O que esperar da COP 30, que ocorrerá no Brasil?
O encontro global acontecerá em novembro no Pará, e discutirá ações para combater as mudanças climáticas

A 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30) reunirá líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil para discutir práticas de sustentabilidade e redução de emissões de gases de efeito estufa.
Serão debatidos, ainda, temas como financiamento climático para países em desenvolvimento, tecnologias de energia renovável, soluções de baixo carbono, preservação de florestas e biodiversidade, além dos impactos sociais das mudanças climáticas.
No Brasil, há grande expectativa para o evento, com o objetivo de destacar as iniciativas já em andamento no país, como o uso de energias renováveis, biocombustíveis e a agricultura de baixo carbono.
Confira abaixo o meu bate-papo com Gustavo Loiola, especialista em ESG e membro do UN Global Compact.
Falamos sobre como foi a COP 29, que aconteceu em novembro, em Baku, capital do Azerbaijão. Nesta edição, foi estabelecido um novo acordo sobre a Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG) de financiamento climático no âmbito do Acordo de Paris. Os países desenvolvidos deverão fornecer US$ 300 bilhões anuais até 2035 aos países em desenvolvimento, com o objetivo de apoiá-los na implementação de ações de redução das emissões de gases de efeito estufa (mitigação) e de adaptação aos impactos das mudanças climáticas.
Os países membros da COP têm até fevereiro de 2025 para apresentar NDCs atualizadas, com compromissos de mitigação para 2035, alinhados à meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento médio do planeta a 1,5ºC em comparação ao período pré-industrial.
O Brasil já entregou à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) sua nova NDC durante a COP29. O compromisso prevê o corte de até 67% das emissões brasileiras até 2035, em relação aos níveis de 2005.

Mundo Agro - Qual o balanço da COP 29?
Gustavo Loiola - Apesar dos avanços nos compromissos de transição energética e no financiamento, falou-se pouco sobre o Artigo 6 do Acordo de Paris, que trata do detalhamento do mercado global de carbono. Houve pouca discussão sobre o aumento das ambições das NDCs dos países; além disso, não se destravou a questão do financiamento climático e da transição justa, especialmente o financiamento para os países em desenvolvimento.
Mundo Agro - Mercado de carbono. Transição energética. Energia limpa. Aquecimento global. Como está o Brasil em tudo isso? Estamos alinhados com os demais países ou ainda tem muita coisa para melhorarmos?
Gustavo Loiola - O Brasil é um protagonista dentro dessas questões. Temos um potencial gigantesco no processo de energia limpa, porque nossa matriz energética é quase 100% renovável. Da COP para cá, já avançamos muito em relação ao mercado regulado de carbono, à agricultura regenerativa, à preservação de florestas, à redução e eliminação do desmatamento, e à preservação da biodiversidade.
Mundo Agro - Na sua opinião, quais áreas do agronegócio podem ajudar o Brasil a melhorar?
Gustavo Loiola - Acho importante reforçar que o agro brasileiro adota muitas práticas sustentáveis. O agronegócio tem um grande potencial para lidar com as questões climáticas de diferentes formas. Muitas dessas práticas já existem, estão em implementação, em pleno avanço e fazem parte do dia a dia do produtor. Por exemplo, a agricultura de baixo carbono, que é o plantio direto ou bioinsumos para produção, para aumento de produtividade, rotação de culturas. É algo que já é presente na rotina do produtor e que diminui a emissão de gases de efeito estufa.
Mundo Agro - O que você espera da COP 30 ?
Gustavo Loiola - Um evento como esse traz visibilidade para o Brasil, especialmente para a atração de investimentos. Torna-se, assim, um espaço para engajar empresas e organizações sociais. Isso potencializa muito a discussão sobre o tema no Brasil e atrai também o olhar de investidores e mercados estrangeiros. Ter uma COP na Amazônia também tangibiliza muitas das discussões que acontecem globalmente. Fala-se muito sobre a Amazônia, mas pouco se conhece sobre ela. Eu espero avanços nas questões relacionadas à bioeconomia, crédito florestal, tecnologias verdes, etc., para garantir que seja uma transição justa, e que exista o financiamento para os países em desenvolvimento, para que eles possam bancar essa transição, que é bastante importante.