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Violência nas escolas: 'Atitudes dos mais jovens são um reflexo do nosso tempo', diz especialista

Em 24 horas, país registra ao menos quatro casos de violência nas escolas que envolvem agressões entre estudantes e até granada na mochila 

Educação|Karla Dunder, do R7

Adolescentes precisam entender as consequências de seus atos, dizem especialistas ouvidos pelo R7
Adolescentes precisam entender as consequências de seus atos, dizem especialistas ouvidos pelo R7 Adolescentes precisam entender as consequências de seus atos, dizem especialistas ouvidos pelo R7

Em 24 horas, um sinal de alerta foi aceso no país: pelo menos quatro casos de agressão e violência que envolveram adolescentes foram registrados em escolas. No início da semana, um menino baleou a família na Paraíba. Para a psicanalista Ilana Katz, "as atitudes dos mais jovens são um reflexo do nosso tempo". 

Em Belo Horizonte (MG), um adolescente foi expulso após ter levado uma granada para a sala de aula. Em Brasília, uma menina de 14 anos foi esfaqueada durante uma aula, situação que se repetiu em uma escola na zona leste da capital paulista, em que uma adolescente de 13 anos levou sete golpes de faca. Em São Sebastião, no Distrito Federal, uma jovem sacou uma arma da bolsa e apontou para outra em frente a um centro educacional.

Por fim, na Paraíba, um menino de 13 anos matou a mãe e o irmão e deixou o pai tetraplégico. O garoto baleou a família após ter sido proibido de usar o celular para jogar e conversar com os amigos.

"A sensação é de que abrimos a tampa de um bueiro. O primeiro passo é questionar o que está acontecendo, não aceitar a violência de forma passiva", diz Ilana, que é pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo). "Essas atitudes dos mais jovens dizem muito sobre o nosso tempo, sobre como estamos conduzindo as nossas relações."

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A mesma opinião é compartilhada pela pedagoga Alcione Marques, especialista em psicopedagogia clínica e diretora da NeuroConecte. "Comportamentos com esse nível de violência, praticados por adolescentes tão novos, nos apavoram, mas não devem ser encarados como ações isoladas ou eventuais, das quais nos esquecemos rapidamente. Devem servir como um sinal de alerta, e chamar a atenção de toda a sociedade sobre o que pode estar contribuindo para que aconteçam."

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As especialistas concordam que há necessidade de esses adolescentes entenderem as consequências de suas atitudes, de serem responsabilizados por seus atos, "mas a discussão não se esgota na penalização; enquanto não trabalharmos a formação ética das pessoas, esses casos vão se repetir, porque qualquer um tem acesso pelo celular a armas ou a como produzir uma", avalia Ilana. "Temos de entender que o outro pode incomodar, e precisamos aprender a lidar com isso, sem a ideia de que a pessoa que incomoda deve ser eliminada".

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Qual o papel da escola?

Para a psicopedagoga Ivone Scatolin, a violência entre os adolescentes cresce a cada ano e tem como marco o massacre na escola em Realengo, no Rio de Janeiro. "Esses casos vêm chamando a atenção e não é à toa que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) trabalha competências socioemocionais, como empatia, autocontrole e autocuidado, e cabe à escola olhar para dentro de si."

Acolhimento é a palavra-chave usada por todas as especialistas ouvidas pelo R7. "Vivemos um momento de banalização da violência, cabe à escola olhar individualmente para o estudante, acolher, ouvir o que eles têm a dizer, não só o conteúdo deve ser priorizado, mas as rodas de conversa e o convívio social para que esses adolescentes aprendam a lidar com suas emoções."

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Segurança

Os Estados Unidos são um dos países que mais investem em segurança nas escolas, porque é o país que mais sofre com os ataques realizados por estudantes. Em algumas escolas, professores foram armados para entrar em sala de aula. No Brasil, a discussão ganhou força após o massacre ocorrido na escola estadual Raul Brasil, em Suzano, São Paulo. 

Apesar das altas cifras — até 2017 o governo americano havia investido US$ 2,7 bilhões em sistemas de segurança —, na prática a violência continua. "Cabe à sociedade pensar como lida com o outro, como tem acolhido as crianças, e qual legado está deixando para o futuro. Enquanto não mudar a maneira como tratamos os mais jovens, o problema continuará", explica Ilana.

"Precisamos olhar para o ser humano, entender o que se passa com cada aluno, e aproximar as famílias desse processo", finaliza Ivone.

Pandemia

O isolamento social é responsável por toda essa violência? Para as especialistas, a resposta é não. A violência existia antes da pandemia, mas, sem dúvida, algumas questões podem ter sido agravadas.

"Não é possível atribuir esses acontecimentos a apenas um fator. É fato que o Brasil ficou mais tempo com as escolas fechadas, o que prejudicou não apenas a aprendizagem como o convívio social, mas também devemos levar em consideração que, nesse período de distanciamento social, houve aumento da violência doméstica, com crianças sendo vítimas de abusos ou presenciando agressões", destaca Alcione. 

"Na pandemia, a gente desaprendeu o convívio, desaprendeu o quanto o outro participa do nosso dia a dia, que não podemos simplesmente apagar o outro, mas precisamos entender e administrar as diferenças, e essa construção ficou atrapalhada com o isolamento, mas esse problema é mais antigo e só será resolvido em todos os níveis: individual, social, político e econômico", conclui Ilana.

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