Racismo ambiental e o legado do Brasil na presidência do G20
O combate às mudanças climáticas esteve no centro da agenda da cúpula dos chefes de Estado
“Nós nos reunimos no berço da Agenda de Desenvolvimento Sustentável para reafirmar o nosso compromisso de construir um mundo justo e um planeta sustentável, sem deixar ninguém para trás”. Trecho da declaração de líderes do G20.
Se existe uma espécie de antídoto para combater as mudanças climáticas, este seria, sem dúvida, a transição energética. Mas como aplicar doses eficientes desse remédio em países emergentes como o Brasil? Onde o chamado racismo ambiental ainda impera, promovendo injustiças sociais e ambientais que recaem de forma implacável sobre etnias e populações mais vulneráveis.
Sempre que se discute sobre justiça climática, vem à tona a triste e cruel realidade de comunidades marginalizadas e carentes de serviços básicos como água potável e saneamento. Impossível ignorar a máxima de que os que mais sofrem com os desastres climáticos são os que menos contribuem para isso.
E já que o encontro do G20 reuniu justamente as nações que mais produzem combustíveis fósseis, os causadores do aquecimento global, como não cutucar os governantes sobre a necessidade latente de cada um fazer a sua parte e de se comprometer verdadeiramente com as metas estabelecidas no Acordo de Paris?
O racismo ambiental e a desigualdade social foram temas de um painel durante o G20, reforçando o papel das narrativas negras no enfrentamento às mudanças do clima e na busca por justiça social.
No Brasil, essa forma de discriminação ambiental tem um impacto significativo na população que vive em favelas e periferias, historicamente com uma maioria da população negra. As comunidades indígenas e quilombolas também são afetadas por esse tipo de racismo, uma vez que têm seu território invadido e direitos violados.
No referido painel, uma das ativistas presentes comparou a emissão de combustíveis fósseis a uma arma de destruição em massa e alertou que se não tomarmos medidas eficazes para a redução de carbono, pessoas vulneráveis continuarão sofrendo com as escolhas feitas por grandes países. Algo que, em larga escala, certamente interfere na segurança alimentar e na biodiversidade do planeta.
O encontro presidido pelo Brasil deixa ainda como legados uma chamada de cooperação ambiental entre países e a necessidade de se discutir meios de como fazer uma transição energética justa com a garantia de que ninguém seja deixado para trás.
“O mundo requer não apenas ações urgentes, mas medidas socialmente justas, ambientalmente sustentáveis e economicamente sólidas. Por esse motivo, nós trabalhamos em 2024 sob o lema ‘Construindo um mundo justo e um planeta sustentável' –, colocando a desigualdade, em todas as suas dimensões, no centro da agenda do G20″, indica um dos trechos da declaração final da Cúpula do G20.
Confira outros trechos do documento final aprovado pela cúpula do G20, as 19 maiores economias do planeta, mais a União Europeia e a União Africana.
MEIO AMBIENTE - Na seara das mudanças climáticas, destaca a urgência de uma mobilização global, reafirma o G20 com o multilateralismo climático e o Acordo de Paris, reafirmando o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Reforça ainda a necessidade de implementação dos resultados da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas em Dubai, principalmente do primeiro Balanço Global do Acordo de Paris (GST-1), e reitera o compromisso de se atingir a neutralidade de carbono até meados do século por meio de contribuições nacionalmente determinadas ambiciosas.
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA - No mesmo tema, o texto reconhece a necessidade reduzir emissões dos gases de efeito estufa e reafirma a urgência de medidas de adaptação, fortalecimento do financiamento público e cooperação internacional para ajudar os países em desenvolvimento em sua ação climática e o apoio aos esforços para triplicar a capacidade de energia renovável e duplicar a média anual global de eficiência energética até 2030.
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