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Projeto de canal na Nicarágua avança em meio a protestos e dúvida ambiental

Internacional|Do R7

Luis Felipe Palacios. Manágua, 11 dez (EFE).- O projeto para construir um canal interoceânico na Nicarágua, que começará em 22 de dezembro, avançou com a delimitação da rota e a elaboração de um censo sobre as propriedades afetadas, em meio a protestos por seu impacto ambiental e pelas dúvidas de viabilidade econômica. As obras começarão com a construção de estradas e portos nos litorais do Pacífico e do Caribe simultaneamente, apesar de os estudos de impacto social e ambiental não estarem prontos e de a concessionária chinesa HKND Group ter declarado deserta uma licitação para acessos à zona de construção. A rota está definida e os estudos técnicos já estão prontos, e isso é o que deu força ao projeto que despertou, por um lado, uma série de expectativas econômicas e de desenvolvimento e, por outro, a preocupação dos ecologistas e da população afetada. A Comissão do Grande Canal da Nicarágua e a HKND Group apresentaram em julho a rota da via interoceânica de 278 quilômetros, que calcula-se custará US$ 50 bilhões. O canal, que terá largura de 230 metros a 520 metros, com uma profundidade de até 30 metros, partirá da costa pacífica de Brito, no sudoeste da Nicarágua, e chegará à foz do rio Punta Gorda, no Caribe, após atravessar o Gran Lago em 105 quilômetros, segundo o plano oficial. O assessor chefe do projeto da concessionária chinesa, Bill Wild, explicou aos correspondentes estrangeiros em Manágua que começará construindo as estradas e os portos em cada litoral, pois antes de escavar é necessário levar para a Nicarágua caminhões com capacidade para 200 toneladas e escavadeiras para 600 toneladas, e o país centro-americano ainda não tem infraestrutura. Depois avançarão em direção ao centro do país até chegar ao Gran Lago, indicou Wild, engenheiro de profissão. No entanto, a concessionária do projeto ainda não apresentou um estudo de impacto ambiental nem os resultados do estudo de viabilidade financeira e comercial. Por isto, órgãos de defesa ambiental se mostraram preocupados, principalmente com o possível impacto no Gran Lago e nas florestas, incluída uma reserva da biosfera. Dezenas de organismos ambientais, agrupados no Grupo Cocibolca, entraram com uma ação para que a empresa chinesa não inicie as obras até que sejam apresentados os resultados das análises de impacto ambiental, social e cultural, e estejam prontos os estudos de viabilidade financeira, econômica e comercial. A análise de impacto ambiental do projeto deve estar pronta em "março ou abril" de 2015, segundo a HKND Group. Essas ONGs reafirmaram sua preocupação com os possíveis riscos e danos às condições ambientais, sociais e culturais do país, e em particular ao Gran Lago, e expressaram sua inquietação quanto à origem das fontes financeiras do megaprojeto. O empresário chinês Wang Jing, proprietário da HKND Group, disse que essa obra milionária será ecológica e amigável com o meio ambiente. "A rota 4 não foi escolhida por ser a rota menos custosa, mas por ser a rota de menor impacto social e ambiental", garantiu à Agência Efe o secretário-executivo da Comissão do Grande Canal da Nicarágua, Paul Oquist. Por seu lado, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, assinalou em outubro que o Gran Lago está poluído, e criticou quem se opõe ao projeto sob o argumento de que afetaria esse curso d'agua. "O Gran Lago está sendo usado como pretexto de que vai contaminar o canal. Esse lago está poluído!", exclamou o líder nicaraguense durante o encerramento de uma plenária da Conferência Permanente de Partidos Políticos da América Latina e o Caribe (Copppal) realizada em Manágua. Ali Ortega admitiu que em 10 de maio de 2007, quatro meses após ter retornado ao poder, descartou a construção de um canal que atravessaria o Gran Lago, a maior reserva de água da América Central, e que mudou de opinião após uma conversa com o teólogo, escritor e ambientalista brasileiro, Leonardo Boff, um dos que o convenceram sobre a necessidade do projeto. No meio dos avanços desse projeto, também surgiu uma crescente onda de protestos dos habitantes afetados diante dos eventuais desalojamentos e expropriações que ocasionaria a construção do canal, somado à advertência de povos indígenas que irão à Justiça internacional se não forem consultados sobre a obra. "Eu acho estranhas essas manifestações de protesto, porque estava bem claro. Está muito claro que, por onde passar o canal, tem que ser desapropriado", disse à Efe o presidente da Autoridade do Grande Canal Interoceânico da Nicarágua, Manuel Coronel Kautz. "E se vamos expropriar, a lei diz clarissimamente que devem ser devidamente indenizados. A Autoridade do Canal está aqui para garantir que os nicaraguenses saiam, se possível, melhor do que merecem. Não vejo porque é preciso se preocupar com isso", acrescentou. Além da fundação escavada do canal, a HKND Group deve construir, no meio da polêmica, estradas, dois portos, um lago artificial, um aeroporto, um complexo turístico, uma zona de livre- comércio, e fábricas de aço e de concreto. EFE lfp/cd/rsd

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