no ensino superior aconteceu apenas no Brasil Império, em 1879, por meio do decreto-lei nº 7.247/1879. Naquela época, cabia aos pais ou ao marido a responsabilidade de efetuar a inscrição em nome delas.
“No século 21, essa dinâmica se transformou. As mulheres já são maioria no ensino superior e na pós-graduação, assim como representam o maior número de interessados em ingressar em uma graduação”, afirma Priscila.
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Beto Dantas, diretor de operações do Pravaler, responsável pelo maior número de financiamentos privados voltados para a educação do país, afirma que a representatividade feminina se reflete na plataforma.
“Até maio deste ano, 57,9% do total de mais 500 mil pessoas que procuraram o financiamento estudantil privado foram mulheres.”
Mesmo assim, um levantamento feito pelo núcleo de estudos raciais do Insper, divulgado há duas semanas, que avalia a desigualdade racial no Enem de 2010 a 2019, mostra que são os homens brancos quem têm o melhor desempenho na prova.
E são justamente as mulheres negras que obtêm os piores resultados, especificamente as da região Norte do país, onde a nota média no exame chegou a 460 pontos em 2014.
De onde vem o aumento de inscritos
“O Enem é a porta de entrada para as instituições públicas, para o sistema de cotas das universidades, para o Prouni, para o Fies. Então, [o aumento no número de inscritos] é uma retomada depois da pandemia e uma boa notícia, porque são os mais jovens que ficaram meio afastados do ensino superior, sobretudo no período da Covid-19”, afirma Lúcia Teixeira, presidente do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil.
Para Alvarez, do Cursinho da Poli, o aumento no número geral de inscritos no Enem neste ano reflete uma postura de valorização do exame pelo novo governo, com campanhas positivas, após um período crítico atravessado pelos estudantes durante a pandemia de Covid-19.
“O alto número de isenções de taxa [que neste ano foi de 2.481.545], que representa que 63% dos inscritos que não precisarão pagar pela prova, é claramente uma postura de incentivo”, afirma.
Priscila Naves lembra que o Enem foi citado diversas vezes pelo presidente Lula neste ano, em mensagem com divulgação nas redes sociais, uma estratégia para que o público-alvo fosse atingido.
“O governo federal também anunciou um investimento de R$ 2,44 bilhões, o que se trata de uma recomposição do orçamento das instituições. Esse movimento dá uma segurança para que os pré-vestibulandos se empenhem em alcançar a tão almejada vaga nas universidades federais”, diz a coordenadora do Aprova Total.
"Essa retomada no interesse pelo ingresso à universidade está relacionada ao entendimento por parte dos brasileiros de que a formação superior é a principal fonte para conquistarem uma boa colocação no mercado de trabalho e, assim, vislumbrarem um futuro melhor”, afirma Beto Dantas, do Pravaler.
“O Pravaler recebeu, até o mês de maio, mais de 500 mil acessos, 66% a mais que o mesmo período do ano anterior, com destaque para alunos interessados no curso de medicina, que representaram quase 35% do total originado nos primeiros meses de 2023.”
Marcelo Fonseca, coordenador-geral do Curso Etapa, lembra que, apesar desse aumento no número de inscrições do Enem, ainda estamos abaixo dos números pré-pandemia.
“A partir de agora, o desafio é estimular os jovens inscritos a participarem das provas no fim do ano. Isso porque, nas últimas edições do exame, houve um aumento considerável no número de abstenções.”