Como o debate entre candidatos à presidência se tornou decisivo nas eleições americanas
Parece, mas não é: os marqueteiros sabem que imagem é tudo
Heródoto Barbeiro|Heródoto Barbeiro
Os marqueteiros sabem que imagem é tudo. Um debate na televisão tem garantida a audiência de milhões de telespectadores de costa a costa. Os Estados Unidos esperam com ansiedade o debate para avaliar a performance dos candidatos republicano e democrata.
Os programas de governo não são diferentes, mas a performance dos republicanos na presidência não agradou boa parte da classe média, a chamada maioria silenciosa. Esta sabe muito bem que a decisão de quem vai governar o país não depende do voto popular, mas do colégio eleitoral.
Há questões graves que implicam a manutenção da supremacia mundial que o país conquistou logo depois da Segunda Guerra Mundial — e precisa ser mantida a qualquer preço.
O dólar é a moeda referência do mundo e a economia americana é a líder de negócios. Quando há qualquer ameaça nos países onde investidores têm dinheiro aplicado, eles correm para os Estados Unidos, o local considerado o mais seguro para os capitalistas.
Mas é preciso avançar, concluir novos acordos internacionais e resolver o dilema se as fronteiras devem ou não ser fechadas para produtos estrangeiros mais baratos.
O candidato republicano comparece ao debate abatido. Os eleitores fazem uma rápida leitura de sua expressão gestual. Ela é tão importante quanto o conteúdo de suas respostas.
Parece um velho, com roupas antigas, enfim, uma figura que não atrai, especialmente os eleitores mais jovens. Apesar de ele ser um político experiente, isso não é o bastante para um currículo.
Tampouco a estratégia no debate de rotular o candidato democrata como inexperiente. A simpatia, bom humor, boas fotos espalhadas na mídia são fatores que podem pesar na hora de o eleitor escolher o futuro presidente dos Estados Unidos.
E nisso o candidato do partido democrata leva vantagem. Suas fotos sorridentes, jovens, passam uma sensação de otimismo que os eleitores esperam de um novo presidente da República.
Se a estratégia vai dar certo não se sabe. O jogo é do tipo tudo ou nada. Ao partido perdedor cabe ficar na oposição por 4 anos, ou na melhor das hipóteses esperar a abertura de um processo de impeachment contra o presidente. Fato não inédito na democracia americana.
Ninguém pode imaginar que uma poderosa cadeia de comunicação vá mudar sua programação comercial para transmitir um debate entre candidatos à presidência da República dos Estados Unidos da América.
O que o cidadão classe média espera, depois de guardar o carro na garagem e jantar, é assistir ao show que é campeão de audiência. A rede CBS decide bancar uma mudança na grade de programação, dada a importância da eleição para o futuro do país.
Afinal, os Estados Unidos têm rivais em todo o mundo e precisam de alguém com um programa claro de governo, para onde levar o país. Ainda que o colégio eleitoral tenha a última palavra na escolha do presidente, o público é o responsável para pressionar os delegados.
O republicano Richard Nixon e o democrata John Kennedy são colocados frente a frente no estúdio diante das câmeras e de milhões de telespectadores. A eleição de 1960 tem forte apelo emocional, uma vez que, bem perto da Flórida, Fidel Castro chega ao poder em Cuba.
O debate é decisivo. Nixon, que segundo as pesquisas leva alguma vantagem, vê esse quadro mudar depois do debate. Kennedy sai-se melhor, conquista a atenção e o voto dos americanos e é eleito presidente dos Estados Unidos.
Tem pela frente desafios externos imensos — a disputa da hegemonia mundial com a União Soviética e a missão de impedir que o comunismo se propague na América Latina. Não termina o mandato, é assassinado em 1963.
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