Muros da "cidade vermelha" da Síria respiram liberdade
Internacional|Do R7
Saraqeb (Síria), 17 jan (EFE).- O grafite se tornou a válvula de escape para o sofrimento diário de um grupo de jovens de Saraqeb, a "cidade vermelha" da Síria, cujos muros quebraram o silêncio para servir de mensagens de ânimo para população. Saraqeb, próxima à fronteira com a Turquia, é conhecida por uma forte presença comunista, mas ao mesmo tempo acolhe grupos radicais islâmicos. Essa contradição aparece refletida nas pinturas de seus muros, onde é possível ver grafites ideológicos como os que estampam a mensagem "sim ao tribunal religioso". As pinturas com carvão, giz ou mesmo tinta estão onipresentes nos muros da cidade, onde três jovens optaram por imortalizar suas mensagens nas paredes frente aos cartazes das manifestações semanais. "Queríamos desenhar as feridas das pessoas nos muros para que ninguém as esqueça. A ferida quando esfria se transforma em uma lembrança distante, mas pintando ela em uma parede é resistente, o que significa que continuará sendo ardente e dolorosa", explica Somar Kanyo, um dos grafiteiros. O regime tinha ainda controle da cidade e os franco-atiradores disparavam desde terraços contra tudo aquilo que se movimentava quando um dos companheiros de Somar, Raed, decidiu fazer sua primeira pintura. "Escolhi um verso poético para me livrar do medo e escrevi 'sem tristeza, mas triste'", explica. Raed fez seu primeiro grafite sem problemas, o que encorajou seus amigos a escreverem suas mensagens nos muros das ruas e formar um esquadrão de grafiteiros. "Nossos muros já são livres, se libertaram antes de nós", afirma Ilyas, o terceiro integrante do grupo. A princípio, alguns residentes da cidade apagavam os grafites por medo de vingança por parte do regime. "Por isso, nos centramos em edifícios públicos, para que ninguém os apague", conta Raed. Em um passeio pelas ruas da cidade, Raed afirma que a maioria dos escritos não tem conteúdo ideológico. "São assuntos gerais, defendem as cidades afetadas pela guerra e lançam palavras de ordem patrióticas de unidade, convivência, fraternidade e igualdade". Nos muros de algumas escolas, os três jovens desenharam personagens populares como Bob Esponja e a Pantera Cor-de-Rosa, porque querem desviar a atenção das crianças "por conta da feiúra do mundo". "Queremos convencer de que há coisas pelas quais vale a pena viver nesta terra", afirma Raed. Embora o otimismo domine a maioria das frases, que pedem um futuro melhor, Ilyas mostra um dos grafites que pintou durante um momento de desespero por causa do aumento dos mortos. "Cansados estão os muros e tristes são as histórias, em um país em que a morte se tornou um hábito". Vinte meses depois da explosão da revolução, a população de Saraqeb se sente orgulhosa que seus muros respirem liberdade com essas mensagens, após terem sido no passado meros "cadernos do vento", segundo um grafite em um muro que não foi destruído. EFE sa-ms-ssa/ff/ma/tr (foto)