Mulheres do Agro: ‘O lugar da mulher é onde ela desejar estar, mas, para isso, é necessário estudar, se capacitar e empreender
Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o Mundo Agro estreia um espaço dedicado a contar um pouco sobre a história de quem faz o agro acontecer

Sempre fui do mato. Lembro das minhas redações depois das férias: “Vi um bezerro nascer, tirei leite de vaca, vi uma cobra, pegamos manga e comemos na sombra de uma árvore, pesquei um peixe sem isca, corri com medo do touro e de pegar berne...” E a primeira vez em um rodeio em Itu?
Entusiasta do setor, fiz um curso na FGV, mas sentia que era pouco. Queria aprender mais. Decidida, tive meu currículo aceito no MBA da Esalq/USP, referência no ensino.
Minha mãe, Marisa Caramigo Gennarini, sempre me guiou e incentivou, dizendo: “A mulher pode tudo, a mulher tem uma força que só ela sabe. A mulher gera um filho, cuida dele sozinha, administra a casa e ainda brilha na sua profissão.” Foi com esse grande exemplo que trilhei meu caminho.

Além disso, tive a inspiração de outra referência importante: minha irmã, Juliana Gennarini, advogada, mestre e acadêmica do direito, que encontrou no interior de São Paulo o seu lar. Sim, cresci ao lado de mulheres inspiradoras.

A maioria dos meus professores na Esalq era composta por homens, mas havia uma mentora incrível na turma, a Soraia Fessel, com seu jargão: “Vamos abrir a porteira do conhecimento...” Eu acho que era a única jornalista nesse curso. E foi esse MBA que, além de abrir a porteira, abriu muitas outras portas e janelas para um sonho: escrever sobre o agro e mostrar que ele está em tudo.
A partir daí, fui convidada para visitar a produção de leite de uma fazenda parceira da Nestlé, estive na Itália com o Projeto Meu Tomatì e conheci uma plantação de tomates, além de todo o seu processo nas indústrias que exportam o produto para o mundo inteiro, inclusive para o Brasil.
Lá, conheci Helen Jacintho, pecuarista e engenheira de alimentos. Ela é outra grande referência para mim no setor agropecuário.
Me surpreendi ao participar, pela primeira vez, do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio. Todas renomadas, com um know-how e expertise sem igual. Quero registrar aqui meu carinho e admiração por Juliana Bonassa, Verônica Longhi, Luciane Gazeta e Mariana Rocha.
A cada quilômetro percorrido nessa estrada do agro, conheço mais mulheres espetaculares que acreditam e apoiam o meu trabalho, como Vera Longuini, da Ibraflor, e a Tatiana Carvalho, da Stellantis.
Foi com uma notícia exclusiva sobre a liberação de R$ 10 milhões em linha de crédito para as agricultoras pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado que Chris Morais me encontrou.
Gente… a Chris Morais é um exemplo de mulher no comando de uma fazenda, nos negócios sustentáveis, na sucessão familiar e, ainda, com uma história no hipismo.
Nosso dia é todo dia, mas hoje estreio no blog um espaço para contar histórias incríveis de mulheres que transformam o agronegócio no mundo.
Confira abaixo o artigo: As Mulheres do Agro: Muito prazer, Chris Morais.

“Eu sou Chris Morais, engenheira civil e produtora rural sustentável. Tenho a honra de ser a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da Câmara Setorial da Carne Bovina na Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, um marco importante, pois é lá onde se encontra todo o elo da cadeia produtiva, contribuindo para a formulação de políticas públicas e privadas.
Sou a terceira geração de produtores rurais. Minha mãe, Maria Ligia Morais, meus avós e meu pai são minhas maiores inspirações, e é a partir dos ensinamentos deles que busco, todos os dias, praticar as boas práticas na propriedade para deixar um planeta melhor para as futuras gerações.
Me formei em Engenharia Civil pela FAAP, mas cresci dentro de uma propriedade rural, o que sempre me proporcionou uma forte conexão com o campo. Hoje, moro em Barretos, no Aero Rancho, fazenda que é certificada no CAR (Cadastro Ambiental Rural) e possui excedente ambiental. Preservo as florestas e nascentes de água de acordo com o Código Florestal Brasileiro.
Nas áreas produtivas, conseguimos passar de meia unidade animal por hectare para oito unidades por hectare. Esse avanço só foi possível graças ao empreendedorismo, à ciência, à pesquisa e à tecnologia.
Meu projeto, que denominei “Mega Lavoura de Arroba”, foca na produção sustentável de carne e couro bovino, multicertificado e rastreado, com a rastreabilidade de cada animal individualmente. Ele é baseado nos institutos de pesquisa da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, incluindo o BOE 777 (sete meses de cria, sete meses de recria e sete meses de engorda). Este sistema é fundamental para atender aos contratos internacionais de exportação de carne e couro bovino para a União Europeia, Estados Unidos e China. Por exemplo, a comunidade europeia exige o BOE 02 dentes e a rastreabilidade de cada animal, incluindo até os fornecedores indiretos.
Como curiosidade, tenho um detalhe pessoal: gosto de rosa e, por isso, acabei pintando meus tratores, implementos e vagões dessa cor. Isso é apenas uma manifestação da minha identidade como mulher empreendedora e também faz parte de um planejamento financeiro que garante a continuidade do ciclo produtivo, com a recria e terminação do gado.
O lugar da mulher é onde ela desejar estar, mas, para isso, é necessário estudar, se capacitar e se empreender. A união de todos os elos da cadeia produtiva é essencial. Afinal, ninguém faz nada sozinho. Somente com colaboração e trabalho conjunto conseguimos garantir a segurança alimentar, a segurança dos rebanhos e a preservação das nascentes e florestas, mantendo a sustentabilidade ao longo das quatro estações do ano.
Tenho a honra de ser, por duas vezes, embaixadora do maior congresso de mulheres do agronegócio, o CNMA, quatro vezes embaixadora da AgriShow, a maior feira de agronegócios do Brasil. Também sou embaixadora do GAF (Global Agribusiness Festival and Forum). Além disso, fui premiada como campeã no Planeta Campo, como a Propriedade Rural Sustentável, e no Mulheres do Agro.
Esses reconhecimentos são muito importantes para mim, pois acredito que é essencial inspirar outras mulheres, seja elas filhas de produtores rurais ou que já integrem a cadeia produtiva, para que possam alcançar resultados semelhantes.
Outro detalhe importante: sou apaixonada por cavalos e já fui campeã brasileira de hipismo no adestramento clássico, o único esporte em que homens e mulheres competem em igualdade, assim como os cavalos, as éguas e os garanhões que participam da competição.
O mais importante de tudo isso é a união das pessoas em prol de um propósito maior: produzir alimentos com sustentabilidade ambiental e financeira, garantindo uma alimentação de qualidade e deixando um planeta melhor para as futuras gerações.
As boas práticas são o que fazem a diferença na vida das pessoas, e o etanol, proveniente da cana-de-açúcar, é o combustível mais sustentável do planeta. Além disso, a produção de borracha natural, vinda da seringueira, tem grande impacto na economia e na sociedade. A borracha não é usada apenas para pneus, mas também em luvas cirúrgicas, camisinhas e até em coxins de carro. A seringueira é uma árvore nativa brasileira, e grande parte do trabalho relacionado a ela é feito por mulheres.
Dentre as produções agrícolas que destaco, estão a pecuária de corte, a cana-de-açúcar, a seringueira e, também, a criação de cavalos. Tudo isso é realizado com base em ciência, empreendedorismo e pesquisa."