Físico nuclear afirma preocupação com insatisfação de trabalhadores de usinas
‘Força de trabalho faz parte da cultura de segurança nuclear’, afirma Aquilino Senra, professor da UFRJ

O físico Aquilino Senra, Aquilino Senra, professor do Departamento de Engenharia Nuclear da Politécnica-UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirmou ao blog que é “preocupante” que a Eletronuclear negue vazamento na usina nuclear de Angra 2. A Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) confirma a existência do vazamento de líquido refrigerante no núcleo do reator.
Senra diz ainda que é importante que, como órgão de controle, a Cnen monitore de perto a questão, mas que é preciso haver respostas sobre a quantidade de litros vazados por dia e sobre a ciência da Cnen da falta de selos sobressalentes na usina de Angra 2 — como revelou a reportagem nesta sexta-feira (21).
O blog entrou em contato com Cnen questionando sobre a falta de selos, mas não obteve resposta até a conclusão deste texto.
Em nota, a Cnen informou que está monitorando a situação, por meio do Relatório de Atividades e Situação Operacional (RASO), emitido diariamente pelo Distrito de Angra dos Reis (DIANG).
Além disso, afirmou que os dados coletados indicam que “o vazamento interno no primeiro selo do vaso do reator se mantém estável e não compromete os critérios de segurança estabelecidos pelo projeto".
A comissão afirma ainda que uma situação semelhante já foi registrada em 2010 e tratada dentro dos protocolos técnicos.
Para o físico da UFRJ, é importante, neste momento, que os protocolos técnicos sejam explicados.
Um documento obtido pela reportagem aponta a necessidade de desligamento da usina para o reparo do anel que sela o vaso coletor no núcleo do reator o mais rápido possível, mas a Eletronuclear, além de alegar que o documento é antigo, não explicou a falta de material sobressalente nem apresentou novo protocolo válido para a operação.
Sob sigilo, servidores da usina afirmaram que o protocolo apontado pela reportagem ainda é o que consta como vigente dentro dos sistemas.
A Cnen atua internamente na usina com dois funcionários acompanhando as operações e, por isso, segundo o professor, também pode ser considerada coautora em um eventual acidente, caso fique comprovado que ela sabia dos riscos.
Um dos pontos de comum acordo entre a Eletronuclear, que gere o complexo de usinas em Angra dos Reis, a Cnen e os próprios trabalhadores que denunciam problemas internos de forma anônima, por medo de represália, é que há insatisfação dos servidores.
Para o professor, “a força de trabalho faz parte da cultura de segurança dentro de uma usina nuclear”, e a Cnen precisa se atentar ao que chamou de ‘situação preocupante’”.
Na quarta-feira (19), um grupo liderado do Stiepar (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica nos Municípios de Parati e Angra dos Reis), representado pelos diretores Augusto Emílio e Mayk Alves, reuniu-se com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Marco Antônio Amaro, para falar das preocupações e dificuldades que a categoria da base Angra vem enfrentando.
Segundo publicação do sindicato nas redes sociais, o assunto foram os problemas com o “clima organizacional da Eletronuclear”.
Na semana passada, um grupo de 27 supervisores de Angra 1 e 2 assinou um documento de três páginas enviado aos gestores no qual são inumeradas uma série de insatisfações com a perda de direitos dos trabalhadores das usinas.