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Escalada de motivos levou Colômbia a protestos que já duram 7 dias

Manifestações e duas greves gerais foram convocadas por políticas de Iván Duque e incendiadas por questões ligadas aos acordos de paz e à violência

Internacional|Giovanna Orlando, do R7

Colômbia não teve um motivo específico para protestar, mas uma escalada de razões
Colômbia não teve um motivo específico para protestar, mas uma escalada de razões Colômbia não teve um motivo específico para protestar, mas uma escalada de razões

Há uma semana, a Colômbia pediu para parar. A greve geral da última quinta-feira (21), chamada de 21N, levou uma multidão às ruas das principais cidades do país com um leque de reivindicações. As manifestações se repetiram diariamente em várias cidades colombianas desde então e desaguaram em uma nova greve geral nesta quarta (26).

Diferente do que ocorreu no Chile — com o aumento do preço dos transportes —e da Bolívia — onde os resultados das eleições seguido da renúncia forçada de Evo Morales desencadeou uma onda de protestos —, não houve uma pauta única que disparase os movimentos de rua na Colômbia.

Os pedidos da população vão do cumprimento dos acordos de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) à entrada em vigor do acordo anticorrupção aprovado em plebiscito. Também estão na pauta: maior acesso dos jovens à educação superior; o fim do Esquadrão Móvel Anti Distúrbio, o Esmad; melhorias na saúde; reforma tributária e pautas ambientais.

A variedade da pauta, no entanto, guarda semelhança com os movimento de outros países da América Latina. Em resumo, todos lutam contra o neoliberalismo na região.

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Depois do Chile, a Colômbia é considerada o segundo país onde a onda neoliberal do anos 90 foi implementada com mais força na América do Sul, diz a geógrafa brasileira Isabel Peres, que tem dupla cidadania colombiana e mora no país há três anos.

Fim das Farc define cenário na Colômbia

Apesar de diversos países estarem protestando ao mesmo tempo na região e terem motivações semelhantes, a manifestação na Colômbia tem um elemento diferencial: os acordos de paz com as Farc, assinados em 2016 e que não estão sendo cumpridos pelo governo Duque.

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Apesar de a greve geral do dia 21 já estar marcada, dois episódios de assassinatos envolvendo a guerrilha serviram de estopim para transformá-la em manifestações massivas pelo país.

Há três semanas, sete menores, com idades entre 12 e 17 anos, foram assassinados em uma operação militar em um acampamento de dissidentes das Farc, conta Isabel. As mortes causaram um debate no Congresso para entender se essas crianças podiam ser consideradas guerrilheiras ou não.

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“A decisão que chegaram é que não. Elas foram recrutadas sendo menores de idade, então são vítimas”, explica a geógrafa. No mesmo acampamento já existia relatos e denúncias de que outras crianças estavam sendo recrutadas.

Um ex-guerrilheiro, que estava cumprindo os acordo de paz, também foi assassinado por militares. “Eles haviam criado um grupo no Whatsapp para assassiná-lo”, conta Isabel.

Não cumprimento de acordo de paz foi um dos estopins para protestos
Não cumprimento de acordo de paz foi um dos estopins para protestos Não cumprimento de acordo de paz foi um dos estopins para protestos

Os acordos de paz

Em 2010, a Colômbia inicia o processo de diálogos de paz com as FARC. O conflito com a luta armada já durava mais de 5 décadas e as consequências da guerra desgastaram o cenário político. 

O ex-presidente Juan Manuel Santos, escolhido por Uribe, adotou um perfil mais pacifista que o antecessor. Já no primeiro ano de governo, iniciou os diálogos com o grupo armado, explica a especialista em Colômbia e professora de Relações Internacionais da FSA, Amanda Harumy. O acordo foi assinado em 2016.

“Ele era chefe da guarda no governo Uribe. Possuia um cargo de poder e tinha intensificado a guerra, porém, em seu goverbo sinalizou que iria fazer o processo de paz”, diz a especialista. “Ele queria construir uma paz capitalista”.

Pensando só pelo ponto de vista da paz, esse é um processo simples. Mas nada na Colômbia é tão simples. A assinatura do processo de paz é apenas o primeiro passo. Para alcançar o fim do conflito é preciso desconstruir as raízes da violência e da desigualdade social no país.

Dessa forma, as Farc pedem uma distribuição de terra, o debate sobre a questão do narcotráfico e as plantações de coca, que teriam que ser substituídas. Outro ponto polêmico para a sociedade é a anistia dos crimes de guerra.

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O país votou um plebiscito em 2016, para ver se a população apoiava ou não as negociações. Surpreendentemente, o não venceu. “Mas foi muito influenciado pelas fake news”, explica Harumy.

As notícias inventadas diziam que os mais diversos grupos sociais e minorias estavam envolvidas no diálogo e que um acordo de paz iria contra os princípios defendidos pelos conservadores. Mesmo assim, Santos continuou com o acordo.

“O processo de paz foi muito custoso, ele tinha um impacto internacional, vários países foram observadores”, explica. “E, economicamente, é importante para o país”.

Com as eleições de 2018, a negociação ficou em xeque. Ivan Duque não é abertamente contra os acordos, mas representa a ala uribista, que não concorda com as negociações.

O não cumprimento de parte dos acordos, especialmente no quesito da reinserção de ex-guerrilheiros, foi um dos estopim dos protestos e uma das principais reivindicações do povo.

‘Marionete de Uribe’

Duque não é um presidente 'popular'
Duque não é um presidente 'popular' Duque não é um presidente 'popular'

Mesmo com a vitória nas urnas, Duque não é um presidente popular e enfrenta dificuldades nos 15 meses do governo. As eleições foram divididas entre os apoiadores da paz e da não paz, explica Isabel, e Duque estava do lado conservador do espectro.

“Ele é visto como uma marionete do presidente Uribe, que não teria muita capacidade de governar sozinho”, explica a geógrafa. “Pelos setores contra, ele é visto como incapaz e pelos seus próprios, inclusive, tem sido criticado por não saber governar”.

Porém, ela explica, o partido de Duque e os eleitores às vezes fazem parte da oposição, e o presidente precisa se dividir para conseguir aprovar as coisas no Congresso. “Ele tem perdido governabilidade desse jeito”, conclui.

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