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Com 8 mortes pela covid por hora, SP completa 1 ano em quarentena

Em momento mais crítico da pandemia e durante fase emergencial, Estado teve recorde diário de mortes e internações por covid-19

São Paulo|Guilherme Padin, do R7

São Paulo teve quarentena decretada em 24 de março de 2020
São Paulo teve quarentena decretada em 24 de março de 2020 São Paulo teve quarentena decretada em 24 de março de 2020

Na semana em que o Brasil deve chegar a 300 mil mortos por covid-19, São Paulo completa um ano em quarentena com 68.623 óbitos pela doença – ou aproximadamente oito a cada hora. O decreto de João Doria (PSDB) ocorreu em 24 de março de 2020, pouco menos de um mês após a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus no país, de um brasileiro que voltava à capital paulista após viagem a Itália.

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Foi também em solo paulista que começou a imunização contra a doença no Brasil: a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, que atua na linha de frente de combate ao novo coronavírus, recebeu a primeira dose da CoronaVac em 17 de janeiro, quase 11 meses após o primeiro caso confirmado no país.

Atualmente, assim como no início da pandemia, o estado mais populoso do país continua sendo o local com maior número de mortes por covid-19 e casos confirmados (2,3 milhões), mas também aquele que mais imunizou sua população: 3.665.216 pessoas foram vacinadas.

Após um sinal de controle diante da pandemia entre outubro e dezembro, São Paulo voltou a observar o avanço ainda mais potente do vírus e, um ano depois do decreto de calamidade pública, e se encontra no estágio mais crítico desde março de 2020.

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Além do recorde de mortes por covid-19 em um dia (1.029), registrado nesta terça-feira (23), o Estado também alcançou o número mais alto de internações da pandemia (29.039) na última segunda (22) e, no momento, há ocupação de 91,9% dos leitos de UTI paulistas e de 91,6% da Grande São Paulo.

O contexto de crise colocou o Estado em fase emergencial do Plano SP, que começou em 15 de março e com prazo inicial de duas semanas de duração.

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Pontos críticos

Médico sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Gonzalo Vecina Neto avalia que a falta de compreensão das pessoas e as consequentes aglomerações, bem como o dilema dos transportes públicos, contribuíram em peso para a crise vivida em São Paulo. 

“No primeiro semestre, a surpresa da população foi grande. A quarentena funcionou de forma adequada e conseguimos derrubar o número de casos por um bom tempo. Depois, o pessoal relaxou, e começamos a ter um aumento, que ficou evidente no segundo semestre e no final de ano, quando tivemos uma enxurrada de casos e o pessoal relaxou geral”, relembra o fundador e ex-diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),

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Para além da vasta população – a maior do Brasil – concentrada em centros urbanos, o professor relembra as aglomerações nas festas, bares e praias por São Paulo, e aponta uma crítica à gestão de João Doria (PSDB).

Para Vecina, o governo estadual demorou a entrar na atual fase emergencial do Plano São Paulo, com início em 15 de março. Isto porque após as festas de fim de ano e o feriado de carnaval, já se esperava o aumento significativo nos casos, mortes e internações em todo o Estado. 

“O governador demorou. E muitos prefeitos resistiram – alguns até agora – em aceitar que não tem outro jeito. É necessária a interrupção das atividades econômicas, e isso vai gerar desemprego se os governos não ajudarem os empregadores e não houver distribuição do auxílio aos mais pobres”, diz.

A respeito do transporte público, Vecina lamenta a impossibilidade de uma solução eficaz que aumentasse o isolamento e impedisse a alta concentração de pessoas nos mesmos espaços.

“A questão mais complicada de todas. Há medidas possíveis nos ônibus, como impedir pessoas de pé, mas não nos trens e metrôs. Pode aumentar a frota, mas o sistema de transporte da Grande São Paulo está saturado. Não conseguem diminuir efetivamente o número de pessoas no trem”, afirma.

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As únicas alternativas, segundo o sanitarista, seriam de fato aumentar as restrições ao funcionamento e atividades econômicas maior ainda, diminuindo a quantidade de pessoas no transporte, e o escalonamento de horários para cada setor da economia.

As aglomerações da população também são citadas por Marcelo Burattini, professor e infectologista da Universidade Federal de São Paulo. “A situação que vivemos hoje é decorrência do natal pra cá, em que o Brasil foi uma festa como se nada estivesse acontecendo”, diz.

Um estudo recente da Prefeitura de São Paulo corrobora com o apontamento dos especialistas: a população que saiu de casa também para atividades não essenciais foi a mais infectada, por diferença significativa.

