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Mercenários americanos formaram 'esquadrão da morte' no Iêmen

Reportagem mostra como ex-militares de forças especiais dos EUA foram usados para eliminar políticos em conflito no Oriente Médio

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Gilmore (2º da esq. para dir) e Golan (3º): mercenários a serviço dos Emirados
Gilmore (2º da esq. para dir) e Golan (3º): mercenários a serviço dos Emirados Gilmore (2º da esq. para dir) e Golan (3º): mercenários a serviço dos Emirados

Militares norte-americanos com experiência nas guerras do Iraque e do Afeganistão, a maioria com treinamento em forças especiais como os fuzileiros navais, formaram grupos de extermínio que atuam em assassinatos políticos no Oriente Médio, especialmente no Iêmen.

A denúncia foi feita em uma reportagem do site norte-americano BuzzFeed, que entrevistou dois membros de um grupo que, no dia 29 de dezembro de 2015, tentou assassinar um político em Aden, no Iêmen, a mando do governo dos Emirados Árabes.

Alvo político

O alvo era Anssaf Ali Mayo, líder do partido Al-Islah em Aden. O partido é visto como o braço político do Daesh no Iêmen pelos Emirados Árabes.

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Leia mais: Unicef diz que quase 2.400 crianças morreram no Iêmen em 3 anos

A ONU, no entanto, assegura que a entidade faz uma representação pacífica dos muçulmanos. A jornalista Tawakkul Karman, membro do Al-Islah, foi uma das vencedoras do Prêmio Nobel da Paz em 2011.

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Programa de assassinatos

Quem fez o relato ao site foi Abraham Golan. Ele afirma ter nascido na Hungria, tem pais judeus (e, por isso, nacionalidade israelense) e se naturalizou norte-americano.

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"Havia um programa de assassinatos no Iêmen", disse ele ao BuzzFeed. "Eu comandei o programa. Fizemos mesmo. E tudo foi sancionado pelos Emirados Árabes dentro da coalizão."

A coalizão liderada pela Arábia Saudita, com apoio dos Emirados Árabes e outros países árabes, apoia o governo iemenita na luta contra os rebeldes da etnia houthi (que, por sua vez, são ajudados pelo Irã).

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Primeira missão

Segundo Golan, o assassinato de Mayo era a primeira missão do grupo. Sua empresa, a Spear Operations Group, contratou mercenários entre norte-americanos que faziam parte de forças especiais durante guerras no Oriente Médio. Para apoio, chegaram a contratar também ex-soldados da Legião Estrangeira francesa.

O site estima que, nos 17 anos das guerras do Iraque e do Afeganistão, o número de militares que passaram por forças especiais dos EUA subiu de 33 mil para 70 mil. Ao passar para a reserva, muitos se tornaram candidatos a grupos de mercenários.

Junto com seu sócio, o ex-fuzileiro naval Isaac Gilmore, Golan conseguiu um bom contrato com o governo dos Emirados Árabes e, após dias de deliberação, decidiu que o melhor meio de executar o político iemenita seria detonar uma bomba na porta de seu escritório em Aden.

Operação fracassada

A operação, acompanhada e registrada por um drone, foi um desastre. Um dos mercenários achou que o grupo estava sendo atacado e atirou. A bomba na porta explodiu, mas o grupo não conseguiu confirmar a morte do alvo.

Um carro-bomba que deveria distrair vigias que estivessem tomando conta do alvo detonou prematuramente e o grupo precisou fugir. Mayo desapareceu, mas voltou a surgir em público recentemente, segundo o BuzzFeed.

Mesmo com a falha, a missão abriu as portas para o programa de assassinatos contra o Al-Islah. Durante o ano de 2016, vários políticos e clérigos ligados ao partido foram mortos.

"Parece mesmo uma campanha orquestrada, de 25 a 30 assassinatos", disse Gregory Johnsen, da Fundação Arábia, ao BuzzFeed. Em 2016, ele fazia parte de um comitê da ONU que investigava a guerra no Iêmen.

Novos cargos

De acordo com a matéria, a Spear conseguiu um acordo para transformar os mercenários em membros oficiais das forças armadas dos Emirados Árabes.

Gilmore mostrou a plaquinha de identificação que o colocava como tenente-coronel do exército dos Emirados. Golan, por sua vez, virou coronel. Eles dizem que se tornaram militares para receber armas, equipamentos e assistência jurídica, se necessário.

Fim de carreira

Nos últimos anos, Gilmore abandonou a Spear e hoje trabalha em uma empresa que desenvolve produtos derivados da maconha, na Califórnia.

"Preferia ter ficado anônimo, mas falei porque isso vai se tornar público. Não vou ter como ficar de fora disso, então prefiro assumir o que fiz. Não vou me esconder. Esse ainda é o futuro da guerra", disse ele.

Golan assegura que sua empresa realizou vários assassinatos no Iêmen, mas não deu o nome das vítimas. "Quero que aconteça o debate. Talvez eu seja um monstro ou devesse estar na cadeia. Mas sei que estou certo", disse ele.

Veja abaixo imagens mostrando como a guerra destrói a vida de crianças no Iêmen

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