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O que acontecerá se o planeta esquentar mais do que 1,5°C?

A meta proposta por cientistas não parece muito menor que 2,7°C, mas pode salvar milhões de vidas e garantir um futuro melhor

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Enchentes como as que atingiram a Bélgica neste ano podem ficar cada vez mais comuns
Enchentes como as que atingiram a Bélgica neste ano podem ficar cada vez mais comuns Enchentes como as que atingiram a Bélgica neste ano podem ficar cada vez mais comuns

Durante a realização da COP 26, a 26ª cúpula da ONU para mudanças climáticas, governos de cerca de 200 países se comprometeram a tentar reduzir o desmatamento, o uso de combustíveis fósseis e a emissão de gases do efeito estufa, para limitar o aumento da temperatura média do planeta nas próximas duas décadas.

As metas de emissões entregues por 124 países no início da conferência indicam a possibilidade de que essa média chegue a 2,7 graus até o fim deste século. O que não apenas está longe do ideal, mas pode ser catastrófico para a vida humana. Para os cientistas, reduzir a quantidade de gases do efeito estufa (como o gás carbônico e o metano) lançados na atmosfera tem de ser o principal objetivo.

Isso é essencial para atingir o melhor cenário previsto pelo último relatório do IPCC, o painel climático da ONU, divulgado em agosto, que seria de no máximo 1,5 grau a mais na temperatura do planeta. Mas por que isso é tão importante? Segundo cálculos dos especialistas do órgão, uma diferença de até 0,5 grau pode afetar profundamente a vida de até 420 milhões de pessoas.

Isso inclui moradores de regiões densamente povoadas que podem enfrentar longos períodos de seca ou enchentes cada vez mais frequentes, de cidades costeiras que podem ter seu território invadido por oceanos, ou de locais que vão sofrer cada vez mais com a escassez de alimentos.

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O que pode acontecer

"Um aumento de 2 graus já causa uma série de impactos gigantescos. É uma trajetória insustentável para o planeta, significaria uma mudança radical em todo o sistema climático – impactos na biodiversidade, na vida humana. Eventos climáticos extremos vão ser cada vez mais comuns", alerta o climatologista Carlos Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e um dos principais especialistas em mudanças climáticas do país.

Segundo o cientista, que participou da elaboração de outros relatórios divulgados pelo IPCC ao longo das últimas décadas, as consequências podem ser graves. "As ondas de calor no fim do século seriam seis vezes mais frequentes do que agora, haveria inundações até quatro vezes mais frequentes, sem falar em incêndios florestais. O nível do mar aumentaria 1,3 metro até 2100 e 6 metros nos próximos mil anos", detalha.

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Se o nível dos oceanos subir na medida apresentada pelo cientista, não apenas cidades costeiras poderão ser invadidas pela água e perder sua orla, mas também prédios e estruturas como quase todos os portos importantes do mundo poderão ser destruídos. Segundo um levantamento do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, 40% da população mundial vive a até 60 quilômetros do litoral. No caso do Brasil, esse percentual sobe para 60%.

Todas essas pessoas poderão ser afetadas ou até mesmo destruídas com um aumento do nível do oceano. Além disso, águas oceânicas mais quentes ampliam a força de tempestades tropicais, que cada vez mais têm se transformado em furacões de grande intensidade, especialmente na área do Atlântico Norte e do Caribe.

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Por tudo isso, a meta de controlar as emissões de modo que o aumento da temperatura fique em 1,5 grau é muito importante, de acordo com o cientista americano Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (Recn).

"Já temos problemas muito sérios, secas aumentando no Sudeste. O que está acontecendo na bacia do Paraná, por exemplo. Tem que tirar uma lição disso, mas tudo está sendo tratado como se fosse uma tragédia natural. Não é assim, tem origem humana no aquecimento global, e deve piorar. Por exemplo, se você desmata na Amazônia, perde os rios voadores [massas de vapor que transportam umidade] e perde as chuvas em São Paulo", relata.

O plano apresentado pelo Brasil durante a COP26, de parar o desmatamento ilegal até 2030, não seria suficiente, segundo o especialista. "A meta que o país anunciou foi a mesma do Acordo de Paris, usando como referência o ano de 2005, que foi o pico de desmatamento. Precisa aumentar a meta, é um país que pode fazer mais. Não é impossível parar o desmatamento, mas tem que querer, não apenas falar", alerta Fearnside.

O grande desafio é, em um primeiro momento, controlar as emissões de gases do efeito estufa na atmosfera, especialmente nos moldes atuais das atividades humanas. Segundo Nobre, conseguir reduzir as emissões em 50% até 2030 e zerá-las até 2050 é apenas uma parte da questão.

"Cerca de 70% das emissões vêm da queima de combustíveis fósseis, para geração elétrica, transporte, produção de aço e cimento. Outros 30% vêm da agropecuária. É preciso que haja uma mudança radical. Na segunda metade do século, teremos que retirar gases do efeito estufa da atmosfera. Florestas, por exemplo, retiram gás carbônico através da fotossíntese", diz.

Proteger um bioma como a Amazônia, por exemplo, não significa apenas manter e ampliar essa capacidade de retirada do gás carbônico da atmosfera. De acordo com Fearnside, a destruição da floresta tem um potencial para piorar a própria emissão de gases do efeito estufa para a atmosfera.

"A Amazônia está no centro disso porque tem um monte de carbono nas árvores, no solo. Se ele fosse emitido em um curto espaço de tempo, seria uma catástrofe para o mundo inteiro. O risco não é apenas da floresta amazônica – o Nordeste pode ser dizimado por secas mais graves. A costa brasileira tem uma grande população sujeita a aumento do nível do mar. Os tufões podem aumentar também. O Brasil precisa se juntar ao mundo", afirma o cientista.

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