Lula vai na contramão de lideranças mundiais ao atacar Israel por ação contra o grupo terrorista Hamas
Presidente classificou as ações israelenses de 'terroristas' e foi duramente criticado por especialistas e lideranças do país
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Ao classificar ações de Israel de "terroristas", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adota uma posição contrária à de líderes de grandes potências, como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Itália e França. A avaliação de representantes da comunidade judaica é de que as declarações de Lula reduzem a relevância diplomática do Brasil em contribuir com o fim do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou nesta terça-feira (14) que as acusações que estão sendo feitas contra Israel são "absurdas" e que o país age em consonância com o direito internacional ao se defender dos terroristas do Hamas. A declaração de Scholz foi feita horas depois de o presidente brasileiro dizer que o "comportamento de Israel fazendo o que está fazendo com criança, hospital, com mulheres [...] é igual ao terrorismo".
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"Israel é uma democracia. Temos que deixar isso bem claro [...]. É um país comprometido com os direitos humanos e a lei internacional e age de acordo com eles. E esse é o porquê das acusações feitas contra Israel serem absurdas. Não pode haver dúvida quanto a isso", afirmou Scholz, nessa terça-feira, em resposta ao presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que chamou o governo israelense de "fascista".
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Na segunda-feira (13), o premiê britânico, Rishi Sunak, também reconheceu que Israel "deve ser capaz de se defender contra o terrorismo, restaurar a sua segurança e trazer os reféns para casa", desde que aja dentro do direito internacional. Na avaliação de Sunak, o "terrível ataque a Israel" promovido pelo Hamas foi motivado não apenas pelo ódio, mas pelo medo de que o governo israelense viesse a "normalizar as relações com os seus vizinhos e que desse esperança de um caminho melhor, mais seguro e mais próspero".
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao defender as ações israelenses, também pondera a necessidade de se manter na linha do que prevê o direito internacional. "Israel combate um inimigo integrado na população civil, o que põe em risco pessoas palestinas inocentes. Tem a obrigação de distinguir entre terroristas e civis e de cumprir integralmente o direito internacional", disse, no dia 9.
Ainda em outubro — dias após o Hamas realizar o ataque-surpresa a Israel que culminou na intensificação do conflito —, Biden e os líderes da Alemanha, Grã-Bretanha, França e Itália emitiram uma declaração conjunta em que condenavam as ações terroristas e expressavam apoio aos israelenses.
"Permaneceremos unidos e coordenados, juntos como aliados e como amigos comuns de Israel, para garantir que Israel seja capaz de se defender e, em última análise, estabelecer as condições para uma região pacífica e integrada do Médio Oriente", diz a declaração. Além de Biden, Scholz e Sunak, assinaram o comunicado o presidente francês, Emmanuel Macron, e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
Análise e repercussão
Representantes da comunidade judaica no Brasil temem que as falas de Lula diminuam a relevância diplomática brasileira na busca por soluções do conflito. Há também o temor de que as críticas dificultem a repatriação de novos grupos de brasileiros que ficaram na Faixa de Gaza e que queiram retornar ao Brasil em algum momento.
"É uma pena que o governo do Brasil, diante da tragédia da guerra, perca o equilíbrio e a ponderação, reduzindo a possibilidade de contribuir de maneira decisiva e propositiva com negociações entre as várias partes no conflito", declarou o Instituto Brasil Israel (IBI), e completou que a acusação feita pelo presidente "reforça os extremistas de ambos os lados e enfraquece as partes que lutam por um futuro de coexistência para israelenses e palestinos".
O presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, classificou de "equivocadas e perigosas" as falas de Lula. "Além de equivocadas e injustas, falas como essa do presidente da República são também perigosas. Estimulam entre seus muitos seguidores uma visão distorcida e radicalizada do conflito, no momento em que os próprios órgãos de segurança do governo brasileiro atuam com competência para prender a rede terrorista que planejava atentados contra judeus no Brasil", disse Lottenberg. "A comunidade judaica brasileira espera equilíbrio das nossas autoridades e uma atuação serena que não importe ao Brasil o terrível conflito no Oriente Médio", acrescentou.
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O Grupo Parlamentar Brasil–Israel e a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional emitiram uma nota conjunta em que repudiam o posicionamento do presidente e afirmam que a condução "leva o Brasil a se apequenar no cenário mundial entre os países desenvolvidos e democráticos".
ONU
Lula chamou de "inadmissível" o fato de ainda não ter sido encontrada uma solução para o conflito. Em sua avaliação, o Brasil fez um trabalho "extraordinário" à frente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em outubro. Nesse sentido, ele voltou a criticar o direito de veto dos integrantes permanentes do órgão. "A ONU precisa mudar", comentou. "A ONU de 1945 não vale mais nada em 2023."