Tecnologia e economia circular redefinem o futuro ambiental
Do resíduo à bioenergia, uma inovação que gera resultados concretos

O Grupo Multilixo tem se destacado como um dos principais exemplos de sustentabilidade e inovação no Brasil, transformando resíduos em oportunidades econômicas e ambientais.
À frente da estratégia de inovação, Lucas Urias, diretor de inovação e estratégia, detalhou como a combinação de tecnologia, rastreabilidade e economia circular permitiu criar soluções que vão da reciclagem em larga escala à geração de biometano, passando pela restauração de áreas degradadas.
Nesta entrevista à Mundo Agro, Urias explicou os desafios enfrentados, os resultados alcançados e os próximos passos do grupo rumo a um modelo de agronegócio mais sustentável e eficiente.

Mudno Agro: O grupo é apontado como um dos principais exemplos de ecoeficiência no Brasil. Quais foram os maiores desafios para implementar esse modelo sustentável em larga escala?
Lucas Urias: O maior desafio foi mudar a percepção de que resíduos são apenas lixo, superando a mentalidade de que tudo o que é descartado perde valor. Isso exigiu investimentos em tecnologia, desenvolvimento da cultura organizacional e integração de diferentes frentes de atuação. Hoje, a Flacipel, a maior planta de reciclagem da América Latina, não é apenas um centro de triagem, mas uma verdadeira “fábrica de matéria prima sustentável”. Ela utiliza sensores, separadores ópticos e inteligência de dados para extrair o máximo valor de cada material e transformar resíduos em oportunidades.
Mundo Agro: Como o grupo mede o impacto ambiental positivo gerado por suas operações?
Lucas Urias: O impacto é medido por meio de indicadores validados internacionalmente, como as certificações ISO 9001, 14001 e 45001, além do reconhecimento como Empresa B e do selo FSC. Esses referenciais garantem qualidade, sustentabilidade e segurança nas operações. Também monitoramos resultados práticos, como a redução de resíduos enviados a aterros, o volume processado e os créditos de carbono gerados pelas operações de biometano. Um exemplo desse reconhecimento é a Multi Bioenergia, que teve seus relatórios de desempenho apresentados no Energy Summit Awards, premiação do MIT que impulsiona inovações de impacto no setor energético.
Mundo Agro: Que parcerias (governamentais, privadas ou acadêmicas) foram fundamentais para o sucesso desse modelo sustentável?
Lucas Urias: As parcerias são fundamentais para consolidar o modelo de sustentabilidade do Grupo Multilixo. Um exemplo é a colaboração com a cidade de Jambeiro, onde está situada a UTGR, braço dedicado à destinação de resíduos e à geração de energia renovável. Essa integração garante benefícios diretos ao município, como desenvolvimento econômico, geração de empregos e soluções ambientais de longo prazo. Além disso, o alinhamento com políticas públicas, como a Lei nº 15.088 de resíduos sólidos, reforça o fortalecimento da cadeia de reciclagem. Na prática, essas iniciativas comprovam a viabilidade da economia circular, mostrando que é possível fechar o ciclo de forma sustentável, com impacto positivo para as comunidades e para o país.
Mundo Agro: A Flacipel processa até 8 mil toneladas por mês. Quais são os principais tipos de resíduos reciclados e como funciona o processo de separação dos 130 materiais?
Lucas Urias: Na Flacipel, mais de 130 materiais são separados com alto nível de pureza, incluindo material fino, papel, papelão, plástico filme, plástico rígido, sucata ferrosa, vidro e PET (garrafas). A triagem é feita por sensores, separadores ópticos e inteligência artificial, garantindo rastreabilidade e qualidade. O que não pode ser reciclado é transformado em CDR (Combustível Derivado de Resíduos) para a indústria cimenteira. Com mais de 1.000 toneladas em equipamentos, interligados por 40 quilômetros de cabos a uma central de monitoramento, a planta opera hoje 350 toneladas por turno — com potencial de expansão. Essa estrutura permite recuperar volumes expressivos e entregar insumos que competem com matérias-primas virgens no mercado global.
