Em discurso após derrota, Boulos diz que campanha foi marcada por ‘mentiras e ataques’
Candidato acionou TSE contra acusações de que PCC teria orientado voto nele; Boulos terminou a disputa em 2º lugar
Eleições 2024|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo (SP) Guilherme Boulos (PSOL) declarou neste domingo (27) que a campanha eleitoral deste ano foi “definida por mentiras e ataques”. Em pronunciamento a apoiadores ao lado da candidata a vice Marta Suplicy (PT) e do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, Boulos agradeceu o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da militância dos partidos aliados. O deputado federal foi derrotado pelo atual prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), que teve 59,35% dos votos. Boulos recebeu 40,65%.
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“Não vou fazer aqui um discurso de perdedor, porque a gente perdeu uma eleição, mas nessa campanha a gente recuperou a dignidade da esquerda brasileira. A gente mostrou que é possível fazer política de outro jeito, olho no olho, debatendo com o povo, de peito aberto, nas praças, nas ruas”, afirmou, ao agradecer aos 2.323.901 paulistanos que votaram nele.
“Nos momentos mais difíceis dessa campanha, o presidente Lula me chamou e me disse: ‘siga em frente e seja quem você é‘. Eu quero te dizer, presidente, que sei que está assistindo, que você é uma inspiração e que você sempre terá aqui um companheiro leal, por toda a vida”, acrescentou.
Mais cedo neste domingo (27), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que, durante a campanha, foram realizadas interceptações de mensagens de membros do PCC. Segundo o governador, os textos orientavam voto em Boulos. Tarcísio também relatou que o governo paulista trocou informações do caso com o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral-SP).
No entanto, procurado pelo R7, o tribunal negou ter recebido relatório de inteligência e informações sobre supostas orientações eleitorais de integrantes de facção criminosa, na capital paulista. “Não chegou ao conhecimento do TRE-SP nenhum relatório de inteligência nem nenhuma informação oficial sobre esse caso específico. O Tribunal soube do caso pela imprensa. Após a divulgação do caso, o candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos entrou com uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) na 1ª Zona Eleitoral por abuso de poder político e abuso no uso dos meios de comunicação”, destacou, em nota, o órgão eleitoral.
Depois da fala, a campanha de Boulos apresentou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) uma notícia-crime contra o governador de São Paulo e Ricardo Nunes. A ação está sob relatoria do ministro Nunes Marques.
Apoio no segundo turno
Durante o pronunciamento, o candidato do PSOL aproveitou para agradecer o apoio recebido pelos adversários do primeiro turno. Boulos citou nominalmente Tábata Amaral (PSB), que ficou em quarto lugar, com 9,91%, e José Luiz Datena (PSDB), que terminou a disputa em quinto, com 1,84%.
“Quero agradecer a militância aguerrida dos partidos que tiveram conosco ao longo dessa caminhada e aqueles que se juntaram a nós no segundo turno, em especial Tábata Amaral e PSB. Eu sei o tanto o Datena se arriscou e abriu mão como jornalista ao nos apoiar no segundo turno e sei que declarou esse apoio de coração, e, por isso, faço questão de agradecer aqui de público, depois do resultado eleitoral”, destacou Boulos.
Em vídeo divulgado em 12 de outubro, Datena declarou voto em Boulos, ao alegar ser “contra o crime organizado em São Paulo e contra a infiltração do crime organizado no poder público”. Inicialmente, o tucano tinha afirmado que não apoiaria nenhum candidato em eventual segundo turno.
Dias depois, o PSDB reafirmou apoio a Nunes. “A deliberação foi tomada logo após o fechamento das urnas em 6 de outubro, e com a definição de que o adversário de Nunes é um representante do lulopetismo, do extremo e da radicalização que sempre combatemos. Por coerência histórica, o PSDB não poderia deixar de indicar neste segundo turno a candidatura do prefeito Ricardo Nunes”, informou a legenda.
Críticas a adversários
Boulos afirmou “se preocupar” com o futuro de São Paulo. “O que é a infiltração do bolsonarismo e do crime organizado na prefeitura da maior cidade do Brasil... Nós aguentamos isso a campanha inteira, [mas] não foi suficiente. Eu espero que o povo de São Paulo e do Brasil tenha forças para evitar o pior”, desejou.
O candidato derrotado também encorajou os apoiadores. “Eu quero terminar dando uma mensagem para muitas pessoas, milhares de pessoas, que hoje, depois que saiu o resultado eleitoral, vieram chorando, entristecidos. Ergam a cabeça. Nossa luta não começou hoje e não acaba aqui. Eu tenho muita confiança que, apesar do resultado eleitoral, não só aqui em São Paulo, mas em todo o Brasil, que o futuro vai ser nosso. Ao povo mais sofrido dessa cidade: o ideal e o sonho de justiça social e de uma sociedade mais humana vai prevalecer”, completou.