Burattini também afirma que faltou uma campanha massiva das administrações municipais, estadual e federal de divulgação e informações para a população. “Aumentar as restrições não é o suficiente, se não informar as pessoas de maneira adequada e abrangendo a todos.”

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Vacinação em São Paulo

O governo de São Paulo anunciou em 11 de junho a parceria do laboratório chinês Sinovac com o Instituto Butantan pela produção da CoronaVac, vacina imunizante contra a covid-19.

Em 19 de novembro, cinco meses após o anúncio, o Estado recebeu a primeira remessa de vacinas – com 120 mil doses – a chegar ao Brasil.

Desde que a enfermeira Mônica Calazans recebeu a primeira dose em 17 de janeiro, das 3,6 milhões de pessoas imunizadas em solo paulista, 1.242.481 já receberam a segunda dose.

Embora o número seja alto em relação ao restante do Brasil, Gonzalo Vecina acredita que a falta de clareza no PNI (Plano Nacional de Imunização), do governo federal, permitiu falhas no critério de definição sobre quem estaria ou não na frente da fila de vacinação. Houve, inclusive, denúncias de autoridades e pessoas fora de grupos prioritários furando a fila da vacinação em estados de todo o país, como em São Paulo.

“O erro começou no Ministério da Saúde, que não deixou claros os critérios. Linha de frente precisa envolver a limpeza da UTI, por exemplo. Recebi reclamações de fonoaudiólogas que atendem na UTI e não estavam na lista. Isso ocorreu pela falta de experiência com assistência hospitalar de quem montou a lista de prioridade, e quando cai para as outras cidades recebem várias interpretações. Assim, algumas fazem de um jeito e outras fazem de outro”, avalia Vecina.

A produção da vacina também gerou mais um atrito entre João Doria e o presidente Jair Bolsonaro, que acusou Doria de usá-la para fins políticos.

O presidente também defendeu a não obrigatoriedade da vacinação e disse que não compraria a “vacina chinesa” (como se referiu ao imunizante em mais de uma oportunidade), em tom de resposta ao governador paulista. Posteriormente, Bolsonaro aprovou a compra da CoronaVac para aplicação em outros estados.

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O Estado de São Paulo teve seu primeiro caso – e de todo o país – confirmado no dia 26 de fevereiro: um homem de 61 anos, recém-chegado de viagem à Itália entre os dias 9 e 21 daquele mês, retornou ao Brasil e teve a infecção confirmada após passar por dois testes.

Após duas semanas, com o aumento no número de infecções por covid-19, João Doria determinou a suspensão das aulas nas escolas estaduais em 13 de março e recomendou o cancelamento de eventos. Três dias depois, a primeira morte oficial de todo o país foi confirmada: um homem de 62 anos faleceu em um hospital da zona sul da capital.

O estado de calamidade pública foi decretado em 24 de março, a princípio com duração até 7 de abril, mas a quarentena se estendeu e permanece até hoje. Até o fim de maio, o comércio seguiu fechado, com a abertura apenas de atividades essenciais – hospitais, farmácias, supermercados, postos e bancos.

Em 1º junho, com o início do Plano São Paulo, vários outros setores voltaram a funcionar sob restrições. Em novembro, diante das médias mais baixas de casos e óbitos e das quedas nas internações por covid-19, o Estado teve todas suas regiões entre as fases amarela e verde – esta última, a segunda menos restritiva entre as cinco – e o momento indicava controle sobre a pandemia.

Mas em 8 de janeiro, após as festas de final de ano e um novo avanço do vírus, quatro regiões de São Paulo retrocederam à fase laranja e 13 ficaram na amarela. O cenário ficou ainda mais crítico no dia 22, com o anúncio de sete regiões na fase vermelha e dez na laranja.

Dali em diante, à medida que os hospitais ultrapassavam os 90% de seus leitos de UTI ocupados e os casos e mortes atingiam números recordes, o Estado retrocedeu ainda mais no plano, tendo todas as regiões na fase vermelha no início deste mês.

Para Gonzalo Vecina, uma das razões para o Plano São Paulo não ter obtido total sucesso em seu objetivo foi a falta de entendimento a respeito da medida, o que fez com que as taxas de isolamento nunca alcançassem os 70% ideais. “Não foi compreendido pela população”, diz o professor.

Prestes a completar um ano de quarentena, o governo marcou a atual fase emergencial em todo o Estado, ainda mais restritiva que a anterior: funcionam somente as atividades essenciais, com horários reduzidos. Esta etapa durará até o próximo dia 30 (terça-feira). Com taxa de ocupação de leitos de UTI em mais de 90%, a expectativa é que a medida seja prorrogada.

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