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México está perto de ser palco de crise igual à da Venezuela

Especialista diz que presidente eleito é mais aberto a imigrantes e, em curto prazo, pode haver crise humanitária na fronteira com EUA 

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Imigrantes chegam a Huixtla, em Chiapas
Imigrantes chegam a Huixtla, em Chiapas Imigrantes chegam a Huixtla, em Chiapas

Acusações de corrupção, violência e desvalorização dos direitos humanos. O atual governo mexicano do presidente Enrique Peña Nieto se depara com baixíssimos índices de popularidade e, pressionado pelos Estados Unidos, tem tentado impedir a entrada de imigrantes, vindos da América Central, que utilizam o país como passagem para território americano.

Na última semana, uma caravana de pelo menos 7 mil pessoas, com hondurenhos, guatemaltecos e salvadorenhos, ingressou no México, furando o bloqueio na fronteira, para irritação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A situação em curto prazo tende a se agravar, já que, em dezembro, o novo presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, tomará posse e, com um discurso mais voltado para os direitos humanos, já avisou que irá permitir a entrada de imigrantes da América Central. A opinião é de Miguel Ángel Lara, pesquisador e professor pela Universidade Iberoamericana, da Cidade do Mexico.

"A promessa de López Obrador é permitir a passagem de centro-americanos. Agora o problema será maior na fronteira norte. Os Estados Unidos não permitem a passagem deles e o México poderá ter em suas mãos uma crise humanitária. É tão grave como a crise migratória venezuelana."

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O discurso refratário a Trump, feito por Peña Nieto, em relação à construção do muro na fronteira, está se derretendo diante da realidade. Segundo Lara, Trump condicionou a manutenção das bases do Acordo (USMCA), novo tratado de comércio na América do Borte, Estados Unidos-México-Canadá, a algumas iniciativas do governo mexicano, como a de impedir a entrada de pessoas vindas da América Central rumo aos Estados Unidos.

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Lara conta que, no Estado de Chiapas (sul do México), para os imigrantes não se aproximarem da fronteira, forças policiais lançaram sobre eles inseticida contra o mosquito da dengue. É verdade que não houve repressão quando a caravana, que começou como uma marcha de algumas centenas de pessoas a partir de San Pedro Sula, cidade hondurenha considerada a capital mundial do crime. E que Peña Nieto adotou um discurso de acolhimento nos últimos dias.

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Mas Lara aponta que isso se deve mais à pressão da sociedade mexicana do que a uma agenda governamental de respeito aos direitos humanos. Os imigrantes receberam ajuda de muitos moradores das cidades pelas quais passaram. Ao chegarem a Huixtla, em Chiapas, ainda teriam de andar mais cerca de 1,7 mil km até a fronteira americana. Mas estavam dispostos. Os riscos da caminhada eram menos ameaçadores do que a fome e o medo com o qual se deparavam em seus países.

"Esta situação tem sido incômoda para o governo, mas não para a sociedade civil. O governo não tem dado ajuda humanitária, desobedecendo os protocolos para refugiados da ONU (Organização das Nações Unidas). São a sociedade civil e as organizações humanitárias que estão dando ajuda para a caravana de imigrantes."

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Programa sociais

Peña Nieto irá deixar o governo de forma bastante contestada. A disseminação de carteis de drogas aumentou o índice de violência. O governo não deu resposta sobre o desaparecimento de 43 estudiantes da escola rural de Ayotzinapa, no estado de Guerrero, após ataque realizado por criminosos e policiais corruptos, que supostamente os entregaram a um cartel local.

Como uma caravana de migrantes rumo aos EUA desafia Donald Trump e o governo do México

Além disso, o governo está sendo responsabilizado por um massacre de civis em um povoado chamado Tlataya, Estado de México, além de não ter esclarecido o desaparecimento e assassinato de 41 jornalistas. Outros 1986 foram agredidos.

Diante deste quadro, Lara conta que López Obrador tem prometido implementar programas sociais. Um deles justamente voltado a refugiados da América Central.

"Nesta quarta-feira (24) mesmo veio a informação de que o novo governo quer financiar projetos de desenvolvimento para a América Central. Mas em curto prazo tem se pensado em criar programas de emprego de centro-americanos no México."

A perspectiva, porém, é de que, assim que López Obrador assumir, o número de imigrantes que utilizam o México como corredor crescerá substancialmente. Será um momento de apreensão, já que o governo de Donald Trump deverá impedir a entrada da grande maioria, conforme afirma Lara.

"Trump já alertou a Patrulha de Fronteira e a Guarda Nacional. Mike Pompeo, secretário de Estado, disse há alguns dias que a caravana não entrará nos Estados Unidos, senão legalmente. Do contrário, atuarão no marco da lei."

E, ultimamente, o rigor da lei tem causado muito sofrimento, deportações em massa e separações de famílias. Apenas essa lei, porém, não tem resolvido problema de dimensão tão grande, conforme diz Lara.

"Este é uma questão com uma densidade social, política e migratória muito forte."

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