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Fiscal do Clima

Fernando de Noronha, um paraíso natural sustentável que ainda é movido a diesel

Plano do governo de tornar Noronha o “cartão postal” da geração de energia limpa no país esbarra em uma realidade difícil e bem distante de um modelo ideal

Fiscal do Clima|Luiza ZanchettaOpens in new window

Projeto Noronha Verde visa ampliar a geração de energia renovável no arquipélago

Um arquipélago no meio do Oceano Atlântico com pouco mais de 3 mil habitantes parece ser um lugar perfeito para se iniciar um processo de transição energética que sirva de modelo para outras regiões do Brasil. Seria mesmo um sonho viver em um lugar paradisíaco, cercado por uma riqueza natural preservada, praticamente intocada pelo homem, onde até a energia consumida fosse totalmente limpa, concordam?

O plano já foi desenhado e até regulamentado em uma portaria recentemente publicada pelo Ministério de Minas e Energia. O projeto Noronha Verde que visa ampliar a geração de energia renovável para alcançar até 85% de descarbonização da ilha quer tornar Fernando de Noronha a primeira ilha habitada na América Latina a alcançar essa marca. Mas, o que poucas pessoas sabem, é que atualmente a ilha é abastecida prioritariamente por energia a diesel. Um combustível fóssil, altamente poluente e que, junto com outros gases de efeito estufa, contribuem ainda mais para as mudanças climáticas que afetam o nosso planeta.

Uma ilha sustentável movida a diesel Luiza Zanchetta

Eu vi de perto alguns pontos de recarga para carros elétricos espalhados pela ilha, onde circulam hoje pouco mais de dez modelos desse tipo. Conversei com antigos moradores, taxistas e guias turísticos. Todos compartilham da mesma opinião e indignação sobre um processo, cuja falta de investimento e planejamento inviabilizam uma rápida e segura transição energética da ilha. Os próprios painéis solares que convertem a radiação solar em eletricidade, segundo os moradores, não representam nem 20% de toda a energia produzida em Noronha. Muitos inclusive reclamam que a tecnologia das baterias de carros elétricos chegou antes de fontes de energia capacitadas para atender tamanha demanda. Ou seja, na prática, o que se vê em Fernando de Noronha é uma maquete de algo que ainda pode demorar anos para se tornar viável.

Se a ilha vai servir de modelo para ações governamentais ainda mais ousadas e comprometidas com a redução da emissão de carbono e outros gases poluentes, devemos observar atentamente cada passo dado daqui para a frente. A propaganda parece com aquelas lindas edições de final de ano que emocionam quem assiste pela televisão. Resta saber se a realidade ao menos atingirá parte da expectativa porque até o momento, quem depende do próprio veículo a combustão e do uso de energia elétrica para morar dentro do arquipélago teme não ter condições financeiras parar arcar com toda essa mudança.

Sorte tem os tubarões de Noronha que passam a maior parte do tempo no fundo do mar, longe da construção da primeira usina solar flutuante da ilha também anunciada dentro da mesma operação para ser concluída até 2027. Encontrar uma solução sustentável para o desafio ambiental da região é um sonho que moradores e turistas do mundo todo que visitam o exuberante distrito estadual de Pernambuco querem ver de fato sair do papel.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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