Mundo Agro: Como a rastreabilidade dos resíduos é garantida e por que ela é importante?
Lucas Urias: A rastreabilidade é garantida por sistemas de gestão certificados internacionalmente, como: ISO 9001, que assegura a qualidade dos processos; ISO 14001, que garante práticas sustentáveis e gestão ambiental. Além disso, cada etapa do processo é monitorada por sensores avançados, separadores ópticos e dispositivos IoT que permitem o monitoramento em tempo real de cada etapa do processo. Essa estrutura é impulsionada por equipes multidisciplinares e altamente especializadas, que integram conhecimentos em engenharia ambiental, qualidade e consultoria técnica, em total alinhamento com o Sistema de Gestão Integrado (SGI), garantindo o tratamento e a destinação adequada de todos os resíduos. Em constante evolução, o Grupo Multilixo tem ampliado o uso de tecnologias de ponta, incorporando Inteligência Artificial e Blockchain para aprimorar o nível de precisão, rastreabilidade e transparência em toda a cadeia de gestão de resíduos, consolidando a credibilidade, integridade e anti fragilidade do nosso modelo de economia circular.
Mundo Agro: A usina de Jambeiro evita 170 mil toneladas de CO₂ por ano. Qual a próxima meta?
Lucas Urias: O foco do Grupo Multilixo é ampliar continuamente o impacto positivo de suas operações. Na prática, isso significa otimizar a produção de biometano, expandir o uso de Inteligência Artificial em diferentes etapas da cadeia e integrar cada vez mais soluções de energia limpa à logística e à indústria. Com a estrutura já consolidada em Jambeiro, onde a usina de biometano evita 170 mil toneladas de CO₂ por ano, o próximo passo é incorporar novas frentes de reciclagem e reaproveitamento de materiais, fortalecendo a circularidade e ampliando a eficiência ambiental do modelo.
O objetivo é transformar a UTGR de Jambeiro em um hub de soluções ambientais, conectando energia limpa, inovação tecnológica e economia circular em um único complexo de referência.
Mundo Agro: Qual a porcentagem da frota do grupo que atualmente é abastecida por biometano?
Lucas Urias: Atualmente, cerca de 5% da frota do Grupo Multilixo é abastecida com biometano, um combustível limpo produzido internamente na usina de Jambeiro, considerada a primeira usina auto sustentável do país. Essa iniciativa faz parte da estratégia integrada do grupo para uma operação logística mais sustentável, combinando inovação e eficiência. O próximo passo é ampliar o uso de veículos movidos a energias limpas, incluindo biometano e veículos elétricos, fortalecendo ainda mais a eficiência energética e a sustentabilidade da operação. Paralelamente, dentro dessa estratégia, a renovação anual da frota com veículos Euro 6 reforça o compromisso com tecnologias de baixa emissão e alto desempenho, garantindo um modelo de transporte cada vez mais eficiente e alinhado às metas de redução de impacto ambiental.
Mundo Agro: Existe plano de expansão desse modelo para outras regiões ou empresas?
Lucas Urias: O Grupo Multilixo atua com soluções adaptáveis às especificidades de cada região brasileira, considerando tipos de resíduos, perfil industrial e características locais. Com presença consolidada como líder na gestão de resíduos no Estado de São Paulo, o grupo demonstra potencial para ampliar sua atuação, explorando diferentes contextos regionais. Essa abordagem permite expandir de forma estratégica e sustentável o impacto ambiental e econômico de suas operações, fortalecendo a economia circular em múltiplas frentes.
Mundo Agro: Como funciona o processo de restauração das áreas degradadas?
