Às 6h de um sábado de sol e céu azul em São Paulo, ele já estava de pé. Na noite anterior, após uma semana de compromissos profissionais e agenda cheia, um filme prendeu sua atenção e foi dormir depois da 1h. Às 8h10 já estava no comitê da campanha, localizado no Itaim Bibi, zona sul de São Paulo. Com calça jeans clara, tênis e camisa polo cinza, seu destino naquele sábado, 13 de setembro, era Campinas, interior paulista. O objetivo era realizar uma carreata e, na sequência, conceder uma entrevista a um jornal local. Uma típica agenda de candidato.
No entanto, o personagem em questão não tem seu rosto estampado em adesivos e não concorre a nenhum cargo público. Trata-se de André Skaf, 33 anos, um dos cinco filhos de Paulo Skaf, esse, sim, candidato a governador de São Paulo, pelo PMDB.
Nessa data, André era apenas um da família Skaf e representava seu candidato na carreata organizada em Campinas. Com dois de seus filhos, Antônia, cinco anos, e Leon, três — ele é pai ainda de Eduarda, sete meses —, André percorreu diversas ruas da cidade do interior em cima de um carro de som. Após ajudar a pendurar alguns banners com a foto de seu pai no caminhão, partiu para mais de uma hora de carreata. No caminho, acenava para algumas pessoas enquanto cantava, baixo, trechos das músicas da campanha de seu pai.
"Esse ano a gente vai ganhar! Olha só. As pessoas estão se mobilizando, querem mudanças", disse comemorando a quantidade de carros que apareceram para o evento.
Mais cedo, durante a viagem, enquanto dirigia até Campinas, André promoveu uma aposta. "Quantos carros você acha que vamos ter na carreata?", perguntou. Ele chutou 150. Após o evento, um dos organizadores disse que acredita que havia entre 160 e 170 carros. "Acho que tinha até mais... Uns 200, 250 carros", disse sem ressentimento de perder a aposta.
No mesmo dia, seus quatro irmãos e seu pai também percorriam ruas de São Paulo para pedir votos e divulgar a campanha. A data foi marcada por carreatas em mais de 60 municípios e os filhos fizeram Skaf fisicamente presente em pelo menos parte dessas cidades.
Essa multiplicação dos Skafs no período eleitoral não foi aleatória e não marcava apenas um grande dia de mobilização da campanha. É planejado e a participação dos filhos na candidatura vai além de aparições em carros de som.
De olho nos votos de importantes colégios eleitorais do Estado — Skaf aparece em segundo na disputa ao governo nas pesquisas de intenções de voto —, os filhos assumiram agendas próprias na campanha e passaram a ser responsáveis por visitar diversas cidades. André explica que todos têm três funções na candidatura do pai.
— Uma função é ir às regiões escutar os problemas e tentar traduzir isso dentro do plano de governo com mais assertividade. A gente fala com liderança social, liderança empresarial, liderança política, a gente escuta as demandas. Outro papel é que nós temos que juntar nossos colaboradores e as pessoas que acreditam na gente para que elas se mobilizem dentro da nossa agenda. [Por fim], participamos de algumas entrevistas de rádio, jornal.
Família reunida
André é responsável por atuar na região de Campinas. Paulo, 34 anos, cuida de Sorocaba; Raphael, 32, ficou com a Baixada Santista; e Antoine, 30, visita a região de Bauru. Esses locais também não foram escolhidos totalmente ao acaso.
— São regiões muito populosas. Se você pegar essas cinco regiões administrativas mais a grande SP e a cidade de São Paulo, estamos falando de mais de 80% dos votos válidos. Na região administrativa de Campinas, são 4,5 milhões de votos, quando você a estende para Rio Claro, Piracicaba e Limeira. A região administrativa de Sorocaba são 2,5 milhões; a de São José são 2,2 milhões; a Baixada [tem] 1,6 milhão.
O empenho na campanha realmente atingiu — quase — toda a família. Luzia, mulher de Skaf, é a única que permanece mais distante da atuação pública. "Minha mãe é mais reservada, preserva mais esse lado da família”, explica André.
Já Antônia e Leon, netos do candidato, chegaram para o evento com o adesivo da foto de Skaf colado no peito. Animados, os dois cantaram trechos das músicas da campanha, mas logo tiraram os adesivos. "O vovô está amassado", disse Leon olhando para a camiseta que havia formado um "vinco" no rosto de Skaf. Ao chegar ao local da carreata, Antônia esboçou um pequeno momento de frustração: "O vovô não vem?". Logo se distraiu com uma bandeira e posou junto com André para fotos com militantes que os aguardavam para o evento.
Nesse horário, André já havia conversado rapidamente com o pai por telefone. Trataram de assuntos profissionais. Mais tarde, ansioso com o resultado da carreata de São Paulo — mais de mil carros eram esperados — André voltou a falar com o pai enquanto fez uma parada para abastecer o carro. Voltou para o veículo animado. "Parece que foi boa mesmo lá em São Paulo!". Os dois costumam conversar por telefone cerca de cinco vezes por dia.
— A maioria das vezes é sobre a campanha mesmo, mas meu pai liga muito para a gente. Liga para dar bom-dia, para dar boa-noite.
Discurso único
O tom de voz é mais sereno, mas é possível perceber que as ideias são as mesmas. André possui as mesmas críticas do pai em relação à atual gestão de São Paulo e reforça o discurso de que a população quer uma mudança. Ele confirma também que foi por essa insatisfação que o pai resolveu se filiar a um partido e entrar na política.
— Não foi uma decisão fácil – lembra.
No entanto, decidir encampar a campanha e assumir agendas próprias, pareceu algo natural para os filhos. André explica que a iniciativa partiu deles.
— A gente é muito próximo do nosso pai e a gente debate muito os problemas. Não teria razão para ser diferente. A gente se sente à vontade de conversar com as pessoas, de levar a mensagem.
Às 11h48, a carreata terminou. Atrasado para realização da entrevista no jornal local, André preferiu remarcar o compromisso. "Vou voltar aqui ainda", explicou. Compromisso de campanha. Até dia 5 de outubro, o ritmo de viagens deve continuar intenso. A família tem poucas semanas para transformar essa multiplicação de Skafs em multiplicação de votos. Esperança de campanha.