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No Brasil, Yoani Sánchez espera que Cuba libere viagens de outros dissidentes

A dissidente afirmou que gostou de ser recebida com protestos no aeroporto de Recife

Internacional|Do R7

Yoani Sánchez fez questão de posa com a bandeira brasileira ainda no aeroporto de Recife
Yoani Sánchez fez questão de posa com a bandeira brasileira ainda no aeroporto de Recife STRINGER/BRAZIL/REUTERS

A cubana Yoani Sánchez, autora do blog Geração Y, afirmou nesta segunda-feira no Brasil, onde chegou após finalmente ser autorizada a sair de Cuba, que espera que as fronteiras de seu país também se abram para outros dissidentes proibidos de viajar.

— Durante seis longos anos tentei 20 vezes sair do meu país de forma temporária e recebi sempre a mesma resposta: a senhora não está autorizada a viajar.

Yoani iniciou pelo Brasil uma viagem de 80 dias na qual pretende visitar 20 países da Europa e da América.

— Agora finalmente as fronteiras da ilha se abriram para mim e tenho esperanças que possam se abrir também para muitos outros colegas.


A cubana chegou de madrugada ao aeroporto de Recife, onde fez escala antes de dirigir-se a Salvador e continuar por terra até Feira de Santana, cidade do interior da Bahia na qual participou esta noite da exibição em praça pública do documentário "Conexão Cuba-Honduras".

Trata-se de uma produção cinematográfica sobre as restrições à liberdade de expressão em diferentes países que inclui uma entrevista da dissidente cubana e que foi dirigida por Dado Galvão, que organizou várias campanhas no Brasil para pedir que Yoani fosse autorizada a sair de seu país.


No ano passado, a cubana tentou visitar o Brasil para assistir à apresentação do documentário, mas, apesar de receber o visto, as autoridades cubanas voltaram a negar-lhe a permissão de saída. A viagem de Yoani, uma das vozes mais críticas da ilha, acabou sendo possível pela reforma migratória vigente desde o dia 14 de janeiro em Cuba que ainda não beneficiou outros dissidentes.

Segundo Yoani, ter uma opinião diferente do Governo em Cuba pode ter consequências "nefastas para os cidadãos", como detenções arbitrárias, vigilância, repressão e até prisão. Em seu blog, no qual publicou suas primeiras impressões da viagem, assegurou que: a "primeira surpresa foi no aeroporto José Martí de Havana, quando, após atravessar a área de emigração, vários passageiros começaram a se aproximar e dar mostras de solidariedade", que também recebeu na escala que fez no Panamá e em seu desembarque no Brasil.


No aeroporto de Recife "encontrei muitas pessoas que durante anos me apoiaram em meu empenho de viajar fora das fronteiras nacionais", acrescentou, ressaltando que foi recebida com "flores, presentes e até um grupo de gente insultando-me".

Tanto em Recife como em Salvador, alguns militantes comunistas se manifestaram contra a visita de Yoani ao Brasil mostrando fotografias de Fidel Castro e de Che Guevara, assim como cartazes nos quais a chamavam de "agente da CIA" e "mercenária" do serviço secreto dos Estados Unidos.

A dissidente afirmou que gostou de ser recebida com protestos.

— Me permitiu dizer que eu sonhava que algum dia em meu país as pessoas pudessem se expressar publicamente assim contra algo, sem represálias. Um verdadeiro presente de pluralidade para mim que chego de uma ilha à qual tentaram pintar com a monocromática cor da unanimidade.

Yoani também falou sobre sua surpresa com a velocidade da internet fora de Cuba e por poder visitar a rede sem páginas censuradas nem funcionários espionando atrás do ombro.

— A experiência da internet me deixou assombrada. Como é possível que meu país siga condenado à desconexão? A cada dia que nega o acesso em massa à internet para os cubanos, a ilha se afunda mais no século 20.

Além dos protestos organizados por partidos de esquerda, a visita também gerou polêmica pelas denúncias que a embaixada de Cuba no Brasil organizou um plano para vigiar os passos da dissidente e para divulgar um "dossiê" para difamá-la.

O Governo Federal admitiu que um funcionário da Secretaria da Presidência recebeu um CD com informações sobre Yoani na embaixada de Cuba em Brasília, que foi entregue a diferentes militantes de esquerda, mas que não utilizou o material de forma nenhuma.

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, rejeitou qualquer plano contra a dissidente e esclareceu que "o Brasil sempre disse que ofereceria todas as condições (para a visita) e as ofereceu". Yoani Sánchez terá no Brasil uma intensa agenda que inclui sua participação em conferências e debates sobre liberdade de expressão e direitos humanos, assim como passeios turísticos, pois quer "conhecer os brasileiros e seu estilo de vida".

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