Lucas Urias: O processo de restauração de áreas degradadas começa com o planejamento da recuperação do solo e do ecossistema, seguido pelo plantio de mudas nativas, monitoramento da fauna e enriquecimento do solo, até que a área se torne autossustentável. O sucesso desse trabalho pode ser visto nos números da UR Florestal, braço de reflorestamento do Grupo Multilixo, que já plantou 10,5 milhões de mudas em mais de 70 fazendas, totalizando 7.000 hectares recuperados, o equivalente a quase 10 mil campos de futebol. Além disso, estima-se que 561 mil toneladas de CO₂ foram compensadas, comprovando o impacto ambiental, social e econômico da iniciativa. Além disso, o grupo também atua na descontaminação e restauração de solos, com experiência em áreas Classe I, que são aquelas com alto risco à saúde humana ou ao meio ambiente. Nesses casos, são aplicados processos físico-químicos e biológicos adequados aos contaminantes identificados, permitindo a recuperação segura e ambientalmente responsável dessas áreas.
Mundo Agro: Quais são os critérios para a escolha das áreas a serem recuperadas?
Lucas Urias: A escolha das áreas a serem recuperadas considera a relevância ecológica, priorizando locais que contribuam para a conectividade dos ecossistemas e a proteção de mananciais. Também são avaliadas regiões estratégicas para o propósito do Grupo Multilixo de entregar soluções cada vez mais sustentáveis, ampliando os benefícios sociais, ambientais e econômicos para as comunidades do entorno e garantindo que cada ação de restauração gere um impacto positivo e duradouro.
Mundo Agro: A compensação de carbono é validada por algum selo ou certificadora internacional?
Lucas Urias: A usina de biometano de Jambeiro, operada pelo Grupo Multilixo, é certificada pela Verra, no programa Verified Carbon Standard (VCS), o principal sistema voluntário de certificação de créditos de carbono do mundo. O projeto estima a geração anual de cerca de 170 mil toneladas de créditos, resultado direto da captura e do aproveitamento energético do biogás. Essa validação internacional garante a credibilidade das reduções de emissões e posiciona o grupo dentro dos mais altos padrões globais de economia de baixo carbono.
Mundo Agro: Quais são os próximos passos do grupo em termos de inovação ambiental?
Lucas Urias: O Grupo Multilixo deve continuar expandindo o uso de inteligência artificial em diferentes etapas da operação, desde a coleta até a triagem de resíduos. Também há perspectivas de ampliar a produção de biometano, explorar novos produtos a partir de materiais reciclados e usar monitoramento digital em projetos de restauração ambiental, de forma a tornar as operações mais integradas, eficientes e sustentáveis.
Mundo Agro: Existe intenção de internacionalizar esse modelo de sustentabilidade?
Lucas Urias: O Brasil é um dos territórios mais estratégicos do mundo para o desenvolvimento de soluções sustentáveis, pela diversidade ambiental, social e produtiva que oferece. Ainda há um enorme potencial a ser explorado internamente — do aproveitamento de resíduos urbanos e industriais, à geração de bioenergia e à restauração de ecossistemas. Mas, à medida que o modelo do Grupo Multilixo se consolida e se mostra escalável, abre-se também uma perspectiva natural de expansão para outros países da América Latina, especialmente aqueles que enfrentam desafios semelhantes em gestão de resíduos e transição energética. O foco, por enquanto, é fortalecer o ecossistema brasileiro e, a partir dele, projetar inovação e referência para toda a região.
Mundo Agro: Como o grupo enxerga o papel do setor privado na luta contra as mudanças climáticas?
Lucas Urias: O Grupo Multilixo entende que o setor privado deve assumir um papel ativo frente às mudanças climáticas. Reciclagem e gestão de resíduos vão além de ações ambientais e representam oportunidades de otimização, inovação e geração de valor econômico, fortalecendo cadeias produtivas e integrando soluções tecnológicas. Quando empresas combinam tecnologia, responsabilidade e estratégia, desafios ambientais se transformam em oportunidades reais de impacto positivo e desenvolvimento sustentável.
✅Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp
