Sangue na urina é o principal sintoma do câncer de bexiga, doença que acomete Justus
Tanto o empresário quanto o apresentador Celso Portiolli foram diagnosticados com a doença, mais comum em homens
Saúde|Yasmim Santos*, do R7
O ex-apresentador Roberto Justus, de 67 anos, compartilhou, no último domingo (6), no Instagram, que vai passar por sessões preventivas de quimioterapia após retirar um tumor maligno da bexiga.
“Durante um check-up, que eu faço rigorosamente todos os anos, descobri um divertículo em cima da bexiga — um cisto que tinha uma coisa sólida dentro. Meu urologista resolveu que tínhamos que operar imediatamente porque poderia ser um tumor maligno", contou.
"Paramos, abrimos e descobrimos que era mesmo: eu tinha um câncer de bexiga invasivo, só que foi tirado a tempo, porque eu peguei no exame”, acrescentou o empresário.
Justus ainda diz que, apesar dos exames não terem apresentado anormalidades após o procedimento, as oito sessões de quimioterapia vão eliminar qualquer risco de que uma célula cancerígena tenha escapado para o organismo e garantirão “uma cura duradoura”.
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O urologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Hospital Israelita Albert Einstein Alex Meller esclarece que o ex-apresentador tinha uma má-formação genética, que é o chamado divertículo de bexiga.
“Imagine como se fosse uma bolsinha dentro da bexiga, como se ela tivesse uma bolinha ali, e, naquela região, às vezes, você tem uma metaplasia, que é uma mudança da célula maligna, então você pode desenvolver pequenos tumores dentro de divertículos, e isso tem um caráter genético forte”, conta Alex.
Foi graças a essa “bolsinha” que Roberto não teve de retirar toda a bexiga para impedir o avanço da doença. A presença incomum do tumor no divertículo permitiu a retirada apenas dessa “bolinha”.
No mesmo fim de semana, o apresentador Celso Portiolli, que foi diagnosticado com câncer de bexiga em 2021, compartilhou com seguidores que não participaria do Teleton devido a uma inflamação na bexiga, desencadeada pelo tratamento que ele está fazendo contra a doença, a imunoterapia BCG.
"Eu estou na terceira fase, em que a BCG é posta na bexiga para melhorar a imunidade. O papel da BCG é inflamar a bexiga e, nesta última semana, a minha respondeu até demais ao tratamento, e precisei me internar para cuidar dos efeitos, porque inflamou muito", diz.
De forma geral, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de bexiga é o mais comum do trato urinário, mais incidente em homens. A organização estima que, em 2022, o Brasil terá, em média, 7.590 casos da doença em homens e 3.050 em mulheres.
Esse tipo de câncer exige uma atenção especial aos sinais, já que não há uma frequência ou um grupo de risco bem definido.
“O tumor de bexiga não é considerado uma doença que obriga a fazer check-up anual, igual é o de próstata, porque a frequência dele não é tão alta e ele não tem, necessariamente, uma faixa etária definida, um antecedente genético bem definido”, explica Alex.
A doença, de acordo com o urologista, é encontrada quando o paciente faz uma investigação em outras partes do corpo, como a próstata, já que o profissional, normalmente, olha também a bexiga.
A doença é causada, geralmente, pelas impurezas que o indivíduo consome ao longo da vida, pois elas têm forte contato com a mucosa da bexiga. Aquelas com potencial cancerígeno podem dar origem a tumores.
“Esse revestimento que a gente chama de mucosa, os tumores sempre nascem de lá, da parte interna. E aí o tumor vai crescendo em direção ao restante da bexiga, que é formado por um músculo — que relaxa para ela encher e contrai para ela esvaziar”, explica o chefe de oncologia clínica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Ariel Kann.
Existem duas classificações para o tumor do câncer de bexiga. Quando ele está restrito ao revestimento interno, chamado de mucosa, é classificado como superficial. Alex adverte que esses casos correspondem a 85% dos tumores de bexiga e têm uma chance de 80% a 90% de cura.
“Quando tem um tumor que você descobre já invasivo [chegou ao músculo], esse tumor tem um potencial de cura de 50%, pois ele já é mais avançado”, alerta o urologista.
A forma mais comum de confirmar o diagnóstico da doença é o exame de urina ou o ultrassom da região, que é apontado por Alex como a possível forma de Justus ter encontrado o tumor.
Sintomas
O sintoma mais frequente da doença é o sangue na urina. Em casos mais avançados, o paciente também pode ter dor na bexiga.
“Às vezes pode ter emagrecimento relacionado ao tumor, que já é um quadro mais adiantado. Mas o quadro mais comum, disparado, é sangramento urinário”, relata Alex.
Ariel acrescenta que, “nos casos mais graves, quando o tumor, por exemplo, invadiu o músculo da bexiga, a pessoa fica com dificuldade para urinar, porque o músculo é responsável pelo relaxamento e pela contração. Então, se ele está acometido pelo tumor, a pessoa pode ter uma incontinência urinária, ou uma retenção urinária.”
Grupos de risco
Dados divulgados pelo Inca apontam o tabagismo como o principal fator de risco para o câncer de bexiga: de 50% a 70% dos casos são causados pelo hábito de fumar. Portanto, fumantes têm de duas a seis vezes mais chance de desenvolver a doença.
O etilismo — consumo de bebidas alcoólicas —, por sua vez, está ligado à piora dos tumores, ou seja, ele acelera a evolução maligna daquele tumor. Pessoas com retenção urinária também estão incluídas no grupo de risco, visto que segurar muito a urina pode causar infecções urinárias crônicas, que podem desencadear um tumor de bexiga.
“Pedra na bexiga causa irritação crônica na parede da bexiga, que é como se fosse uma feridinha que fica machucando a mucosa. Isso pode levar ao desenvolvimento do tumor ali”, informa o urologista.
Alex ainda acrescenta que, se o indivíduo usa sonda urinária de repetição, ou cronicamente, deve se atentar ao tempo que fica com ela, pois utilizar por longos períodos pode causar um tumor.
Pessoas que trabalham sem a devida proteção com solventes, corantes têxteis ou petroquímicos, por exemplo, também correm maior risco de desenvolver a doença, de acordo com Ariel.
Tratamento
Os tratamentos mais comuns são aos que Celso Portiolli e Roberto Justus estão sendo submetidos. Para os tumores superficiais, como o do apresentador do SBT, a imunoterapia com a BCG é a forma mais eficaz de garantir que o câncer não retorne.
A vacina BCG é a mesma utilizada na prevenção da tuberculose, mas com um vírus atenuado, que vai causar inflamação na bexiga.
“Quando injetamos a bactéria atenuada na bexiga da pessoa, é criada uma reação inflamatória na região. Essa reação inflamatória atrai um monte de células de defesa do organismo, e essas células de defesa passam a reconhecer células tumorais e a atacá-las”, explica Ariel.
Já os tumores invasivos exigem sessões de quimioterapia para eliminar qualquer vestígio da doença.
Por fim, Ariel recomenda que os pacientes, em caso de suspeita da doença, procurem um profissional especializado em câncer de bexiga (urologista ou oncologista) o mais cedo possível, visto que o diagnóstico precoce aumenta a chance de cura.
* Estagiária do R7 sob supervisão de Lucas Ferreira
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