Estudo pode revelar como a zika causa lesões no cérebro
Pesquisadores da USP encontraram molécula que, quando inibida, causa diminuição dos efeitos do vírus no sistema nervoso, como a microcefalia
Saúde|Da Agência Fapesp
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) encontraram uma molécula em camundongos fêmeas grávidas que, quando inibida, causa diminuição dos efeitos do vírus zika no sistema nervoso dos filhotes, como a microcefalia.
Leia também: Zika ainda é risco para grávidas no país, sobretudo em áreas pobres
A proposta terapêutica, ainda em modelos experimentais, foi uma das novidades apresentadas durante a Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) em Vacinas, iniciada em 22 de novembro e que será finalizada em 2 de dezembro, em Santos, litoral de São Paulo, com apoio da FAPESP.
“Quando tratamos as fêmeas prenhes contaminadas com um inibidor dessa molécula, conseguimos reduzir muito a quantidade de vírus que alcança o feto. Além disso, houve um aumento nas medidas do feto e do crânio dos filhotes”, disse Jean Pierre Schatzmann Peron, professor do ICB-USP e coordenador do estudo. O trabalho foi submetido a um periódico científico de grande impacto e ainda não tem previsão para publicação.
O mecanismo das doenças e as propostas para a criação de novas vacinas e terapias foram alguns dos temas abordados durante a Escola, que contou com 72 alunos do Brasil e de outros 19 países, além de 22 pesquisadores brasileiros e de instituições dos Estados Unidos, Itália, Reino Unido, Japão e Austrália.
Saib mais: Zika diminui, mas só 1/3 das crianças com microcefalia têm assistência completa
“A ESPCA tem um programa diverso e atualizado sobre vacinas. Começa com temas mais básicos, como imunidade nata, imunidade adaptativa e células dendríticas. À medida que o curso vai avançando, os assuntos se tornam mais complexos. Do meio para o final tem uma parte sobre testes clínicos, e encerra com vacinologia de sistemas. Então procuramos trazer pessoas com expertise nessas diferentes áreas”, disse Irene da Silva Soares, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e organizadora do evento.
“Apesar do grande avanço dos últimos anos nos estudos para vacinas contra HIV, malária, leishmaniose, doença de Chagas e outras, ainda é um grande desafio desenvolver vacinas para essas doenças. Surtos recentes como o de zika ajudaram a impulsionar a área, que tem evoluído muito. No entanto, o resultado final de novas vacinas no mercado ainda não é satisfatório”, disse Soares.
Vacina contra o zika
Uma vacina em estado bastante avançado de desenvolvimento é a que protege contra o vírus da zika. Depois de ter publicado os primeiros resultados em artigo na Nature em 2016, a equipe do brasileiro Rafael Larocca, do Centro de Virologia e Pesquisa em Vacina (CVVR) da Escola Médica Harvard, nos Estados Unidos, chegou à fase 2 de testes, em humanos (Para saber mais sobre a pesquisa leia http://revistapesquisa.fapesp.br/2016/07/14/esperanca-contra-o-zika/).
“O que falta para liberar a vacina para o mercado são os testes de eficácia, em que ela é testada em áreas onde a doença é endêmica e que se sabe que as pessoas estão expostas ao vírus”, disse o pesquisador, que fez mestrado e doutorado na USP com bolsa FAPESP. “A questão é que o vírus não está mais circulando, então não se pode fazer essa última parte dos testes.”
Durante sua apresentação, Larocca apresentou ainda resultados de um estudo inédito que mostra que, em fêmeas de camundongos prenhes, a vacina desenvolvida por seu laboratório pode proteger não apenas as mães mas também o feto. Além disso, os pesquisadores mostram que, seis meses após vacinados, os animais adultos deram origem a uma prole imune ao vírus. “Os primeiros resultados mostram que é criada uma proteção não apenas da mãe para o feto no útero, como também após o nascimento dos filhotes”, disse o pesquisador.
Segundo a organizadora do evento, as palestras expõem o grande desafio que é desenvolver novas vacinas. “Aqui falamos principalmente das que usam novas estratégias, como as vacinas baseadas em proteínas ou vírus recombinantes e vacinas de DNA”, disse Soares.
O evento conta ainda com nomes como Gabriel Victora, da Rockefeller University; Nigel Curtis, da University of Melbourne; Arturo Reyes Sandoval, da University of Oxford; Rino Rappuoli, da Glaxo Smith Kline (GSK); Silva Boscardin, do ICB-USP, e Ricardo Gazzinelli, da Fiocruz e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas (INCT-V).
As diferenças entre febre amarela, dengue, gripe, zika e chikungunya: