Especialista diz que atentado em Paris tem "conotação muito mais política e econômica do que religiosa"
Sede do jornal satírico, Charlie Hebdo, foi atacada e 12 pessoas morreram
Internacional|Ana Cláudia Barros, do R7
Doze pessoas morreram e outras dez ficaram feridas em um atentado contra a sede do jornal satírico, Charlie Hebdo, em Paris, nesta quarta-feira (7). A autoria do ataque ainda é desconhecida, mas a motivação mais provável é o fato de o jornal ter publicado, recentemente, uma caricatura do profeta Maomé.
De acordo com uma testemunha, os dois supostos autores do ataque gritaram a frase "vamos vingar o profeta".
O R7 conversou com a antropóloga Lidice Meyer, que estuda ciências da Religião na Universidade Presbiteriana Mackenzie, para esclarecer alguns fatores do atentado.
Conotação política
Para Lidice, os atentados têm uma conotação muito mais política e econômica do que religiosa, uma vez que o Corão prega a relação pacífica entre as pessoas.
— A conotação é mais política do que religiosa no sentido de que, hoje, muitas vezes, o ser islâmico é a mesma coisa que ser pertencente a alguns Estados.
Diante disso, “acaba-se defendendo não apenas a religião, mas também uma postura política, um governo”.
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“Islamofobia”
“No 11 de setembro, após o ataque, toda pessoa que tinha nome árabe ou aparência árabe ou que usasse véu, normalmente, era tratada mal nas ruas, lojas, aeroportos. Isso é um perigo e pode voltar a acontecer, sim”, afirma a especialista.
— Infelizmente, há um risco muito grande de aumentar a hostilidade [em relação a muçulmanos]. O maior problema é acontecer algum ataque de retaliação contra muçulmanos.
“O grande problema que vejo [no ataque de hoje] é que, com o próprio presidente da França já declarando que isso é uma coisa religiosa, com toda imprensa também declarando coisas assim, isso tende a aumentar a xenofobia no País, que já é muito grande”, diz Lidice.
— Nem todo islâmico é, necessariamente, um terrorista. A grande verdade é que normalmente não é. O Islamismo não prega esse tipo de atitude. O problema é que há atualmente diversas facções dentro do Islamismo. Diversos movimentos minoritários também. E, na maioria das vezes, são esses movimentos minoritários que estimulam esse tipo de prática.
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Violência
“O que observamos é que há movimentos minoritários dentro do islamismo em que há uma má compreensão do Corão, já que ele não traz diretamente a necessidade de uma agressão física. Isso é passível. O Corão dá a possibilidade, mas essa é a última possibilidade. Deve-se tentar primeiro resolver pacificamente o problema”, diz ela.
— Pode ser que a reincidência da charge seja uma agressão da revista à religião e isso pode ser interpretado como uma liberação para uma reação violenta. Mas como falei, são interpretações do Corão.
Caricatura
“O Corão não tem restrição quanto a Mohamed. Mas existe restrição em relação à imagem de Deus (Alá). Mohamed é o maior profeta. Ligado a ele está sempre aquela aura de santidade, de perfeição. Qualquer charge, qualquer figura que possa ser considerada desrespeitosa, com certeza, agride a religião”, explica a especialista.
— Vale lembrar que o jornal agride não só o Islamismo, mas todas as religiões.