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Multidão recebe papa nas ruas do Rio em primeira viagem ao exterior

Internacional|Do R7

Por Paulo Prada e Philip Pullella

RIO DE JANEIRO, 22 Jul (Reuters) - O papa Francisco chegou nesta segunda-feira ao Brasil, dando início à sua primeira viagem internacional como pontífice, e foi cercado por uma multidão de admiradores no caminho da base aérea ao centro do Rio de Janeiro, onde mais de 1 milhão de pessoas devem acompanhar a visita do primeiro latino-americano a comandar a Igreja Católica.

Sorridente, o argentino Francisco foi recepcionando por uma comitiva de autoridades locais, incluindo a presidente Dilma Rousseff. Ele acenou para a multidão e entrou em um carro comum, no qual saiu com a janela aberta, no início de uma longa semana de encontro de jovens no país, que abriga a maior população católica do mundo.

No caminho, milhares de pessoas se concentraram nas calçadas. Em uma avenida congestionada, a multidão aproveitou um lapso da segurança e se aproximou do veículo, usando a ocasião para tirar fotos e encostar no papa. O carro chegou a ficar parado no meio do tumulto, até que os guarda-costas conseguissem afastar as pessoas.


A presença do papa no Rio de Janeiro é parte das celebrações da Jornada Mundial da Juventude. Logo depois de ser eleito papa, em março, o cardeal argentino Jorge Bergoglio havia se comprometido a participar da reunião juvenil.

"Deus desejou que a primeira viagem internacional do meu pontificado me trouxesse de volta à minha amada América Latina", disse Francisco, primeiro pontífice não-europeu em 13 séculos, num breve pronunciamento após o desembarque.


Apesar da novidade representada pelo novo papa, a Igreja enfrenta um momento de dificuldades bem conhecidas, como o avanço do secularismo, o crescimento de religiões concorrentes e a indignação de muitos fiéis com os escândalos financeiros e sexuais que abalam o Vaticano nos últimos anos.

A viagem também coincide com uma época de crescente insatisfação econômica e social no país, ainda a nação com maior número de católicos no mundo, mais de 120 milhões, apesar do crescimento das denominações evangélicas nas últimas décadas.


Em seu discurso em português, Francisco fez alusão aos protestos que levaram mais de 1 milhão de pessoas às ruas do Brasil em junho. "Peço a todos a delicadeza da atenção e, se possível, a necessária empatia para estabelecer um diálogo de amigos", afirmou ele.

PONTIFICADO PARA OS POBRES

Nos cinco meses desde que sucedeu Bento 16, que renunciou, Francisco vem agradando muita gente com seu estilo simples, rejeitando os luxos do papado e conclamando a Igreja a defender os pobres e a justiça social.

Nesta segunda-feira, durante o voo para o Brasil, o papa disse a jornalistas que o mundo corre o risco de perder uma jovem geração para o desemprego e defendeu uma cultura mais inclusiva.

"A crise mundial não está tratando bem os jovens", disse o papa, de 76 anos. "Estamos correndo o risco de ter uma geração que não trabalha. Do trabalho vem a dignidade da pessoa."

Autoridades brasileiras esperam que sua mensagem de solidariedade com os pobres e trabalhadores minimize a possibilidade de grandes protestos durante a visita.

Mesmo assim, 20 mil soldados, policiais e outros agentes foram mobilizados para a visita.

Embora algumas das medidas sejam rotineiras na visita de chefes de Estado, outras levam em conta o interesse popular despertado pelo papa, especialmente porque Francisco decidiu se deslocar na cidade em um papamóvel aberto, em vez do veículo blindado, e pretende em alguns momentos se misturar à multidão.

A Polícia Militar disse ter detonado uma pequena bomba caseira encontrada no domingo em um estacionamento de Aparecida, onde está o Santuário Nacional a ser visitado pelo papa na quarta-feira. Não ficou claro se o dispositivo, feito com um tubo plástico e fita adesiva, tinha relação com a visita.

Pequenos protestos isolados aconteceram no começo da noite de segunda-feira no Rio, e outras manifestações estão previstas durante a semana, organizadas principalmente por feministas, militantes da causa homossexual e outros ativistas que discordam de doutrinas sociais da Igreja.

Os recentes protestos no país, organizados via redes sociais por um disparatado conjunto de ativistas digitais, torna prováveis outras manifestações, embora numa escala bem menor do que em junho. Até agora, porém, predomina uma atmosfera adulatória.

Entre as pessoas aglomeradas no centro do Rio, onde Francisco trocou de veículo e passou a desfilar em carro aberto, pessoas subiram em árvores, pontos de ônibus e bancas de jornal. Milhares observaram das sacadas e janelas dos prédios.

"ENCONTRO COM CRISTO"

"Senti o chamado de Deus", disse a filipina Mari Therese Reyes, de 32 anos, que juntou dinheiro para a viagem durante seis meses. "Não só ver o papa, é um encontro com Cristo."

O peregrino alemão Markus Hemmert, de 38 anos, que passou três meses pedalando de Chicago ao Brasil, disse "amar muito" o papa.

Durante sua visita, o papa irá de helicóptero à Basílica Nacional de Aparecida, no interior de São Paulo, conversará com moradores na favela de Manguinhos, na Zona Norte carioca, celebrará missa campal na praia de Copacabana e participará dos eventos da JMJ em Guaratiba, bairro rural da Zona Oeste do Rio.

Na recepção ao pontífice, Dilma disse que seu governo compartilha da preocupação do papa com a justiça social, e chamou a atenção para os avanços contra a pobreza obtidos por ela e por seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

"Lutamos contra um inimigo comum: a desigualdade, em todas as suas formas", disse a presidente.

Dilma criticou as políticas econômicas de alguns países que, em nome da austeridade, acabam prejudicando os mais desassistidos.

"Estratégias de superação da crise econômica, centradas só na austeridade, sem a devida atenção aos enormes custos sociais que ela acarreta, golpeiam os mais pobres e os jovens, que são pelo mundo afora as principais vítimas do desemprego", disse Dilma, ecoando as declarações feitas horas antes pelo visitante.

A presidente salientou também o papel dos jovens nos recentes protestos. Um assessor presidencial disse que Dilma só discutirá as manifestações com Francisco se o papa abordar o assunto.

(Reportagem adicional de Felipe Pontes e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; de Bruno Marfinati, em São Paulo; e de Anthony Boadle, em Brasília)

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